Snu Abecassis, a “menina esperta” que marcou e revolucionou Portugal

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Snu Abecassis e Sá Carneiro.

Foi a partir do dia 6 de Janeiro de 1976, o dia em que Snu e Sá Carneiro se conheceram, que a paixão que viria a abanar os diversos setores patriarcais da sociedade, e que para muitos representou uma revolução, começou.

Por Nuno Alexandre *

Ebba Merete Seidenfaden, nasceu em 7 de dezembro de 1940 na Dinamarca. Filha de um casal de jornalistas e que desde de criança foi apelidada de SNU, que em dinamarquês significa esperta. Em criança foi enviada para um colégio interno nos arredores de Londres, onde veio a conhecer o português Vasco Abecassis com quem casou mais tarde na Suécia e com quem teve 3 filhos.

Nos anos 60, Snu e Vasco vieram para Portugal e mal chegou Snu deparou-se com um país fechado e isolado em si mesmo e reprimido pelo regime fascista que o dominou e oprimiu durante longos anos. Snu era uma mulher livre, com ideais, corajosa e frontal e lutou desde o início contra o regime ditatorial. Para abrir novos caminhos e novos horizontes, ergueu a editora Publicações D. Quixote, que atualmente está integrada no grupo LEYA. A editora tornou-se, desde a sua fundação, numa das maiores editoras de Portugal. A D. Quixote foi responsável pela publicação de livros que transmitiam informação sobre a pílula, sobre o aborto e abordava vários temas como a guerra do Vietname e até mesmo os podres e crises da igreja católica, ou seja, editava obras e abordava temas que contrariavam os ideais criminosos, conservadores e patriarcais da ditadura salazarenta.

A PIDE, polícia política do regime fascista, começou a perseguir, a ameaçar e a vigiar Snu. Muitas obras editadas pela D. Quixote foram vastas vezes censuradas. Essa perseguição e as ameaças intensificaram-se quando em 1967, Snu convidou um escritor soviético Evgueni Ievtuchenko a visitar Portugal. Apesar das ameaças, dos interrogatórios, da perseguição e das escutas Snu continuou fiel aos seus ideais e continuou a desafiar e a lutar contra o regime fascista e os seus aparelhos repressivos.

Depois da Revolução de Abril, que derrubou a ditadura e todos os seus aparelhos e órgãos repressivos, Snu vive intensamente todo o período revolucionário e contribui para a concretização e construção de um sonho, ajuda a construir a Democracia e um Portugal Livre. Snu acompanha os vários espectros políticos e edita uma nova coleção de livros intitulada “PARTICIPAR”, onde dá também a conhecer os projetos e pensamentos políticos de Mário Soares, Álvaro Cunhal e Francisco Sá Carneiro. Snu revia-se nos ideais e no projeto político social-democrata de Sá Carneiro e mostrou ter uma grande vontade em conhecê-lo. É através da grande Mulher e Poeta Natália Correia que os dois se conhecem. Francisco frequentava assiduamente o Botequim, bar de Natália, e foi aí que Natália pediu a Francisco que se encontrasse com Snu. O então presidente do PPD/PSD questionou Natália perguntando-lhe como é que era a fundadora da D. Quixote e a poeta através da sua poesia e grandes palavras responde-lhe que a Snu “É uma princesa nórdica num esquife de gelo à espera que venha o seu príncipe encantado dar-lhe o beijo do fogo. E esse Príncipe é você. Porque ela é a mulher da sua vida”.

Foi a partir do dia 6 de Janeiro de 1976, o dia em que Snu e Sá Carneiro se conheceram, que a paixão que viria a abanar os diversos setores patriarcais da sociedade, e que para muitos representou uma revolução, começou.

Snu divorciou-se de Vasco Abecassis, mas ambos mantiveram sempre uma relação de amizade. Sá Carneiro nunca se conseguiu divorciar porque Isabel, a mulher com quem estava casado, nunca quis dar o divórcio e na altura a igreja católica, na pessoa do Bispo do Porto, e alguns altos dirigentes do PPD/PSD tornaram-se também num obstáculo, fazendo com que divórcio nunca viesse a ser concretizado. Apesar disto, das críticas, da discriminação e das “más línguas”, Snu e Francisco continuaram a viver a sua vida romântica e calorosa história de amor. Snu era uma grande força e apoio para Francisco, e vice-versa. Apareceram várias vezes lado a lado nos comícios e até nas campanhas eleitorais da AD (Aliança Democrática PSD-CDS-PPM), coligação da direita que venceu as legislativas de 1980, e onde Francisco se torna Primeiro-Ministro de Portugal.

É no dia 4 de Dezembro de 1980, que acontece uma enorme tragédia. O então Primeiro-Ministro Sá Carneiro, Snu Abecassis, Amaro Da Costa (na altura Ministro da Defesa Nacional) e a sua mulher e todas as restantes pessoas que seguiam na avioneta, morreram na consequência da queda da mesma. A avioneta que tinha como destino o Porto, onde Sá Carneiro ia ao comício da candidatura de Soares Carneiro à Presidência da República, despenhou-se em Camarate.

A Snu marcou a segunda metade do século XX e deixou as suas pegadas e marcas em Portugal. 43 anos depois do seu desaparecimento é justo prestar homenagem a esta grande mulher que muito nos deu e quis dar. Nunca será esquecida.

* Estudante de Sociologia na Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra (FEUC).

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