Ao longo dos últimos anos, o Carnaval de Estarreja atravessou várias dificuldades que a Coligação PSD/CDS, no poder desde 2002, não conseguiu ultrapassar. Por isso, em 2016, o município pagou um estudo a uma empresa externa que visava definir uma nova estratégia para o Carnaval de Estarreja, pelo qual pagou 75 mil euros acrescido de IVA.
Com base nesse estudo, foi definida a nova estratégia para o evento, que passou por alterar o local do desfile para a zona do parque e mercado municipal, passando a vigorar o modelo atual.
Em 2023, o carnaval infantil decorreu a 12 de fevereiro, o desfile noturno das escolas de samba a 17 de Fevereiro e os grandes corsos a 19 e 21 de Fevereiro, tendo todos beneficiado de boas condições atmosféricas.
Na reunião de câmara de 13 de Julho de 2023 – 5 meses depois do carnaval –, a Coligação PSD/CDS (apesar de nenhum vereador ser do CDS), apresentou aos vereadores do PS um documento datado de 16 de Junho de 2023, designado por Relatório Síntese do Carnaval de 2023. Estiveram quase um mês para terem coragem de divulgar o documento, o que se compreende tendo em conta o descalabro que consta no seu conteúdo.
Nessa reunião, os vereadores do PS deixaram uma breve declaração em ata, onde salientavam que as receitas totalizam 162.959,56 e as despesas 595.130,30 euros, o que significa um prejuízo que ultrapassa 432 mil euros!
Nesse mesmo dia, 13 de Julho de 2023, a Comissão Política do PSD (que deve ter reunido de urgência durante a tarde) divulgou um comunicado, intitulado “PS quer por fim ao Carnaval de Estarreja!!”, afirmando que era uma resposta ao PS, quando o PS nem sequer se tinha pronunciado sobre o tema. Está a fazê-lo agora.
Posto isto,
CONTAS ERRADAS:
Caso as contas apresentadas pela Coligação PSD/CDS estivessem certas, verificar-se-ia um prejuízo de 432.170,74 euros apenas na edição de 2023 do Carnaval de Estarreja. Acontece que, a soma das parcelas das despesas não corresponde ao valor que o executivo camarário apresenta. É inacreditável, mas é verdade. Tanto tempo para apresentar as contas e a soma não está correta. Impõe-se, por isso, verificar os documentos produzidos pela equipa técnica da Câmara, para se perceber o motivo pelo qual o valor das despesas (pelo menos) não está correto, o que descredibiliza, evidentemente, o documento.
DESPESAS ORÇAMENTADAS NAS GOP:
Nas Grandes Opções do Plano (pp 133), estava previsto a despesa de 396.800,00 euros para a edição de 2023 do carnaval.
Só o prejuízo é superior ao valor orçamentado.
ANÁLISE DO DOCUMENTO SÍNTESE APRESENTADO PELA CME
Se formos analisar mais pormenorizadamente o documento (que tem a soma das despesas errada), chegamos a várias constatações:
– Os grupos receberam, a título de comparticipações, 107.670,00 euros.
– Em aluguer de equipamento (audiovisuais, tendas, bancadas, plataformas, palco, wc, estrutura de flores, som e luz) gastaram-se 211.919,47 euros.
– Dentro das despesas com aluguer de equipamento, 167.103,19 euros foram para pagar a tenda, bancadas, plataformas, palco e wc
– Só em flores de plástico gastaram-se 9.963,00 euros, valor que não foi incluído nos 211.919,47 euros de aluguer de equipamentos. Isto contraria toda a publicidade feita ao “eco-evento” que, por definição, deveria ser avesso à utilização de plástico.
– A câmara previa gastar 10 mil euros em publicidade e gastou 48.148,72 euros. Nada contra, se tivesse obtido resultados. O que não aconteceu, porque recinto só encheu no domingo de carnaval e as noites estiveram muito longe de ter a afluência desejável.
– A Associação do Carnaval de Estarreja também recebeu 6.650,00 euros. Para quê, exatamente? Alguém da direção é pago?
PRINCIPAL PROBLEMA
O corso de domingo encheu, mas apenas teve receita de 82.871,65 euros. Portanto, esta é a receita máxima a que se pode aspirar em cada desfile, uma vez que o atual modelo não consegue gerar receitas para além da bilheteira.
O PSD e o executivo camarário, bem propagandeiam que se está a “atrair novos públicos”. A realidade, porém, desmente-os. E a realidade é que não se consegue encher todo o recinto na sexta e na terça, mesmo com bom tempo.
O que significa que a receita máxima de bilheteira que poderia ser alcançada seria cerca de 250 mil euros, supondo que fosse possível encher a noite do desfile dos grupos de samba e a terça feira de Carnaval. Neste caso, com a bilheteira do carnaval infantil, os 250 mil euros poderiam ser alcançados. Porém, ninguém dos grupos, nem da organização (que recebem 6.650,00 euros ao contrário do que acontecia antes) acredita na possibilidade de encher todo o recinto na sexta e na terça, mesmo com bom tempo. Logo, tendo em conta que o recinto não comporta maior lotação, obter receitas de 250 mil euros é praticamente uma miragem, a não ser com um aumento brutal do preço dos ingressos, o que afastaria ainda mais foliões.
