Vista Alegre: O bairro que nasceu de uma aldeia industrial

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Rua dos Álamos, Vista Alegre, Ílhavo.

O presente roteiro decorre pelo antigo bairro operário da Vista Alegre, o qual começou a ser desenvolvido há 199 anos, ou seja, em 1824, ano em que José Ferreira Pinto Basto resolveu criar, no lugar ilhavense da Vista Alegre, uma fábrica para produzir cerâmica e vidro, que se especializou no fabrico de porcelana artística, decorativa e utilitária, fábrica que ainda hoje existe sob a designação de Fábrica da Vista Alegre.

Por Manuel Cardoso Ferreira (texto e fotos) *

O Bairro Operário da Vista Alegre é, no presente e em todo o país, um dos poucos bairros do género, tendo sido o primeiro criado por iniciativa totalmente privada e filantrópica.
Nos seus tempos áureos, este bairro era uma aldeia industrial, inserida numa imensa propriedade (Quinta da Vista Alegre), autossuficiente e isolada dos aglomerados urbanos vizinhos, nomeadamente Ílhavo e a Gafanha da Boavista. Para além da fábrica e de todo um bairro estruturado com ruas arborizadas e diversos tipos de habitação, havia um conjunto de serviços essenciais para o quotidiano dos seus habitantes, como creche e escola primária, escola artística (pintura, desenho, modelação e música), posto de assistência médica, cantina, garagem, bombeiros privativos, parque desportivo, teatro e banda de música. A complementar tudo isso, no bairro já existia uma monumental capela e um palacete, aos quais se posteriormente se juntou um museu.

Muito do que hoje se encontra no bairro resulta das obras de renovação e ampliação executadas nos primeiros anos da década de 1920, realizadas no âmbito das comemorações do primeiro centenário da fundação da Fábrica da Vista Alegre.
Nessa altura, o bairro recebeu diversas infraestruturas, tendo sido dotado com eletricidade, saneamento e recolha de lixo. Ao nível da habitação, foram construídas quatro casas para chefes de serviço, 17 casas para operários e seis casas para empregados e mestres. A maioria destas novas habitações, unifamiliares, estavam dotadas com um pequeno jardim fronteiro e um quintal. De realçar que essas novas construções seguiram o estilo arquitetónico da “Casa portuguesa” desenvolvido por Raul Lino.

Um rico espaço museológico

O local de partida para esta caminhada é à porta da Fábrica, e agora também do Museu, um rico espaço museológico que merece uma visita atenta de modo a se conhecer toda a evolução dos produtos aí manufaturados e também para se apreciar belas obras de arte saída das mãos dos artistas que, ao longo dos anos, levaram o nome da Vista Alegre ao topo da porcelana mundial.

De regresso à portaria da fábrica, vira-se à direita, para uma visita ao espaço de vendas, instalado no local anteriormente ocupado pelo museu, para se ter uma ideia geral do que de bom se vai produzindo na Vista Alegre. No jardim, onde se ergue o busto do fundador, deve-se olhar para o passeio que ladeia o edifício, construído com pedaços de antigos moldes.

A etapa seguinte é a monumental Capela de Nossa Senhora da Penha de França, ou, simplesmente, Capela da Vista Alegre, o único imóvel classificado como monumento nacional existente no concelho de Ílhavo. Na visita, com o bilhete conjunto do Museu e Capela, destacam-se as esculturais, incluindo o túmulo do bispo D. Manuel de Moura Manuel, fundador do templo, bem como as pinturas murais do teto e a sacristia.
Ao lado da capela fica o palacete, agora integrado numa unidade hoteleira de cinco estrelas, por enquanto a única desta categoria na região de Aveiro. O percurso desce as escadas situadas frente ao palácio, e vira à direita, para seguir pela estrada que passa sob o arco da casa anexa ao palácio, seguindo até à entrada da unidade hoteleira, de onde se regressa ao arco.

A estrada ladeia o largo fronteiro à capela e à fábrica, entre este terreiro e uma ala edificada, no estremo da qual ficava a antiga sede do clube desportivo local (agora sedeado num local mais adiante dessa mesma rua). Do lado esquerdo partem algumas artérias do bairro operário, com as suas habitações, muitas das quais já recuperadas. Nesse mesmo lado, mas mais adiante, fica a Fonte dos Amores. Frente a esta sai uma rua que conduz às novas urbanizações erguidas na antiga quinta da Vista Alegre. A estrada (Rua dos Álamos) termina na EN109, ficando do lado direito uma fonte que ostenta o brasão da Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre.

Regressa-se até à Fonte dos Amores, para se virar à direita, onde o itinerário se embrenha pelas ruas sombreadas do bairro operário. Ao longo destes arruamentos, percebe-se a hierarquia das habitações, as quais vão desde simples e pequenas casas térreas, construídas em banda, até moradias isoladas de dois pisos de arquitetura mais elaborada, passando por habitações isoladas de dimensões intermédias.

As antigas casas dos operários

No extremo norte do bairro, fica a moderna rua que contorna as instalações fabris (Barquinha / Vista Alegre) e que conduz ao atual largo da “Feira dos 13”. Da rotunda, parte a “Rua das Oliveiras”, a antiga estrada de ligação a Ílhavo, ladeada por velhas oliveiras. No final desta artéria, ergue-se um majestoso arco, encimado pelo escudo da Vista Alegre, e que servia de “entrada” na antiga Quinta da Vista Alegre. Já do lado de fora, à esquerda, surgem antigas moradias também ocupadas por operários da fábrica.
De regresso à rotunda, o percurso avança junto as instalações fabris, pela Rua Gustavo, e entra novamente no antigo bairro operário, na zona outrora ocupada por estruturas sociais e culturais, com os seus arruamentos arborizados. Aqui, deparamos com o edifício da antiga creche/escola primária, e que hoje acolhe os serviços educativos do museu. Quase em frente, fica a antiga “Garage”. Logo de seguida, e também do lado direito, o edifício do antigo Refeitório é agora um restaurante. A Rua Gustavo termina na Rua dos Álamos, onde se vira à direita e, pouco depois, novamente à direita, entrando novamente no terreiro fronteiro à Fábrica e à Capela, largo da antiga “Feira dos 13”. Do lado direito, a fechar um dos lados, fica o antigo Teatro, que atualmente dá pelo nome de Laboratório das Artes. As obras de recuperação preservaram o interior, com todo o mobiliário antigo.
Do outro lado da rua, fica uma loja de artigos comercializados pelo grupo Vista Alegre, que para além das porcelanas, integra ainda cristais, têxteis-lar e utilidades para o lar. Entre os edifícios do teatro e da loja, a pequena rua à direita conduz até à loja das cerâmicas “Bordalo Pinheiro”, outra das marcas do Grupo Vista Alegre. O percurso regressa à entrada da Fábrica e do Museu, onde termina.

* https://www.facebook.com/manuel.cardosoferreira.5

Mais informações em http://www.visitilhavo.pt/planeia-a-tua-viagem/ilhavo-gratuito/poi/museu-vista-alegre

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