Já muito se falou do projeto (já em execução) para Avenida Dr. Lourenço Peixinho. Os argumentos são variados, criando uma opinião binária entre apoiar ou rejeitar a obra para a principal artéria da cidade.
Por João Sarmento *
Como aveirense de gema que sou, o que mais me preocupa nesta obra é a falta da consciência histórica que a nossa Avenida representa – ou representava. Muitos não sabem que o nome Dr. Lourenço Peixinho – presidente da câmara municipal de Aveiro entre 1918 e 1942 –, é atribuído à “nossa” Avenida pelo estilo específico que o seu executivo queria para o centro da cidade, uma avenida em linha reta com um estilo Boulervard ao longo de um separador central. Lourenço Peixinho será sempre lembrado pelo desenvolvimento preponderante que fez elevar a cidade de Aveiro. Era um homem de causas, sempre ligado e preocupado ao bem-estar da comunidade aveirense.
As intervenções ao longo do tempo, embora não arruinassem por completo, não dignificaram o património que começou a ser construído durante a década de 1920. O Dr. Lourenço Peixinho criou um Ex-libris na cidade de Aveiro, que os aveirenses reconhecem e gostariam de ver protegido, assim como todos aqueles que respeitam a história da sua cidade.
O que seria caso se alterasse, desrespeitando a história, a baixa pombalina ou Avenida dos Aliados; o valor histórico só existe em certas cidades?
A obra que hoje está já em execução não respeita, nem glorifica a história da cidade onde me viu nascer e crescer. Poderia falar dos erros que o projeto não antecipa como a impermeabilização da cidade, a falta de ciclovias, ou até as rotundas – completamente disparatadas no meio da avenida –, prefiro, pelo contrário, explicar que este projeto mais parece ter sido concebido para a Avenida 25 de Abril do que para a Avenida Dr. Lourenço Peixinho.
Este erro não pode acontecer, não poderia ter acontecido. A história tem de ser respeitada, mesmo por aqueles que acham que a podem reescrever.
* Vice-Presidente da Juventude Socialista da Concelhia de Aveiro.