Só a contestação e a luta da população impediram o seu desaparecimento.
Bruno Soares *
Chegado o mês de Novembro, é altura de celebrar o décimo aniversário do centenário da Linha do Vouga.
É verdade! Contra todas as probabilidades, a via férrea que defendo por via do Movimento (MCLV), alcança os 110 anos de existência. Na década passada, talvez poucos acreditavam que este dia fosse possível…
Há precisamente dez anos atrás, Agostinho Tavares D’Almeida, numa reportagem para o JN, questionava-se da seguinte forma: “para quê tanta festa para uma linha moribunda, lápides incertas num edifício degradado (referência à estação de Espinho-Vouga), com as telhas a cair sobre os passageiros! As ervas crescem livremente em seu redor, bem como o lixo. É isto a comemoração de 100 anos de vida?”.
Hoje gostaria de dizer ao Agostinho que toda aquela festa tinha valido a pena mas não!
Infelizmente a estação, assim como todo o troço e edifícios afetos em que decorreram as comemorações, encontra-se em pior estado do que naquele tempo. Pouco ou nada mudou.
Os horários são praticamente os mesmos e pouco eficazes do ponto de vista da atractividade.
As automotoras são, também, as mesmas (série 9630) e o seu estado é cada vez mais calamitoso derivado, quer do desgaste inevitável da sua utilização ao longo dos anos, quer da degradação acelerada pelo constante vandalismo a que estão sujeitas.
E parece-me a mim, que as entidades políticas que gerem as câmaras municipais servidas por esta via lembram-se, essencialmente, da sua existência no período próximo de eleições, pois as “propostas” para a sua requalificação são um excelente tópico de propaganda.
Muito se falou e pouco se fez.
Pelo meio, a segurança foi melhorada com a supressão e automatização de várias passagens de nível. No entanto, nem todas as travessias mereceram igual cuidado. Muitas ainda funcionam à manivela e outras continuam sem qualquer segurança.
No decorrer da década após o ano de centenário, a Linha do Vouga esteve prestes a encerrar graças a um “Plano Estratégico de Transportes” elaborado pelo Governo PSD/CDS.
Importa relembrar que só a contestação e a luta da população impediram o seu desaparecimento.
O ano de 2013 foi, por ventura, o mais difícil para luta do “nosso” Movimento, pois tivemos de assistir à lamentável (e evitável) supressão de serviço de passageiros no troço entre Sernada do Vouga e Oliveira de Azeméis, pelos motivos que já toda a gente conhece.
Mas esta década não fica marcada apenas por aspectos negativos. Em 2015, o troço entre Águeda e Sernada do Vouga foi totalmente renovado, o que permitiu, dois anos mais tarde, que esta linha pudesse, finalmente, receber o tão aguardado comboio histórico.
Apesar de ser um acérrimo defensor de que esta linha deve privilegiar
o aspecto turístico, espero que não seja apenas de história que se continue a alimentar esta linha pois o passageiro do quotidiano também merece um serviço de qualidade.
Para isso, é necessário renovar e requalificar todo o traçado, o que do meu ponto de vista não implica necessariamente a reconversão desta via férrea em bitóla ibérica.
O meu desejo é, sobretudo, que a linha seja respeitada, preservada e que dure, pelo menos, mais 110 anos! E se possível, que se assinale esta data com a vinda da tão ansiada locomotiva a vapor…