Turismo e Ferrovia

92
Comboio histórico do Vouga (Foto de Nuno Cortesão)

Nos últimos anos, o turismo ferroviário emergiu como peça-chave na promoção de um setor do turismo mais equilibrado e sustentável ao proporcionar conforto, segurança, frequência de serviços, intermodalidade e conectividade, características essenciais das viagens ferroviárias modernas e de um setor dos transportes do século XXI.

Por André Pires *

Está a ler um artigo sem acesso pago. Faça um donativo para ajudar a manter o jornal online NotíciasdeAveiro.pt gratuito.

É evidente e já não é novidade que o turismo ferroviário tem a capacidade de promover um turismo mais equilibrado e amigo do ambiente, conectar áreas remotas, reutilizar o património industrial e cultural, bem como potenciar o desenvolvimento regional através de novas oportunidades e dinâmicas de negócio.

A indústria do turismo enfrenta desafios tendo em conta que, à medida que os impactos das alterações climáticas se tornam mais percetíveis e difíceis de ignorar, os cidadãos exigem cada vez mais opções de mobilidade sustentáveis e de baixas emissões de CO2. Prova disso é um Eurobarómetro (2021) da Comissão Europeia relacionado com o turismo, cujos resultados demonstram que 82% dos europeus estão dispostos a mudar os seus hábitos de viagem para práticas mais sustentáveis tais como consumir produtos locais, pagar mais para proteger o ambiente ou beneficiar as comunidades locais, e escolher modos de transporte mais ecológicos. E a necessidade de alterar hábitos e promover a mudança é ainda mais relevante dado que, segundo a Community of European Railway and Infrastructure Companies (CER), 75% das emissões de CO2 no turismo estão relacionadas com a rodovia.

A oportunidade de mudança de hábitos de mobilidade dada pelos europeus, associada aos objetivos de descarbonização da Europa, enfatiza ainda mais o papel da ferrovia como elemento-chave na transição para um turismo sustentável pelo facto de esta representar apenas 0,4% das emissões de CO2 e 1,8% no consumo energético por tipo de transporte tornando-se diferenciadora quando comparada com os sectores rodoviário (71,7% e 94%) e aéreo (13,4% e 2,3%). E um dos principais temas e preocupações da reunião do G7 do Turismo – o primeiro da história relacionado com o sector e que juntou no passado mês de novembro, na cidade italiana de Florença, altos representantes de Itália, Canadá, França, Alemanha, Japão, Reino Unido, EUA, bem como da União Europeia, OCDE, Organização Mundial do Turismo e representantes privados do sector – foi, sem surpresa, a promoção de uma mobilidade com reduzida pegada carbónica.

Deste modo e com o objetivo de promover o comboio como peça-chave para mais e melhor turismo, a iniciativa contou com uma viagem especial na região da Toscânia num dos comboios da FS Treni Turistici Italiani (TTI) – empresa criada em julho de 2023 e subsidiária da estatal italiana Gruppo Ferrovie dello Stato Italiane (Gruppo FS) que, juntamente com a Fondazione FS Italiane (Fundação dos Caminhos de Ferro Italianos) também ela pertencente ao Gruppo FS, têm como algumas das principais atividades a realização de viagens em comboios históricos e serviços especiais, bem como o desenvolvimento do turismo ferroviário italiano, a preservação, recuperação, promoção, rentabilização e uso do património ferroviário.

Foi também uma oportunidade para o grupo privado Arsenale apresentar as primeiras cinco carruagens de um dos mais recentes serviços ferroviários turísticos de luxo na Europa: o La Dolce Vita Orient Express. Com início em 2025, este projeto de 240 milhões de euros tem como propósito a valorização do turismo nacional e das regiões italianas, e visa a recuperação e adaptação de uma frota de 72 carruagens distribuída por seis comboios, com um total de 12 carruagens e capacidade para 62 passageiros por comboio. Este novo serviço carateriza-se por ser um cruzeiro sobre carris, apresentando-se também como um novo modelo de turismo ferroviário em Itália e uma novidade em relação à oferta existente. O La Dolce Vita Orient Express está a ser desenvolvido em colaboração com o Gruppo FS, através do operador ferroviário público Trenitalia, a Treni Turistici Italiani e a Fondazione FS Italiane.

Mas o turismo ferroviário vai muito mais além do que a simples forma de viajar de comboio. Os passageiros têm a oportunidade única de usufruir de cenários paisagísticos em constante mudança, permitindo uma maior apreciação dos lugares visitados independentemente de a viagem decorrer em comboios regulares ou em comboios históricos, com ou sem programas turísticos associados. Representa também uma oportunidade para conhecer outras regiões e localidades, contribuindo para aliviar a pressão sobre locais com fluxo turístico elevado, um dos grandes problemas da atualidade, distribuindo-o de forma mais uniforme entre diversos destinos, e promover a descoberta de regiões desconhecidas.

Os dados mais recentes da European Travel Commission, que referem que mais de metade dos europeus planeia explorar destinos menos conhecidos nos países que vão visitar, são uma excelente oportunidade para a ferrovia, com clara vantagem para os países europeus que têm tido o comboio no centro das suas políticas públicas de mobilidade e que, atualmente, têm ao seu dispor uma rede ferroviária densa e extensa, a servir todo ou grande parte do território.

* Professor. Continuar para ler artigo completo no site Transportes & Negócios.

Siga o canal NotíciasdeAveiro.pt no WhatsApp.

Publicidade e serviços

» Pode ativar rapidamente campanhas promocionais no jornal online NotíciasdeAveiro.pt, assim como requisitar outros serviços. Consultar informação para incluir publicidade online.