Vamos todos jogar ao (Dr) Peixinho?

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Avenida Lourenço Peixinho, Aveiro.
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Há cada vez mais formas de intervenção cívica, de envolver as pessoas, de responsabilizar intervenientes públicos e privados, por isso sejamos exigentes na hora de discutir e aprovar projectos para a nossa querida cidade.

Por Rui Soares Carneiro *

Nos últimos anos, temos vivido uma conjuntura positiva, de crescimento económico, de maior disponibilidade de rendimento e qualidade dos serviços públicos, da procura e satisfação de bens não-essenciais, e de paz social e desenvolvimento da intervenção cívica.

Esta conjuntura aliada a outros factores, ajuda-nos a perceber porque se têm debatido novos valores, novos temas para a sociedade, novas formas de convivência colectiva, novas reivindicações juvenis, novos paradigmas ambientais e de sustentabilidade, novos métodos de participação cívica e política e de tomada de decisões que se pretendem cada vez mais colectivas. Isto cria-nos uma série de oportunidades e de responsabilidades para fazermos todos parte participada da criação do nosso futuro e na definição de uma estratégia conjunta para o nosso lugar, a nossa cidade, o espaço a que pertencemos. E com isso, criar mais sinergias, individuais e colectivas, para o desenvolvimento do bem-estar colectivo.

O desafio que lanço neste texto, visa todos aqueles que têm interesse em debater esse bem-estar, focando-me no futuro da Nossa Avenida, a do Dr. Lourenço Peixinho; e tem como ponto de partida uma perspectiva geral de quais os intervenientes e quais as cartadas principais a lançar na discussão deste tema. Para tal, proponho que possamos todos juntos jogar.. ao Peixinho (qualquer vislumbre de trocadilho aqui, é pura ilusão). Sendo um jogo familiar para a grande maioria das pessoas, e como bom jogo de cartas que é – com as regras que cada um tem para si – assumo eu aqui a definição das regras, em que o baralho é totalmente distribuído no início (suponhamos, 12 cartas); de que cada interveniente pode apenas solicitar cartas que tenha consigo (no seu âmbito) a todos os participantes no jogo (4 no total); e que no final, o melhor resultado é um empate no número de peixinhos entre todos os participantes (sim, pode suar a aborrecido como jogo, mas ganhamos todos, acreditem!).

As hostilidades devem ser, do meu ponto de vista, dadas pelo interveniente Câmara Municipal de Aveiro (Entidades Públicas), é este quem tem os principais instrumentos de alteração da malha urbana e capacitação para deifinir estratégias a longo prazo para o espaço público, e para uma zona central da cidade de Aveiro que carece com urgência de uma intervenção de fundo, reestruturando os seus eixos, reconstruindo o seu edificado e reabilitando as suas valências.

As cartas que a Câmara deve, como prioridade, solicitar aos presentes na discussão são, a necessidade de um estudo alargado de mobilidade e infraestrutura do espaço público, que dê prioridade aos transportes públicos e sustentáveis, colocando a pessoa, enquanto peão, como actor principal da estratégia a seguir; o incentivo à reconstrução e reabilitação de edifícios habitacionais e comerciais, pois são as entidades públicas quem pode dar o mote para esta política, tendo os instrumentos necessários para tal (faltando muitas vezes a vontade e capacidade), tornando-os assim mais atractivos e competitivos com a nova malha urbana que se tem desenvolvido na cidade nos últimos anos; e criar um programa capaz de dinamizar o comércio local, com capacidade de expansão, de atracção, de alargamento de horários, de iluminação e segurança, por forma a conseguir criar uma nova centralidade comercial que responda aos requisitos que a sociedade tem hoje em dia para este sector.

O segundo jogador do Peixinho, são os comerciantes, são um actor fundamental na dinâmica actual e futura da Avenida, sendo que todo o edificado tem no seu piso inferior este tipo de habilitação.

A primeira carta a ser pedida, é uma que diz respeito ao curto prazo, e tem que ver com a execução das obras em toda a Avenida, com os acessos que ficarão disponíveis aos estabelecimentos comerciais, à duração da intervenção, e à poluição sonora e atmosférica que a mesma trará para toda a zona (difícil fazer peixinho? Todos agradeceremos!); a segunda, deve tentar ir ao encontro de uma já solicitada pela CMA, a da capacidade de se reinventarem espaços e inovar na oferta de produtos, de se modernizar o tecido comercial de rua, de aumentar a competitividade e concorrência para com estabelecimentos em grandes superfícies, e ao mesmo tempo, criar soluções de marketing e comprometimento com os Aveirenses; uma última carta para este jogador, dá nota da preocupação que terá de haver com a necessidade de acessos de cargas/ descargas bem como da capacidade de toda a zona dar resposta ao estacionamento de curta duração, para todos aqueles que querem visitar o comércio local, mas também o de longa duração, para todos aqueles que lá trabalham e passam o dia/noite.

