A concretizar-se o Plano na forma esboçada, são boas notícias para os media e os jornalistas, estes também criticados pelo primeiro-ministro, quando se deixam contaminar por “recados soprados”, algo que desvirtua e põe em causa a nobreza da profissão.
Por Dinis de Abreu *
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É cedo para avaliar o impacto das medidas anunciadas pelo governo no quadro do Plano de Acção para os Media, até por algumas dúvidas que ainda persistem na sua operacionalização.
Mas é inquestionável que o “pacote” de apoios, formatado na generalidade, revela uma sensibilidade incomum perante os problemas com que se debatem os media e o jornalismo.
O modelo desenhado pelo governo preconiza, desde logo, uma intervenção nas assinaturas digitais de jornais na ordem dos 50% e uma oferta de 400 mil assinaturas, destinadas a alunos do ensino secundário. É relevante.
Sabe-se como a Imprensa, generalista ou especializada, tem vindo a investir nas edições digitais como complemento, em circulação e publicidade, do suporte impresso, em queda continuada há vários anos.
E sabe-se, também, como a população mais jovem tem vindo a perder hábitos de leitura de jornais, privilegiando as plataformas digitais em detrimento dos meios convencionais, e espelhando ainda uma perigosa tendência de enfraquecimento do ensino de português nas escolas.
Se com este Plano de Acção o governo conseguir inverter essa tendência, estimulando os jovens a consumir informação através de veículos identificados com o jornalismo e as suas melhores práticas, já será um passo importante na reabilitação dos media.
Mas o “pacote” com 30 medidas vai longe e diversifica os seus objectivos, envolvendo a reestruturação da RTP, “libertando-a” progressivamente da publicidade — uma decisão que os operadores privados aplaudem —, e da agência de notícias Lusa, cujo capital social o governo quer controlar a 100 por cento, sem parcerias privadas, o que é discutível.
O Plano de Acção é vasto e gaba-se de obedecer a uma natureza pragmática, acudindo, ainda, com medidas de excepção, no sentido de contrariar a precariedade no exercício do jornalismo, através do apoio à contratação de profissionais sem ser a termo.
A concretizar-se o Plano na forma esboçada, são boas notícias para os media e os jornalistas, estes também criticados pelo primeiro-ministro, quando se deixam contaminar por “recados soprados”, algo que desvirtua e põe em causa a nobreza da profissão.
Ou limitarem-se, como tantas vezes acontece, a serem “pé de microfone” em reverencial silêncio.
Em resumo: aguardemos a aplicação na prática das medidas anunciadas, algumas apenas em esboço. Mas reconheça-se que o governo deu um passo importante para, ao menos, suster a curva inclinada em que os media se encontram em Portugal, numa era caracterizada pela instantaneidade da informação e pela concorrência de novas e agressivas ferramentas digitais.
* Artigo publicado originalmente no site do Clube de Imprensa.
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