“Foi uma belíssima regata”. António Cravo, fotógrafo e poeta, que há vários anos acompanha as tradicionais regatas de moliceiros, deu “nota elevada” à qualidade da edição de 2020 da regata Torreira – Aveiro, que resistiu à pandemia do Covid-19, mantendo também o habitual concurso de painéis.
A partida contou com 12 barcos tradicionais da Ria de Aveiro (menos um do que em 2019). Apenas um, o ‘Amador’ do mestre Felisberto, não chegou à meta colocada junto às eclusas na cidade de Aveiro, porque virou junto a S. Jacinto, devido a uma rajada de vento, e teve de ser rebocada.
O barco moliceiro ‘Zé Rito’, do arrais José Rito, pescador e um dos poucos carpinteiros navais em atividade, que ocupa o estaleiro do Monte Branco, foi o vencedor, repetindo a consagração já alcançada em anos anteriores.
“Chegou a Aveiro em uma hora e três quartos, sensivelmente. Escolheu uma vela grande, com o vento que estava, deu-lhe vantagem. Foi, curiosamente, a última viagem do ‘Zé Rito’ com este arrais, pois vai ter novo dono. Os restantes barcos chegaram quase todos alinhados, praticamente ao mesmo tempo”, explicou António Cravo, que seguiu a regata numa lancha de apoio.
Os arrais usaram todo o saber ancestral da técnica de velejar moliceiros para aproveitar o vento que se fazia sentir com intensidade e tirar o melhor partido da capacidade de navegar do barco que é o ex-libris da Ria de Aveiro.
“Foi um bom espetáculo, uma boa regata, das melhores dos últimos anos e das mais rápidas de sempre, embora um pouco a contra água. Apanhou a enchente até S. Jacinto e a vazante no canal da Gafanha”, relatou ainda António Cravo que tem feito ao longo dos anos o registo fotográfico da comunidade piscatória da Torreira (pesca na Ria e a Arte Xávega no mar).
António Cravo destacou, pela positiva, também, a forma como foi dada a partida, “de forma lindíssima, muito bonita”, porque a Náutica da Torreira, que tem a organização, não optou pela zona em frente ao café Guedes, como era habitual. Os barcos estavam varados no areal da praia do Monte Branco. Depois da buzina de partida, sairam em primeiro os barcos mais pequenos e depois os maiores”.
Normalmente, o verão tem mais duas regatas de moliceiros, ambas na Murtosa. Na ‘Semana dos Emigrantes’ e nos festejos do S. Paio da Torreira. Mas ainda não foram confirmadas pela Câmara murtoseira, certamente devido às contingências da crise de saúde pública que se continua a viver.
No concurso de paineis, o vencedor estava escolhido, tratando-se de uma pintura no barco A. Rendeiro da autoria do mestre José Oliveira em homenagem aos ‘heróis’ que estão na primeira linha do combate à pandemia do Covid-19.