Num universo em que a felicidade é a moeda corrente, Abílio é uma criança pobre, pois não recebe a atenção que desejaria dos seus pais. Porque tem poucos amigos e porque, também, não gosta muito do seu nome.
Por O VAZ *
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Os seus pais são humildes trabalhadores que gerem uma multinacional de refrigerantes. São proprietários de uma quinta em Sintra mas não têm dinheiro para comer pois trabalham demasiado. Vivem com o peso de terem chamado “Abílio” ao seu filho, e são proprietários de um luxuoso iate atracado em Vila Moura.
Certo dia, na escola, Abílio não tem felicidade suficiente para pagar o seu almoço. Então, o seu amigo, Elias, oferece-se para pagar. Elias é uma criança afortunada que vive num bairro social. Não desgosta do seu nome. Os seus pais fazem diariamente turnos extraordinários numa fábrica de refrigerantes. Amam-se tanto como o amam a ele. Ao que ele retribui todo o amor aos seus amigos e, até, professores na escola. O que o torna ainda mais rico.
Certo dia, Abílio – de seu triste nome – tenta comprar a felicidade de Elias. Propõe dartodos os seus brinquedos a Elias em troca do seu pobre nome. Aceita qualquer um que não seja “Abílio”. Nem nenhum outro nome de velho começado pela letra A que se assemelhe com Abílio, como Aurélio, Amadeu, Amílcar.
Elias não aceita a proposta. É uma criança rica de felicidade e vive feliz com o pouco que tem. Pois a felicidade, não se mede pelas posses. Mas sim pelo amor que se dá e recebe em troca. E também pelo nome que se tem, vá. Porque, vejamos, Elias também não é um nome incrível, mas ao menos não é Abílio. É que é meio caminho andado para a infelicidade de uma criança. Por exemplo, chamar a uma filha Vanessa, é pedir para que ela se torne uma menina da vida, não concordam?
Enfim… Elias, não aceitou a proposta do seu pobre amigo. Ele é uma criança séria. Nos seus olhos há mares, que se abrem com a chave do carinho. Brinca sem precisar de seguir nenhum caminho. Mas a rima perdeu brilho, ao dizer-se “Abílio”.
É que é um nome mesmo complicado até de encaixar num bonito poema. Que raio de pais não quer que o nome do filho encaixe metricamente bem num poema? Poderiam ter chamado ao filho apenas Pedro, Francisco ou, até mesmo, João, vejam só. Mas não, tinha de ser um nome em homenagem ao falecido avô.
* Cineasta. https://www.instagram.com/_gvaz_/
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