Hoje é um dia de efemérides, num ano de efemérides. Estamos a celebrar os 50 anos da Universidade de Aveiro. Celebrámos já os 50 anos do 25 de abril. Estamos a poucos dias de festejar os 45 anos da Associação Académica da Universidade de Aveiro. E entregaremos hoje medalhas comemorativas de anos de serviço aos membros da comunidade académica.
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Por Paulo Jorge Ferreira *
Há 50 anos, a Comissão Instaladora da Universidade de Aveiro dirigia inquéritos a potenciais interessados na futura instituição, residentes nos distritos de Aveiro e Viseu. Pouco tempo depois, informava a Direção Geral do Ensino Superior da sua intenção de criar um Conselho Universitário, para assegurar a “influência recíproca Universidade‐Sociedade”. Ainda antes de ter um edifício ou escolher uma localização, a Universidade de Aveiro encetou com a sua região e com a sociedade um diálogo que nunca interrompeu.
O Plano de Desenvolvimento de Funções foi desenhado também há 50 anos. Identificava‐se a missão da Universidade: proporcionar atividades de ensino e aprendizagem e de formação integral de nível superior, realizar investigação nas fronteiras do conhecimento e da sua aplicação, participar na resolução de problemas regionais e oferecer um exemplo modelar de vida comunitária. Enunciados há 50 anos, estes objetivos continuam atuais.
Sobre os espaços, contava‐se com “dois blocos emprestados pelos CTT”, projetavam‐se pavilhões para laboratórios de investigação e alugava‐se edifício para Reitoria,
Administração, Secretaria e Serviços (incluindo Serviços Médicos). Alugava‐se também a primeira Residência Universitária e pensava‐se num Jardim de Infância. Projetava‐se ainda
um espaço Gimno‐Desportivo (“polivalente para basquetebol e voleibol”). Estimava‐se em 110 mil contos o investimento necessário, o que hoje significaria algo como 20 milhões de euros. Havia disponível 2 500 contos.
Lançou‐se a investigação em Eletrónica e Telecomunicações e em Cerâmica/Materiais, na última área recorrendo a parcerias internacionais. Estruturam‐se os Serviços Académicos, com funções em Saúde, Alojamento, Alimentação e convívio, Atividade física e desporto, Práticas artísticas, culturais etc., Bolsas de estudo, Orientação profissional, Infantário, Supermercado e Livraria. Dimensionavam‐se os serviços para 80 estudantes, 15 a 30 professores, 30 a 40 “funcionários técnicos, administrativos e auxiliares”.
A afluência às Universidades, em outubro de 1974, foi superior em 46% ao que tinha sido no ano de 1973. O país acordara. Reforçou‐se a dotação das universidades em 200 000 contos, para um total de 1 milhão e 300 mil contos.
Nesse ano de 1974, as novas admissões na Faculdade de Letras da UL cresceram 197% e no Instituto Superior Técnico 402%. Em Medicina, também em 1974, registaram‐se quase 5 000 novos estudantes, contra cerca de 2 400 no ano anterior. O ano passado, o número de vagas em Medicina foi de 1 505.
Os espaços eram insuficientes (os mais de 7 400 estudantes da Faculdade de Letras tinham à disposição 14 salas). A DGES chamava a atenção para o “aproveitamento de 8%” e para a má qualidade do ensino. Havia muito a fazer, mas muita vontade de o fazer.
A UA 50 anos depois
Na Universidade de Aveiro também. Fomos reduzindo a distância entre sonho e realidade. A UA começou por olhar (e bem) para os distritos de Aveiro e Viseu, que pretendia muito em especial servir. Hoje, a dimensão global supera a local. Em 2020, o número de estudantes de fora do Distrito de Aveiro ultrapassou pela primeira vez os do Distrito de Aveiro.
Este ano, o total de diplomados pela UA supera largamente o total de diplomados em 1974 por todas as universidades portuguesas. Os que têm nacionalidade portuguesa vêm de 233
dos cerca de 300 concelhos do país, de todas as NUTS3 e de todos os distritos, com duas exceções: as ilhas de Porto Santo e Corvo. Os naturais dos municípios da Região de Aveiro
correspondem a um em cada três diplomados.
Ainda considerando só os diplomados deste ano, encontramos mais de 40 países da Europa, Ásia, África, América do Norte, Central e Sul, e Oceânia. Mas, ao longo dos últimos anos, passaram pela UA estudantes de 127 países.
A UA é hoje uma instituição global num mundo global. Só assim poderemos continuar a oferecer à Região de Aveiro e ao país serviço público de qualidade internacional.
Estudantes e 45 anos de AAUAv
Os estudantes são a razão de ser das universidades. Em 1974, eram poucos. Há anos, assinalámos a matrícula da nossa centésima milésima estudante. A Associação Académica
da Universidade de Aveiro, o seu maior projeto associativo estudantil, festeja 45 anos de serviço aos estudantes. Temos a presença do atual presidente, Wilson Carmo, de outros
antigos presidentes, e do primeiro presidente José Cruz, que em 1978 fundou a Associação de Estudantes da UA. Temos o nosso passado bem presente. Os meus parabéns a todos por estes 45 anos de juventude sempre renovada.
Medicina
Falei da grande afluência às Universidades nesse singular ano de 1974, e em particular do crescimento em áreas como Medicina.