Os moradores, aqueles que cedem o seu espaço por direito a todos os outros que visitam esta importante artéria da cidade, devem ter um papel importante neste jogo, sob pena de serem eles, que na falta de outros, poderão trazer as dinâmicas necessárias a esta zona, quer de dia, quer principalmente durante o período da noite. São estes que, em primeiro lugar, deverão exigir à partida a existência de uma maior harmonia entre as vias de comunicação e o espaço verde e de lazer, com capacidade para proporcionar um clima de boa vizinhança, de bem-estar social, de actividade lúdica e cívica, e de recursos que satisfaçam as suas necessidades socioculturais. Jogada a primeira carta para peixinho, a segunda em nada lhe fica atrás, sendo crucial o aumento da segurança, não apenas da relação carro-peão, que deve dar primazia à circulação pedonal e aos movimentos perpendiculares na Avenida, mas também da segurança nocturna em toda a zona – artéria e envolvente – com uma assinalável melhoria da sua iluminação, bem como dos acessos às habitações. Sendo esta zona residencial, predominantemente de habitação sem garagem, importa chamar a atenção para a necessidade de estacionamento que responda à necessidade dos moradores, principalmente durante a noite, e preferencialmente com isenção ou tarifa especial de longa duração, já que o estacionamento é todo ele concessionado; esta poderá ser uma carta reivindicada por todas as partes (peixinho! Parece fácil.), mas para todos os que temos casa, sabemos da importância da relação habitação-estacionamento e dos transtornos que a ausência desta pode trazer aos que ali habitam (até como forma de captar mais moradores).

Por fim, o último jogador tem a palavra, somos nós, a sociedade civil, os utentes/ clientes de uma Avenida a precisar de ser, como o foi na sua criação, um pólo urbano central, moderno, cosmopolita e capaz de responder às necessidades e desígnios da comunidade local, sempre com os olhos no futuro.

A carta que a meu ver mais valoriza o jogo deste interveniente, é a da exigência de uma Avenida com capacidade de proporcionar e atrair mais animação, de uma maior cultura que seja sentida na vivência urbana do dia-a-dia, assim acontece nas cidades mais cosmopolitas, onde as pessoas consomem conhecimento e entretenimento nos seus movimentos pendulares; a aposta na sustentabilidade dos espaços públicos, de mobiliário urbano atractivo e de tecnologia interactiva e informativa, são uma cartada importante nas pretensões de uma sociedade que já não procura nas vias de comunicação apenas uma ferramenta de deslocação, mas sim uma opção de vivência colectiva e de desenvolvimento de dinâmicas e intercâmbios socioculturais; poderia repetir, para última carta a pedir aos outros intervenientes, alguns pontos já referidos e importantes neste texto, mas cabe a todos nós pedir aos restantes que saibam ouvir a população, perceber os seus anseios e maiores desejos, que desenvolvam políticas que nos visem também a nós, que nos façam querer passar tempo na Nossa Avenida, que possamos criar ligações, laços, motivos para ter orgulho no edificado que nos rodeia (atenção aos monumentos!) e que nos possamos rever enquanto colectivo na principal artéria central da nossa Cidade (tenho a certeza que os outros jogadores nos darão esta carta, peixinho!).

É importante percebermos que sem todos os jogadores deste meu Peixinho improvisado, a discussão necessária a um projecto sustentável a longo prazo – que já nasceu coxa – tardará em endireitar. Já tivemos exemplos diversos na nossa cidade, de discussões que por falta de participação (a culpa nem sempre é nossa!) criaram projectos e obra que hoje em dia não respondem às nossas necessidades, e deixaram de ter um conceito, uma ideia definida, um fim. Não é assim que se constroi o futuro, o projecto sustentável, a cidade do Séc. XXI.

Há cada vez mais formas de intervenção cívica, de envolver as pessoas, de responsabilizar intervenientes públicos e privados, por isso sejamos exigentes na hora de discutir e aprovar projectos para a nossa querida cidade, e não deixemos os créditos por mãos alheias.

Os quatro jogadores que escolhi, têm de encontrar pontos de convergência, cederem quando for necessário, reivindicarem quando assim for exigido, mas terem sempre em consideração que só quando no final do jogo todos eles conseguirem fazer peixinho, e de preferência o mesmo número para todos, é que se obteve um projecto inclusivo, que responde a todas as partes, e que terá como fim (a longo prazo) a sustentabilidade de uma via emblemática e identitária da nossa cidade de Aveiro.

A principal cartada aqui a ser jogada é a da Democracia, que com ela traz o saber ouvir, o saber argumentar, o saber discutir, o saber construir em conjunto, o saber incluir, o saber ser sustentável, o saber pensar nas próximas gerações, o saber ser empreendedor, o saber ser tolerante nas diferenças e exponenciar os semelhanças… certamente que assim, ganhará Aveiro, ganharemos nós e ganhará a Nossa Avenida, a do Dr. Lourenço Peixinho.

Nota: um agradecimento ao Noticias de Aveiro pelo convite que me endereçou para escrever este texto, e iniciar uma parceria de presença mensal. Parabéns pelo novo passo hoje dado, muitos sucessos!

* Gestor de empresas.

(Texto escrito segundo o antigo acordo ortográfico)