Portugal tem a agricultura mais envelhecida da Europa. 52% dos agricultores tem mais de 65 anos e apenas 2% tem menos de 35 anos. Por isso é muito importante aproveitar os apoios à instalação de jovens agricultores e ao investimento nas empresas agrícolas, cujas candidaturas abriram recentemente e permanecerão abertas em períodos sucessivos ao longo de 2025, mas o sucesso dessa instalação depende de uma preparação que tem de ser feita ao longo dos anos, no seio da família, da escola e da comunidade agrícola, juntando a teoria e a prática, com estudo, visitas e estágios.
Por Carlos Neves *
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A produção de leite em Portugal passou um período muito difícil ao longo dos últimos 15 anos que levou ao abandono da atividade, ao endividamento e ao adiamento de investimentos necessários. Só nos anos mais recentes e após muitas lutas pela valorização do preço do leite junto dos consumidores e dos produtores passou a ser possível encarar o presente com serenidade e o futuro com confiança.
Com o objetivo de dar um contributo para preparar o futuro, a APROLEP realizou, na última semana de novembro, em conjunto com a Associação de Jovens Agricultores “Tainadas Mundiais”, a “Top Milk Tour”, uma viagem de estudo à região da Galiza, visitando 9 vacarias com elevado nível de produção, tecnologia, genética e maneio. Participaram muitos jovens agricultores que se deverão instalar a curto ou médio prazo, mas também agricultores de todas as idades e regiões do continente e dos Açores. Esse encontro entre produtores de diferentes gerações, regiões e países tem sido uma aposta estratégica da APROLEP, num país pequeno à escala global, mas com diferenças que por vezes são potenciadas por quem pretende “dividir para reinar”, quando somos cada vez menos e somos mais parecidos do que diferentes.
Ao organizar viagens de estudo, estamos a dar continuidade a um legado que ao longo dos anos foi desenvolvido por outras associações, cooperativas, escolas agrícolas e universidades. Estamos a dar informação, formação, a criar laços entre agricultores e, quando é possível, juntamos também momentos de cultura e descanso. Conseguimos marcar estas atividades nos períodos de menor trabalho nos campos (quando não há colheitas ou sementeiras) e nos dias da semana em que temos mais ajuda disponível para nos substituir no cuidado diário dos animais. Os agricultores também precisam de momentos de descanso e convívio para manterem o espírito saudável. “Mente sã em corpo são”.
O lema da nossa associação tem sido “sozinhos vamos mais rápido, juntos vamos mais longe”. Podemos acrescentar que sozinhos aprendemos à nossa custa, com os nossos erros, mas quando partilhamos experiências, aprendemos em conjunto e evitamos os erros que outros cometeram.
Uma última nota sobre os projetos de investimentos, agora ao cuidado dos governantes: No caso dos jovens agricultores, muitas vezes é necessário investir para aumentar a produção e atingir um valor mínimo de faturação que torne a empresa agrícola viável e com dimensão para criar um grupo de trabalho que permita assegurar as tarefas e tirar folgas, mantendo a qualidade de vida do agricultor dos funcionários. Noutras situações, é contraproducente estar a “exigir” aumentos de produção para viabilizar um projeto de investimento, quando for apenas necessário investir para melhorar o bem-estar animal, proteger o ambiente ou aliviar o trabalho do agricultor e dos funcionários. Esse aumento de produção pode prejudicar o mercado, baixar o preço e tornar os projetos inviáveis. Esses investimentos, parecendo “de manutenção”, mantém as empresas agrícolas vivas e as famílias motivadas para que as próximas gerações deem continuidade ao legado que vem de trás. O futuro prepara-se agora e depende de todos, agricultores, organizações e governantes. Façamos a nossa parte.
Produtor de leite. Artigo publicado originalmente no site Agroportal.
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