Recentemente, a Universidade de Aveiro passou a contar com um Mestrado Integrado em Medicina acreditado pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior. Os nossos
parceiros são os três centros hospitalares e os seis Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) a norte do Mondego e a sul do Douro, entretanto reagrupados em três Unidades
Locais de Saúde: ULS Região de Aveiro, ULS Entre Douro e Vouga e ULS Gaia/Espinho, no âmbito do Centro Académico Clínico Egas Moniz Health Alliance.
Este Centro Académico Clínico foi proposto e aprovado em 2021 e encontra‐se em funcionamento desde então. É o PRIMEIRO e único Centro Académico Clínico em que a UA
está ou esteve presente. Somos a única universidade envolvida.
O Mestrado Integrado em Medicina é também o PRIMEIRO curso de Medicina em que a Universidade de Aveiro é a única parceira académica, o que garante a autonomia estratégica para um desígnio que une e entusiasma todos os parceiros, a quem muito devemos. Na pessoa do Vice‐Reitor Artur Silva, agradeço a toda a equipa que tornou tudo isto possível.
Investigação
Não posso deixar de falar de investigação, que na visão fundadora da UA já ocupava lugar de destaque. O percurso deste meio século é notável. O destaque deste ano é a inauguração do Centro Português de Ressonância Magnética Nuclear, uma infraestrutura com equipamentos únicos na península ibérica, raros na Europa e até no mundo.
Existem muitos milhares de universidades em mais de uma centena de países que são consideradas para rankings. Segundo os responsáveis pelo recentemente atualizado QS
Ranking, para o período 2018‐2023, a Universidade de Aveiro está entre as 100 melhores do mundo em investigação; e na posição 73 no que respeita a um dos parâmetros mais
relevantes, muito acima de qualquer outra instituição nacional, e muito acima de instituições dotadas de recursos significativamente superiores. Agradeço a todos aqueles cujo trabalho e visão nos fizeram chegar aqui.
Honoris causa
Farei uma breve menção ao doutoramento honoris causa de hoje. Breve, porque a tarefa da sua apresentação recai sobre outra pessoa. Mas imprescindível ainda assim, pelo significado que o ato tem para todos nós.
Ouvi há pouco Joana Carneiro dizer ao Conselho Nacional de Educação que o principal é criar beleza. Sérgio Godinho é uma das vozes de abril, um símbolo sonoro de ousadia e
liberdade e um criador de beleza. Combina música e palavra, convertendo‐as em instrumento de interpelação e transformação social. Imprime‐lhe a sua assinatura estética, única, inconfundível. Influenciou gerações, ao longo de mais de 50 anos de carreira, que se sobrepõe temporalmente à evolução da própria UA, aos nossos 50 anos e aos 50 anos de
abril.
Criar e inovar sempre fizeram parte da essência da Universidade de Aveiro. Sérgio Godinho encarna essa capacidade e incorpora os valores que tão bem descrevem os 50 anos da
Universidade de Aveiro: a ousadia, a liberdade, mas também a versatilidade e a capacidade de adaptação à mudança, preservando sempre a identidade.
A Universidade de Aveiro e Sérgio Godinho cruzam hoje os seus caminhos. Seguiremos em frente, juntos, “dando a volta ao medo e dando a volta ao mundo”. A sua presença na nossa galeria de Doutores Honoris Causa reforça e comprova o compromisso da Universidade de Aveiro com a cultura, a arte e o conhecimento, pilares essenciais do desenvolvimento humano. É um privilégio acolhê‐lo na comunidade UA. Muito obrigado.
Os medalhados
Falemos dos medalhados. São as pessoas que definem a identidade da Universidade de Aveiro e que constituem, simultaneamente, a sua memória e o seu futuro. Por isso, a Cerimónia de Entrega de Medalhas aos Trabalhadores é um momento especial para toda a comunidade, em que celebramos e distinguimos a dedicação e o empenho daqueles que ao longo do tempo contribuíram para o crescimento e êxito da nossa instituição.
Este ano distinguimos 191 trabalhadores; 33 completaram 10 anos ao serviço da UA, 41 atingiram 20 anos, 54 chegaram aos 25, 29 completaram 30 anos, 14 os 35 anos, 11 os 40
anos e 9 os 45 anos. Ao todo, são 4 705 anos de serviço na UA.
Mais que tempo de serviço, sublinhamos o talento, o compromisso e a paixão que cada um tem demonstrado na concretização da missão da Universidade. Cada medalhado faz parte
da história e do sucesso da Universidade de Aveiro. Foi graças ao sonho e ao trabalho de todos que nos tornámos no que somos hoje.
Presto homenagem também àqueles que já não estão fisicamente entre nós, mas que deixaram o seu contributo e marca na academia. No ano em que comemoramos 50 anos é
justo que recorde e agradeça a todos, e são tantos. Muito obrigado.
Conclusão
Simone Weil disse que “O futuro é feito da mesma substância do presente”. As ações e decisões de hoje terão impacto no nosso futuro, assim como o nosso passado tem influência no que somos hoje. Todos nós somos fundamentais para o futuro da UA. Será sempre com as pessoas – de ontem, de hoje e de amanhã – que escreveremos a história da UA, inspirados pelo legado dos que nos precederam e construindo com todos o nosso futuro.
* Reitor da Universidade de Aveiro. Sessão de Entrega de Medalhas aos Trabalhadores da UA e Doutoramento Honoris Causa de Sérgio Godinho.
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