Todos nós!

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Foto José Dinis (Facebook).

Cabe-nos a nós, comum dos mortais, pessoas que sempre foram chamadas a participar nas tomadas de decisões públicas e nos atos eleitorais que decidem quem são os nossos governantes locais, nacionais e europeus, estar agora mais ativos do que nunca na defesa de nós próprios, das nossas famílias e amigos, da nossa sociedade, e mais passivos do que nunca na hora de criticar e opinar sobre quem tem que tomar as decisões que nos tocam a todos.

Por Rui Soares Carneiro *

Todos nós! Vivemos, experienciamos, ultrapassamos, combatemos, resistimos, lutamos, prevenimos, remediamos, inventamos, aturamos, criticamos… ui, se criticamos! Estamos num momento que nos ultrapassa a todos, que nunca pensámos vir a viver, que sempre admirámos em filmes de ficção científica, mas em que nunca pensámos que seriamos nós os atores principais.

O momento é complicado, difícil, em que somos confrontados com um vírus que nada nos diz, do qual nunca ouvimos falar, que a ciência desconhecia, que a capacidade de resposta nunca foi imaginada, pensada, planeada, e que nos conduz para uma realidade que nos restringe, inibe e retrai.

Somos, todos nós, todos os dias, de todas as formas, chamados a participar de forma ativa-passiva na resolução desta crise pandémica que atravessamos, e em que o que nos pedem é em tudo diferente do que foi pedido aos portugueses, e ao Mundo, jamais na história, de que há memória.

Num tempo em que a tecnologia reina, a informação abunda, a mobilidade é essencial, o turismo tresanda (critica positiva), a comunicação é constante e apelativa, em que a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental nos criam desafios e apelam à participação cívica, em que o civismo e a democracia tendem a ser cada vez mais participados (oxalá seja mesmo assim!), aquilo que todos os governantes e responsáveis pelos destinos do pais, da Europa e do Mundo nos pedem, enquanto cidadãos é, ficar em casa! Ficar em casa! Ficar em casa!

É um pedido estranho, à primeira vista, para qualquer cidadão, dos mais novos que não percebem os motivos e têm dificuldade em controlar a sua capacidade motora de modo a ficarem confinados ao interior de 4 paredes, aos mais velhos que não entendem bem as consequências de terem durante este período uma vida igual (em rotina) à que tiveram durante décadas a fio, e que são facilmente enganados com a quantidade de desinformação que também lhes chega a casa (a tecnologia, agora malvada!).

Mais estranho parece ser, e porque os motivos de compreensão para mim são menores do que para os dois exemplos e faixas etárias anteriores, a reação do comum dos mortais, dos estudantes do ensino superior, dos recém-casados, dos pais, casados e solteiros, dos trabalhadores independentes, dos que estão por conta de outrem, dos desempregados, dos empresários, dos com menos capacidade económica, dos mais afortunados, dos menos informados aos mais sábios, dos incógnitos às personalidades públicas e aos responsáveis por alguma causa pública.

Porquê?! Porque todos parecem saber mais do que aquilo que deviam! Porque todos parecem ter tirado um curso de última hora sobre saúde pública, sobre políticas públicas, sobre governação pública, sobre responsabilidade social, sobre economia, sobre finanças públicas, sobre logística, sobre todos os sectores e todas as áreas que estão na frente da linha de batalha no combate a esta pandemia que nos assola.

Todos nós! Todos devemos ter opinião sobre os mais diversos assuntos, todos devemos ler, ouvir, estudar sobre os mais diversos assuntos, todos nós devemos ter interesse em estar o mais bem informados sobre este vírus. E todos podemos dar a nossa opinião de forma livre, todos podemos selecionar as melhores fontes de informação, todos podemos comentar ou assobiar para o lado, todos podemos estar de acordo ou discordar se assim o entendermos. Todos podemos tudo o que a lei nos confere, e todos devemos tudo o que nos pedem, como forma coletiva, de dar a melhor resposta a esta crise.

Mas, e no essencial, todos nos devíamos recatar mais nas opiniões e nos achas e achamos desta vida, no seria melhor ou pior, no assim ou no assado, no concordo ou vou-me marimbar para isso, no criticar de forma barata e gratuita, no de ofender quem nunca conhecemos nem temos intenções de tal, no descredibilizar quem toma decisões, no ignorar as recomendações, no publicar ou deixar de publicar, no persistir em comentar tudo e todos, no postar, no falar por falar e porque todos nós temos que falar… Há pessoas, a quem o Estado de Emergência deveria decretar silêncio absoluto sob perigo de propagação contagiosa pior do que a própria COVID-19. Todos temos direito à opinião, mas não temos o direito de a tornar pública sem pensar nas consequências de tal ato.

Cabe-nos a nós, comum dos mortais, pessoas que sempre foram chamadas a participar nas tomadas de decisões públicas e nos atos eleitorais que decidem quem são os nossos governantes locais, nacionais e europeus, estar agora mais ativos do que nunca na defesa de nós próprios, das nossas famílias e amigos, da nossa sociedade, e mais passivos do que nunca na hora de criticar e opinar sobre quem tem que tomar as decisões que nos tocam a todos.

Aos que participam ativamente na nossa democracia, acreditem naqueles que elegemos, e nos meios e mão-de-obra especializada que têm à sua disposição, são o melhor que podemos ter e as decisões que tomam para todos nós acredito serem as que tomariam para si próprios e para os seus. Aos que não participam de forma ativa na democracia, e não elegeram os que têm que tomar decisões, contenham-se quando os vossos dedos tiverem espasmos de hiperatividade facebookiana, porque, ora uma forma simpática de dizer isto, vocês não percebem mais do que aqueles que estão na linha da frente desta luta!

Vocês (exceto algumas exceções) nunca estudaram para ter capacidade de dar resposta ao problema que enfrentamos! Experiência de vida também não é curriculum, acho que nunca ninguém viveu nada como este momento que ultrapassamos!

Não critiquem ao desbarato nem ofendam quem trabalha todos os dias e noites, dando resposta a milhares de solicitações, e tentando dar respostas rápidas, eficientes e responsáveis, ao mesmo tempo que podem ter bem perto, em casa, na família, amigos, pessoas em situação de risco ou contagiadas por este vírus que nos assola, e estejam longe todos os dias daqueles que mais amam para que não os coloquem em perigo com a atividade diária que estão a ter de momento na frente da batalha.

Eu também não concordo com tudo, também posso discordar de decisões, posso achar que não são suficientes, posso achar que são demais, posso criticar posturas, posso não querer fechar o meu negócio e ser obrigado a fazê-lo, posso querer sair e passear, posso querer resolver os meus problemas e dos meus, posso querer ir às compras, posso olhar constantemente para o meu umbigo; mas, o que não faço nem compactuo é vir para a praça pública, dar nota desse meu desagrado, expor as minhas críticas, ofender quem toma as decisões, exigir respostas sobre o que me dá mais jeito a mim resolver primeiro, nem colocar em causa todos os profissionais, sejam públicos, sejam eleitos, sejam privados, num momento que deve ser do maior respeito, da maior união, do maior espírito de sacrifício, da maior resiliência, que possamos alguma vez experimentar em todas as nossas vidas.

Irá chegar a hora de cada um tirar as suas melhores ilações de todo este momento, mas por agora: Fique em casa! Com respeito! Com compreensão! Com alegria por estar junto de quem ama! Mas fique em casa!

Rui Soares Carneiro.

* Gestor de Empresas, membro do Secretariado do PS Aveiro, vogal da Assembleia de Freguesia de Cacia ([email protected]).

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