Aproveitando este tempo de distanciamento físico, a que a conjuntura viral nos obriga, talvez fosse bom que cada um de nós olhasse para si próprio e fizesse aquele exercício difícil de visualizar-se a Si como visualiza o Outro.
Por Ângela Almeida *
Em época de Quaresma, somos convidados a viver momentos mais intensos de introspecção, que nos vão conduzindo aos mais profundos esconderijos do nosso Ser.
E foi num desses momentos mais intensos, do meu recolhimento pessoal, sem estar em quarentena, que dei por mim a olhar a Sociedade e a pensar que afinal todos estamos contaminados, há muito tempo, por um Coronavírus qualquer, condicionando as relações humanas e sociais a um qualquer código que somos obrigados a seguir, esquecendo os afectos e os sentimentos.
Enfim, afinal parece que o COVID-19 só veio dar uma ajudinha para nos distanciarmos, ainda mais, uns dos outros com uma desculpa plausível.
Aproveitando este tempo de distanciamento físico, a que a conjuntura viral nos obriga, talvez fosse bom que cada um de nós olhasse para si próprio e fizesse aquele exercício difícil de visualizar-se a Si como visualiza o Outro. Realçando os seus defeitos e analisando as suas virtudes.
É um exercício bom para as quarentenas e poderá ser uma mais-valia para quando o Vírus passar. Seria interessante que esta reflexão não acontecesse apenas por causa do Vírus actual, mas pelos inúmeros “ Vírus “que cada um carrega e que nos deveriam levar a parar e a reflectir acerca da nossa própria existência e das relações humanas.
Apesar de considerar um exagero este alarmismo instalado à volta do CODIV- 19, urge tomar algumas precauções que apesar de serem simples, podem fazer a diferença.
Passar a dizer bom dia, boa tarde e boa noite, sempre, em substituição do beijinho e do abraço fingido, poderá ser um exercício interessante, numa Sociedade cada vez mais fechada e silenciosa nos seus valores principais, onde cada um se vira para si próprio numa atitude de auto protecção, desvalorizando o altruísmo a que a nossa própria existência nos convida.
Aproveitemos então esta quarentena viral e façamos a nossa Quaresma interior, sem alarmismo e com tempo para contemplação do Eu e do Outro.
Diversificando o nosso olhar nesta sociedade alarmada pelos diferentes “Vírus” a que todos os dias estamos expostos e sujeitos e que silenciosamente nos vão matando mais do que o Coronavírus!
* Presidente da Junta de Freguesia de Esgueira eleita pelo PSD-CDS.