Chegados a este ponto, verificamos que o mais provável que continue a acontecer é as receitas não chegarem sequer para pagar as bancadas, as plataformas e os wc, situação que raia o ridículo a nível de gestão.
E OS GRUPOS?
Tanto os grupos de samba como os apeados recebem 110 euros por elemento, até ao máximo de 45 elementos nos grupos de folia e 110 nos de samba, a que acresce 2.250,00 euros por cada carro alegórico.
Este ano receberam 107 mil euros, o que corresponde apenas a sensivelmente 18% das despesas com o Carnaval.
O subsídio não tem tido em conta a inflação e este montante mantém-se praticamente igual há anos.
Como explicar a falta de investimento nos grupos, quando o carnaval é feito por eles?
Como é que se gasta tanto dinheiro no resto e não nos grupos, que são quem fazem o carnaval? Alguém dos grupos se acredita no discurso do grande rigor financeiro por parte do executivo, quando há um mar de dinheiro a ser enterrado no supérfluo?
Connosco, o centro do investimento seriam os grupos, porque são eles, (que terão de ser apoiados num competente e inspirado suporte organizativo, muito longe do que atualmente acontece), que poderiam atrair mais gente ao Carnaval e, portanto, equilibrar estas contas absolutamente desequilibradas.
Quem está a colocar em perigo a continuidade do Carnaval é esta Coligação, porque os Estarrejenses que não estão ligados a qualquer interesse à volta do carnaval, não compreendem um prejuízo desta natureza, suportada por quem paga impostos.
A ACTUAL GESTÃO
Portanto, parece-nos evidente que a atual gestão do carnaval é um desastre.
E o desastre vai continuar porque o atual modelo exige os mesmos gastos, sem possibilidades de aumentar as receitas, o que nos permite concluir que tudo isto é excelente para os fornecedores do evento carnaval, o que explica, aliás, muitos dos ataques que o PS tem tido. Como não é de estranhar, toda esta análise e exigência de rigor nas contas públicas não agrada a quem tira proveito, direto ou indireto, do próprio do evento.
É evidente que nada disto é sustentável como o PSD e o executivo camarário afirmam. É e vai ser, a continuar nos mesmos moldes, apenas um acumular de prejuízos anuais para o erário público.
O IMPACTO ECONÓMICO
O PSD e o executivo camarário afirmam que o evento tem “impacto económico estimado em 3 milhões de euros de retorno na economia local”. Até poderiam referir 20, 30 ou 50 milhões, ou apenas 1 milhão. A credibilidade do número “3 milhões” é nenhuma, porque não há qualquer estudo nesta área. O que vemos é que, em pleno domingo de carnaval, há restaurantes que fecham no centro de Estarreja e as lojas não estão abertas. Portanto, os 3 milhões são atirados para a opinião pública sem qualquer justificação ou suporte.
QUEM VAI ACABAR COM O CARNAVAL É O PSD
No seu comunicado, o PSD afirma que o PS quer acabar com o carnaval.
Não é verdade. E as pessoas sabem que não é verdade.
Muitos membros do PS fazem parte de grupos de Carnaval, outros já fizeram parte da Associação do Carnaval de Estarreja (quando não se ganhava dinheiro com isso), outros colaboram de diferentes formas e todos têm o maior interesse que o evento aconteça e floresça.
O que não é possível é continuar a gastar dinheiro público de forma descontrolada como a que estamos a assistir, porque é perfeitamente possível fazer um Carnaval fantástico, que dê lucro ou que, pelo menos, não dê este enormíssimo prejuízo.
Quem vai acabar com o Carnaval é a Coligação, ao somar prejuízos ano após ano, disfarçando a falta de jeito para potenciar o evento, com o esbanjamento de dinheiro público.
O FUTURO
Não é preciso gastar dinheiro público da forma que se verifica para fazer de Estarreja o melhor Carnaval do país. Temos dos melhores grupos. Os de samba são, de longe, os melhores do país. É preciso quem saiba pegar no que temos e fazer de tudo isto uma enorme festa. A Coligação não sabe. Como não sabe, pagou para lhe dizerem como fazer, a quem, nitidamente, também não sabia.
O resultado desta desinspiração conjunta, foi este enorme prejuízo.
Não contem connosco para este despesismo descontrolado. Mas contem connosco para investir no carnaval e obter retorno financeiro. E saibam que combateremos, sem receio, todos os interesses instalados que não contribuam para o desenvolvimento e para a dignificação do Carnaval de Estarreja.
Connosco, os grupos que fazem o carnaval serão o centro da nossa estratégia.
Contem connosco para continuar o Carnaval, de forma estruturada, tornando-o uma grande festa que atraia multidões para, juntos, passarmos bons momentos em Estarreja, aproveitando e potenciando o excelente espetáculo que os grupos estão a produzir.
Carnaval de Estarreja sempre! Despesismo irresponsável e descontrolado, nunca!
PS de Estarreja
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