Quando era ainda criança sonhei um dia poder viver num sítio que conseguisse ir alimentando o meu apetite feroz de ser feliz.
Por Óscar Amorim *
Nasci em Oliveira de Azeméis, aqui fui vivendo, reclamando com os sucessivos Poderes instalados o meu sonho de criança. Os anos foram passando e hoje sinto-me onfortável nesta Terra que fui projetando ao longo dos anos, não precisando por isso de fazer o que muitos não conseguiram evitar, que foi emigrar e deixar definitivamente esta Terra que não gostavam.
Hoje, quando usufruo dos seus equipamentos – e usufruo muitas vezes – sinto-me um singelo habitante relativamente satisfeito com o que me é oferecido por quem tem a difícil missão de conduzir os seus destinos.
Visito, e ao mesmo tempo desfruto assiduamente desses mesmos equipamentos e verifico com algum orgulho que, desde o aproveitamento acautelado da natureza, com o melhoramento de Parques já existentes e a criação de novos, até à recuperação das memórias da indústria do vidro, da qual fomos pioneiros, existe uma veracidade que torna inevitavelmente este concelho atrativo.
Verifico também a vontade por parte dos responsáveis pelo seu crescimento, em dotar a nossa cidade com um equipamento que sempre considerei ser uma exigência imprescindível dos tempos modernos; trata-se do futuro Parque Urbano. Estas zonas vão muito para além de espaços destinados ao exercício físico; são hoje locais de lazer, onde as famílias e os amigos adquiriram o salutar hábito de se juntarem nos tempos livres para conviverem e alimentarem os seus laços de amizade. Eu diria mesmo que um fim-de-semana passado numa cidade que possua um atrativo Parque Urbano é substancialmente diferente de um outro qualquer passado noutra cidade órfã deste imprescindível equipamento. Por isso acho estes espaços fundamentais e afincadamente exigidos pelas sociedades modernas.
Vivo numa cidade que me faz ter esperança que a muito curto prazo poderá ser uma referência nacional, onde a Cultura se infiltre por ela adentro, sem pedir licença aos
eternos negativistas. Vários equipamentos já em funcionamento e dos quais sou usufrutuário assíduo atraem a esta cidade gentes de diversos pontos do país.
A Biblioteca Municipal Ferreira de Castro, onde se consegue incutir e manter nas pessoas que a usam um amor apegado aos livros, e onde se pode conviver com eles de perto, fazendo por isso aumentar o gosto pela leitura, incentivando as mentes mais preguiçosas a adquirirem pequenos gestos simples, mas salutares, de pegarem neles, acariciá-los, e lê-los. É também um magnífico espaço que proporciona aos diversos escritores a oportunidade de ali apresentarem as suas obras e viverem momentos mágicos, no que à sensibilidade literária diz respeito.
A Galeria Tomás Costa por onde passam centenas de pessoas para aí poderem ter um contacto mais direto com a pintura, com a fotografia, com a música e até
com a poesia, e onde têm a sublime oportunidade de se encontrarem mais de perto com os seus sentimentos.
O Entr’Artes que ocupa as diversas ruas pedonais, traz a esta cidade algumas dezenas de artistas que aí dão azo à sua imaginação, pintando ao vivo, mas não só, é palco
também para muitos outros que nos trazem poesia, música, dança, e outras modalidades artísticas, o que faz destes lugares, sítios onde se respira um ar diferente; um
ar impregnado de um genuíno odor a tintas, e onde as almas dos diversos artistas ganham cheiro e ensopam as fendas dos paralelos daquelas ruas com uma cultura
legítima.
Para além destes e de outros equipamentos já existentes, iremos ter num futuro próximo uma casa que irá aglomerar seguramente muitos, mas mesmo muitos intervenientes diretos e indiretos que representam a cultura neste País, nas suas diversas vertentes. Tenho uma forte esperança que seja uma casa onde afluirão centenas ou milhares de pessoas que tenham tanta vontade de respirar, como eu, a mesma atmosfera onde a cultura nos irá entrar seguramente pelas narinas adentro e infiltrar-se naturalmente até chegar às nossas mais longínquas vísceras do prazer. Estou-vos a falar, naturalmente, do antigo Cineteatro Caracas.
Muito perto deste que será um indiscutível baluarte da cultura, à distância apenas de uma simples passadeira para peões, nascerá um outro que servirá artistas plásticos e um punhado de mulheres e homens que façam destas atividades um vício permanente.
Um pouco mais longe numa das freguesias do Concelho, a Casa-Museu Ferreira de Castro é uma boa memória de um homem que ali nasceu e levou bem longe o nome de Oliveira de Azeméis e de Portugal. Sou disso testemunha, pois percorri os selváticos lugarejos, em plena Amazónia, onde ele escreveu uma das obras que mais aprecio, “A Selva”.
Queria referir também com alguma exultação que este meu, nosso Concelho, movimenta centenas de pessoas em cima de palcos, onde se ouvem com frequência as pancadas de Molière, onde se dança e onde se aprende a usar instrumentos musicais que levam até ao fundo das nossas almas prazeres incomensuráveis.
Fica a faltar apenas uma Feira do Livro anual para que quando eu chegar à eternidade possa olhar lá de cima e ver um Concelho finalmente atrativo e moldado aos
meus sonhos de criança.
* Escritor. Perfácio da nova brochura turística da Câmara de Oliveira de Azmeméis disponível em https://issuu.com/azemeisevida/docs/brochura-turistica-oaz-2021
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