Se utopia é a ideia de um mundo perfeito, imaginário, e distopia o seu oposto, o pensador Kevin Kelly criou o termo protopia – uma visão realista do mundo que avança a caminho de uma melhoria constante e não da perfeição. Um futuro realista, afinal.
Por Patrícia Monsanto *
Monika Bielskyte (1) desenvolveu a plataforma “Protopia Futures”, com o objetivo de desmistificar a ideia de um único futuro possível, e explorar as variadas possibilidades, tendo como foco a inclusão: questões étnicas, de género, preferências sexuais, deficiências motoras, diferenças culturais, entre outras.
Mas, que tipos de futuro as pessoas sonham? A forma como pensamos o futuro é influenciada pelas ficções que são consumidas durante a vida, por outras palavras, “aqueles que controlam a fantasia, controlam o futuro”. Contudo, esse poder não reside exclusivamente nos grandes líderes que moldam o quotidiano. Em todos nós começa na criança que teve acesso a uma cultura que a impactou, seja por obra de livros, ou cinema, ou outro meio, e decidiu que a sua vida seguiria esse mesmo rumo de forma a tornar essa ficção, realidade.
Enquanto futurólogos, supervisores ou futuristas, a designer de futuros indica que o objetivo da plataforma que desenvolveu é prever as várias possibilidades: as mais e menos prováveis, as que são impossíveis de acontecer, sempre com base nos domínios da tecnologia, ciência, sociedade, política e cultura. Sem esquecer que também a inércia e a apatia trazem consequências futuras “sempre que decidimos que o futuro é decidido por outra pessoa, noutro lugar, e nos desligamos do futuro, torna-se uma profecia autorrealizada”.
Utópica ou distópica, a forma de sonhar o futuro é imaginada como algo que isola o indivíduo e o distancia dos outros, e de si próprio. Monika Bielskyte lança outra visão, baseada na tecnologia, e de como esta pode criar uma relação de interdependência: “temos de imaginar, usufruir, e expandir as experiências sensoriais, e viabilizar demonstrações vitais, novas e diversas de intimidade, carinho e afeto”, esclarece. Desta forma, as tecnologias concebidas devem expandir o potencial do ser humano, não só a nível físico e mental, como criativo e emocional, permitindo uma maior conexão entre pessoas, inspirada no mundo orgânico.
Pensar tecnologia, e pensar como os futuros ficcionados têm impacto nos futuros reais, é ter de considerar as realidades e necessidades, tanto do ser humano como do planeta, ou planetas, que habita, de forma a assegurar a prosperidade e inclusão, dentro do leque de variedades culturais, físicas, sociais e étnicas. Por isso, sempre que imaginar um futuro, lembre-se de que poderá estar mais perto de moldar a realidade do que pode pensar.
(1) “From Fictional to Real Futures” foi a talk de Monika Bielskyte, no evento “Building the Future 2022”, promovido pela Microsoft.
* Artigo publicado originalmente na Magazine Líder.
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