Uma reflexão sobre o papel dos museus no desenvolvimento da sociedade

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Museu de Aveiro.

Há algumas décadas que os museus desempenham um papel importante no contexto das sociedades contemporâneas, assumindo várias funções sociais e comunitárias que vão além da sua tradicional missão de colecionar, conservar, comunicar e expor, proporcionando aos visitantes as capacidades de criar e compartilhar.

Por David Felismino *

18 de maio – Dia Internacional dos Museus – é celebrado desde 1977, um pouco por todo o mundo, por iniciativa do ICOM, com o objetivo de promover uma reflexão sobre o papel dos museus no desenvolvimento da sociedade. O tema deste ano, “Museus, Sustentabilidade e Bem-estar”, em articulação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, coloca, em boa hora, a tónica em dois temas complementares e fundamentais no presente e no futuro: a sustentabilidade social, económica e ambiental, e o bem-estar individual e social. Estes desafios estão em linha com a nova definição de Museu, aprovada pelo ICOM em 2022, que coloca, no centro da missão dos museus, conceitos fundamentais como a inclusão, a sustentabilidade, a acessibilidade e a diversidade, a participação e a ética.

Há algumas décadas que os museus desempenham um papel importante no contexto das sociedades contemporâneas, assumindo várias funções sociais e comunitárias que vão além da sua tradicional missão de colecionar, conservar, comunicar e expor, proporcionando aos visitantes as capacidades de criar e compartilhar. Permeáveis às realidades que os rodeiam, agentes de mudança e de progresso, devem ser promotores de sustentabilidade económica e social. Devem contribuir, com impactos relevantes no futuro, para uma sociedade melhor e mais equilibrada, assente em valores de equidade e justiça social: apoiando a ação climática, promovendo a inclusão, combatendo o preconceito, o isolamento social e potenciando a melhoria do bem-estar e qualidade de vida dos indivíduos e das comunidades. Os desafios colocados pela exigência desta postura mais atenta e proativa são inúmeros, nomeadamente a diversificação dos públicos, a abertura às comunidades, o compromisso com a inclusão, a democratização e o pluralismo das narrativas, a partilha da autoridade do conhecimento, a ampliação e variedade programática física e digital, a permeabilidade à contemporaneidade, o compromisso e ativismo sociopolíticos, a descolonização das suas coleções e discursos, entre outros. Estas questões estruturantes exigem aos museus, sem alterar as suas funções basilares, uma alteração de postura e posicionamento no sentido da sua transformação em espaços dinâmicos e empáticos, de encontro, de inclusão, de partilha, de diálogo e de pensamento crítico. Obrigam ainda ao domínio de novas linguagens, ferramentas e metodologias e, por conseguinte, a uma disponibilidade de recursos humanos, financeiros e logísticos suficientes e adequados para o cumprimento deste papel expandido. Esta ambicionada relevância só é, e só será, possível com a metamorfose dos museus em ecossistemas culturais poliformes e abrangentes, que trabalhem em rede e se apoiem em estratégias de cooperação, colaboração e parceria com outras entidades públicas e privadas, associações locais, movimentos e grupos emanados da sociedade civil. A sustentabilidade destas estratégias depende e dependerá do aumento dos investimentos públicos e privados, em articulação com modelos de gestão mais flexíveis e autónomos.

Os profissionais de museus são protagonistas e motores fundamentais destes processos de construção de instituições mais sustentáveis e inclusivas. Importa criar políticas efetivas de formação, recrutamento, valorização das carreiras, promovendo condições de trabalho aliciantes para a necessária ampliação e renovação geracional dos seus quadros técnicos. As pressões e a urgência dos desafios hoje colocados justificam ainda o reforço dos museus que se encontram em situação de fragilidade para o bom desempenho das suas funções básicas e essenciais, e que se não virem todos os problemas apontados encarados dificilmente poderão desempenhar outras funções igualmente relevantes no presente e no futuro. Este Dia Internacional dos Museus lembra-nos o quão desafiante pode e deve ser o futuro dos museus nas próximas décadas. Importa assumirmo-nos definitivamente como territórios de potencialidades em termos de desenvolvimento, de criação e inovação, de transformação da sociedade, de promoção do conhecimento, de coesão e bem-estar social, bem como de crescimento económico. Seja, pois, o tempo de sermos empáticos, proativos, conscientes, democráticos, inclusivos, questionadores, inspiradores e provocadores!

* Presidente do ICOM Portugal. O ICOM é a maior organização internacional de museus e profissionais de museus dedicada à preservação e divulgação da património natural e cultural mundial, do presente e do futuro, tangível e intangíveis.

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