Sustentabilidade sobre rodas: a mobilidade ao serviço das cidades do futuro

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Transportes (imagem genérica).

Numa altura em que o número de pessoas a viver nas cidades é cada vez maior – estima-se que a percentagem de pessoas a viver em centros urbanos aumente de 56% (valor atual) para 70% até 2050 -, nunca foi tão importante repensar os centros urbanos de forma realmente transformadora, criando comunidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis.

Por Inês Alves *

A nível global, as cidades, que representam apenas 3% do território, são responsáveis por 70% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) mundiais. A mobilidade é responsável por uma parte significativa destas emissões.

Viajemos até Braga, o município onde, desde 2022 está em vigor o PMEB – Pacto de Mobilidade Empresarial de Braga. Nesta região, 65% das emissões de GEE são oriundas da mobilidade urbana, de acordo com o primeiro Relatório de Sustentabilidade do município, publicado em 2019. Desta forma, a transição para a mobilidade sustentável tem um papel central para a redução das emissões locais e representa uma oportunidade inequívoca de repensar a organização da cidade.

Dada a importância da mobilidade, são também vários os compromissos nacionais, europeus e mundiais – como o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, o Pacto Ecológico Europeu e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas – que referem de forma estratégica a mobilidade sustentável e os transportes descarbonizados, económicos e acessíveis a todos.

A mobilidade não só desempenha um papel central na diminuição das emissões de GEE, mas também na mitigação das alterações climáticas, no uso eficiente dos recursos e na transição para uma economia circular.

Por outro lado, possui também um papel relevante na redução das desigualdades sociais e maior inclusão, saúde e bem-estar da população, na adoção de hábitos de vida saudáveis e sustentáveis e na diminuição do congestionamento das cidades que, por sua vez, vai impactar a saúde mental e bem-estar da população.

É neste contexto que, em 2022, é assinado o PMEB, um pacto composto inicialmente por 22 empresas e instituições bracarenses que se comprometem com ações especificas de mobilidade sustentável e inclusiva.

Mas se é unânime a necessidade de transição para uma mobilidade sustentável, aliada ao planeamento das cidades, para o futuro do país, o que é que falta para sermos capazes de apanhar o comboio da mobilidade sustentável? Sem prejuízo de existirem outros aspetos que tenham conduzido a esta falta de concretização, destaca-se a incapacidade de mobilizar todos os intervenientes relevantes em prol deste objetivo comum. As metas estipuladas exigem o envolvimento do maior número de intervenientes possível, que trazem consigo diferentes pontos de vista e experiências, e o trabalho colaborativo alinhado para o mesmo objetivo.

É neste contexto que, em 2022, é assinado o PMEB, um pacto composto inicialmente por 22 empresas e instituições bracarenses que se comprometem com ações especificas de mobilidade sustentável e inclusiva. Desta forma, o PMEB alia o contributo do setor empresarial e a influência que este tem nas deslocações pendulares dos seus colaboradores (movimentos diários casa-trabalho ou casa/trabalho-escola) – que representam uma das principais movimentações urbanas – aos esforços que estavam a ser realizados pelo município.

Entre as entidades signatárias do pacto, estão empresas de variados setores de atividade, como a distribuição e transportes, construção, indústria e serviços. De entre as várias medidas propostas às entidades signatárias, fazem parte a aquisição de veículos elétricos; a partilha de viagens; a utilização de transportes públicos; a adoção de uma mobilidade ativa (com a promoção do uso da bicicleta, ou outros modos suaves); a implementação de práticas para a gestão eficiente das rotas; a promoção de reuniões remotas, ou a adoção de um regime de teletrabalho/híbrido, permitindo reduzir as deslocações, a diminuição do tráfego e consequente poluição atmosférica.

Num compromisso global entre empresas, instituições, administração local e sociedade no geral, a adoção destas medidas impacta mais de dez mil pessoas e espera-se que evite a emissão de 582 toneladas de GEE ao ano, só através da substituição de 3% da frota por veículos elétricos. O PMEB facilita interligações entre várias entidades signatárias através de reuniões de partilha de conhecimento e de boas práticas, do desenvolvimento de sessões de design thinking, que promovem a partilha de experiências e o trabalho colaborativo, e de eventos, fomentando o networking. Do PMEB resultam ainda parcerias entre o setor empresarial, o operador de transportes públicos local e/ou o município, que podem consistir em mudanças simples ao nível dos horários dos transportes públicos, alinhando-os às necessidades de deslocação dos colaboradores; ou a projetos-piloto estruturantes ao nível das infraestruturas disponibilizadas ao setor empresarial para a descarbonização.

Assim, a mobilidade sustentável está na génese da construção de centros urbanos mais dinâmicos, resilientes e tecnológicos. A ação política, a colaboração com a sociedade civil e a inclusão do setor empresarial é critica para a construção de um ciclo virtuoso que beneficia naturalmente soluções de mobilidade sustentáveis, essencial para mudança de paradigma do modo deslocação em Portugal.

* Sustainability Knowledge Specialist do BCSD Portugal. Artigo publicado originalmente no site Transportes & Negócios.

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