Os quase dois anos de pandemia que, com ou sem teorias da conspiração, com ou sem negacionismos, com ou sem mediatismos excessivos e comentadores para todos os gostos provocou uma globalização sanitária e económica sem precedentes, foi por vontade e loucura de Vladimir Putin liquidado, sem armas nucleares, em poucas horas.
Por Rui Cernadas *
Como sempre, no dizer dos estrategas de guerra, qualquer adversário vale o que vale e só uma força maior o pode controlar, amedrontar ou pulverizar.
O recurso à mentira, à cegueira ou a outros exercícios de natureza demencial, quando alicerçado no rigoroso e doentio controlo da informação pluridimensional, é uma outra via de construir formas de violência e de guerra.
E Putin, o vírus de Leste, anquilosado geneticamente e comportamentalmente condicionado pelo embebimento soviético, tornou-se assim o inimigo principal, também ele quase à escala planetária, este sim, verdadeiramente inequívoco quanto à sua origem, nacionalidade e ADN!
O mais grave e trágico é que, o chamado Ocidente e a Europa em particular deixaram que o “monstro” crescesse e ficasse insolente e desmiolado, temível, adiando, adiando e adiando sem planeamento da resposta, nem decisão.
E entre o dramático e o ridículo percebemos que, há deputados que se dizem europeus, que em pleno Parlamento Europeu se recusaram a votar pela Europa que os elegeu!
Em simultâneo, o que é certo é a estimativa astronómica de trabalho extraordinário realizado no SNS e pago ou a pagar a profissionais de saúde e empresas prestadoras de serviços relativamente a 2021.
E certo é que, estes valores são como água a fugir entre os dedos de duas mãos, improdutivos, incapazes de representar um investimento eficiente ou estruturado no SNS.
Entre nós, a retoma assistencial é ainda incerta.
O envelhecimento populacional continua a associar-se ao peso das doenças crónicas e da mortalidade por esta razão.
Podemos falar das doenças vasculares, cardíacas ou cerebrais, da diabetes, das patologias oncológicas, das demências enfim.
O problema na perspectiva clínica mais alargada passa ou radica mesmo na coexistência destas várias morbilidades. Por exemplo, conhecemos bem o impacto das relações vasculares entre a diabetes, a doença vascular periférica e a doença coronária.
É claro que as síndromes geriátricas acompanhando-se de deteriorações fisiológicas das reservas funcionais vão acentuar, facilitar ou prognosticar efeitos terceiros que colocam sucessivas complicações e custos.
Entre os idosos, os quadros de depressão e de perturbações do sono e, muitas vezes a necessidade do recurso a fármacos como anti-psicóticos, antidepressivos ou hipnóticos vai elevar o patamar da dificuldade de gestão destes doentes. O risco de queda e de fracturas, as alterações visuais comuns, as incontinências de esfíncteres ou os períodos de sonolência e de confusão mental são por isso de considerar.
Uma outra vertente e que impacta no consumo de recursos, bem como na dimensão social ligada ao acolhimento de idosos – principalmente quando portadores de situações de autonomia residual ou muito limitada – é a que se prende com as hospitalizações. Aqui a questão liga-se à das altas clínicas adiadas e proteladas, muitas vezes sem lugar em estruturas residências de idosos ou sem familiares ou cuidadores que os possam receber.
Conviria também apostar no estudo do envelhecimento numa perspectiva estratégica sem a qual não haverá respostas consistentes de fundo.
É que até no plano clínico assistencial e diria, no plano social de acompanhamento dos mais idosos, seria preciso aprofundar o estudo, análise e identificação das diferenças entre populações de idosos com e sem doenças crónicas. Essas diferenças permitiriam uma gestão diferenciada global, isto é, desde a prevenção atempada e eficiente das respostas até ao tratamento orientado e específico.
O SNS está organizado por níveis de actuação e de intervenção. Mas falta como sempre a visão de longo prazo e uma articulação capaz pese a discussão em torno deste tema há décadas.
O governo de Portugal, como o chamado Ocidente e a Europa com Putin, para o SNS vai adiando, adiando e adiando sem planeamento da resposta, nem decisão.
* Assistente Graduado MGF. Artigo publicado originalmente no site Healthnews.pt https://healthnews.pt/2022/03/06/sem-planeamento-da-resposta-nem-decisao/
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