Um Episódio Inapropriado de Luís Montenegro

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Resgate de vítimas de acidente de helicóptero.

A queda do helicóptero da Guarda Nacional Republicana (GNR) no Douro mergulhou o país em tristeza. Trata-se de uma tragédia que exige luto, respeito e solidariedade para com as vítimas e suas famílias. Contudo, neste cenário, a presença de Luís Montenegro a bordo de uma lancha durante as operações no terreno gerou uma onda de críticas. E, com razão, pois essa atitude pode ser classificada como inapropriada e desprovida do necessário sentido de estado.

Por Diogo Fernandes Sousa *

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O sentido de Estado, tal como o entendemos, exige que os governantes ajam com responsabilidade, integridade e em prol do bem comum, colocando os interesses da nação acima de qualquer outro. Neste caso, a presença de Montenegro no local do acidente, de forma visível e aparentemente performativa, foi um gesto que falhou em demonstrar estas qualidades. Em vez de reforçar a dignidade do cargo que ocupa, Montenegro arriscou ser visto como alguém que, no pior dos cenários, tentava capitalizar politicamente uma tragédia ou, pelo menos, agia de forma inadequada.

Montenegro argumentou que a sua presença não perturbou as operações e que o seu objetivo era mostrar apreço aos mergulhadores que desempenhavam uma perigosa missão de busca. No entanto, é preciso questionar se esse gesto não poderia ter sido feito de forma mais discreta, longe das câmaras e da exposição pública, tal como fez o Presidente da República.

A presença de Montenegro foi, no mínimo, desnecessária e, no máximo, uma tentativa infeliz de criar uma imagem de proximidade com a tragédia, revelando uma falta de sentido em estar numa lancha naquele contexto.

O sentido de estado que se espera de um primeiro-ministro implica, entre outras coisas, a capacidade de tomar decisões ponderadas que reflitam uma profunda compreensão do momento histórico e emocional do país. Ao optar por uma presença física tão marcante num momento de luto, Montenegro falhou em demonstrar essa compreensão. A sua atitude pareceu mais uma tentativa de estar “no terreno” a qualquer custo do que uma ação ponderada que considerasse as sensibilidades envolvidas.

Num momento em que o país precisava de discrição e de um foco total nas operações de resgate e nas necessidades das famílias afetadas, a presença de Luís Montenegro na lancha foi, sem dúvida, inapropriada. Faltou-lhe o sentido de estado que exigia uma abordagem mais cautelosa, menos espetacular e mais focada no papel de apoiar, proteger e respeitar o povo, especialmente nos momentos de maior vulnerabilidade.

Este episódio deve servir de reflexão para todos os que ocupam cargos de poder. A política não pode ser um espetáculo, e a tragédia não deve ser um palco para demonstrações de presença física sem um propósito claro e genuíno. O país espera dos seus líderes um comportamento à altura das circunstâncias, e isso implica, muitas vezes, saber quando é preciso dar um passo atrás e deixar que as ações falem mais alto do que a imagem.

* Docente do Instituto Politécnico Jean Piaget do Norte.

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