Quando naquela longínqua data de Junho de 1947, em tempo de adolescência, forçado por colegas a envergar o traje académico e posto em pose para fotografia junto à Charolinha, sita na Mata dos Sete Montes, cerca do Convento de Cristo, em Tomar, jurei face ao altar algo altaneiro da minha consciência de ser pensante, de que um dia haveria de usar de direito o adereço universitário. Então, tive uma atitude mui temerária. E assumi avassaladora responsabilidade perante mim próprio.
Por Brasilino Godinho *
É que naquele momento determinante e histórico da minha vida pessoal não fazia a mínima ideia como iria concretizar tal desígnio. O futuro era uma incógnita. Os recursos financeiros inexistentes. E as contingências da vivência ao compasso do tempo são indetermináveis e reservam, muitas vezes, grandes surpresas que tendem a frustrar as melhores e mais arreigadas intenções.
De facto, o decurso do tempo foi suscitando a comprovação das dificuldades da tarefa que me propusera e a imensidade do compromisso voluntariamente assumido em sede do meu imo.
No momento em que alinho as presentes considerações posso expressar que, tendo tido um percurso existencial multifacetado de várias facetas profissionais e intelectuais, hei sempre tomado as decisões e opções correctas e adequadas para, num porvir incerto, alcançar a formação universitária. A par disso também admito que elas e as circunstâncias que soube aproveitar, também traduziram alguma influência do factor sorte; tais como as andanças profissionais, o encontro de personalidades de alto valor profissional, a ida para Ponta Delgada, Açores, em Maio de 1954, onde conheci a adorável mulher da minha vida, a vinda para Aveiro em Fevereiro de 1963, a criação da universidade aveirense.
Enfim, bastantes acasos da existência quotidiana de todo imprevisíveis mas que foram moldando um rumo, não obstante muito preenchido de obstáculos que eram outros tantos bloqueios de aceder à instituição universitária. Em muitas ocasiões, forçando opções prioritárias de interesses pessoal e familiares – tais como a criação e manutenção da família, as formaturas em Engenharia Civil, na Universidade do Porto (a meu total encargo), dos dois filhos – que, de todo, inviabilizavam o início da minha carreira académica.
Início que teve lugar na Universidade de Aveiro, em 20 de Outubro de 2008, precisamente, cinco dias antes de perfazer 77 anos de idade. E mediante a prestação de provas de acesso, em cúmulo classificadas de 17 valores.
Carreira académica que teve primeira consagração em Dezembro de 2012 com a obtenção de Licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas, com a classificação de 15 valores, na Universidade de Aveiro; e o magnífico epílogo do Doutoramento em Estudos Culturais, por unânime decisão do júri doutoral. Curso de Doutoramento leccionado em parceria pelas Universidades de Aveiro e do Minho. Êxitos universitários que foram muito destacados pelos órgãos de Comunicação Social portugueses, brasileiros e com projecção mediática nalguns outros países.
Quero assinalar que tais graus universitários foram alcançados sem equivalências e com a realização de todos os testes de aproveitamento escolar, constantes dos respectivos currículos académicos. E com assíduas presenças nas aulas dos dois cursos.
Referência que considero imperiosa, num tempo em que estão na moda e incentivadas as licenciaturas “arrelvadas” e “socráticas”. Por sinal, muito festejadas nos jornais, revistas, rádios e televisões da capital alfacinha. E, claro como numa noite escura… bem acolhidas nos gabinetes ministeriais do Terreiro do Paço, nos Passos Achados do Convento de S. Bento e nos decorativos salões do Palacete de Belém, à beira-Tejo implantado.
* Doutorado em Estudos Culturais, autor. https://www.facebook.com/brasilino.godinho
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