Sever do Vouga deve o seu nome ao Conde Sevéri e ao Rio Vouga, mas que o Rio seja lembrado pela sua beleza, pelos seus recursos, pelos seus maravilhosos recantos, pela sua força, pela sua rebeldia e não pelos danos que causa aliada a uma má gestão por parte dos humanos que o usam para seu proveito.
Por Luís Pedro Carneiro *
Não queria estar intervir, mas após ler tanta asneira tenho que dizer o que me vai na alma.
Cheguei a Sever do Vouga na 5º feira dia 19 de dezembro, às 12h20 e só fui a Sever do Vouga nesse dia porque tinha que prestar depoimento na GNR na tentativa de identificar o autor da tentativa de assalto ao Bar Mustache, que decorreu no outono.
Mas, como referi, cheguei por volta das 12h20 e fui à praia fluvial dar de comer aos patos. Quando ai cheguei o rio estava com alguma corrente mas no seu caudal normal, ou seja, no limite da base do muro a montante do areal.
Posso até informar que, depois de estacionar debaixo do bar, até dei a volta pelo areal para não fazer marcha atrás.
Após o almoço, fui então à GNR e durante o depoimento um agente veio informar-me que estava a água do rio na rotunda da praia fluvial, até respondi em tom de brincadeira “qual rotunda ? A das escolas?, mas desloquei-me logo para a praia fluvial e só tive tempo de calçar as botas de pesca (botas que tem um corpo até ao pescoço), meter-me na água para tentar salvar o que era possível e amarrar as mesas de pic-nic que estão espalhadas pela zona de lazer.
Colocámos os equipamentos e algum material que resgatamos no patamar mais elevado (acesso pedonal ao bar) e que até à data nos dava alguma segurança. Durante este resgate observamos a subida da água dentro do que seria razoável.
Por volta das 19h00 vim embora estando a água a meio metro do dito patamar, mas como esse era o limite de outras cheias vim descansado.
Ao passar pela Ponte do Poço de Santiago vi que o restaurante do Sr. Vieira estava com a cave já inundada, mas a funcionar normalmente e aqui sim podia ter acontecido uma catástrofe, porque não houve aviso a quem quer que seja que a água iria subir a níveis já vistos (2001), mas não em tão pouco tempo.
Na nacional 16 o tráfego era o normal para um fim do dia, estando os bombeiros a retirar uma árvore da via, mas nada demais, somente muita água na via resultante das muitas quedas de água que vêm da Ecopista.
Por volta das 22h00m, ligam-me a informar que a água estava já acima do patamar onde tínhamos colocado os equipamentos e algum material. Se não fosse o apoio dos que são os verdadeiros amigos nestas situações, não é que outros não o fizessem também mas estão muito longe de Sever do Vouga, e todo esses equipamentos e material estariam perdidos.
O mesmo não podemos dizer dos equipamentos que estavam dentro do bar e da casa de apoio que devido à subida repentina da água, mais de dois metros, sim dois metros !, em menos de uma hora, tivemos que deixar ficar para trás.
Não estou a dizer que não há cheias no Rio Vouga. Houve, há e sempre haverá, mas com uma subida da água tão rápida não há memória.
A culpa vai morrer solteira, ou será que não vamos deixar que isso aconteça, pois, já que a comunicação social esqueceu Sever do Vouga e só o Exmo Sr. Presidente da Câmara de Águeda chamou os “bois pelos nomes”, teremos que ser nós os lesados a arregaçar as mangas para colocar novamente em funcionamento tudo aquilo que esta catástrofe destruiu.
Não é com uma gestão de caudais destas que se controlam caudais em tempos de tempestade, senão vejamos na vizinha Vale de Cambra os rios que atravessam a localidade não causaram estragos, será porque são rios que não têm grandes barragens.
Só para informação:
Durante a tarde do dia 19 caudais entre os 300/400 metros cúbicos por segundo, às 19h00 700 metros cúbicos segundos e às às 21h30, 1200 (ou mais) metros cúbicos segundos,
Já agora para um dos que fala sem saber do que fala. O Rio Mondego tem barragens, sendo a da Aguieira a sua mais representativa a da Raiva e o Açude de Coimbra, que de açude só tem o nome, porque só não produz energia, mas retém muitos metros cúbicos de água.
As sirenes deviam ter tocado e não tocaram, ponto.
Podíamos estar a lamentar perdas humanas, felizmente não, ponto.
Sever do Vouga deve o seu nome ao Conde Sevéri e ao Rio Vouga, mas que o Rio seja lembrado pela sua beleza, pelos seus recursos, pelos seus maravilhosos recantos, pela sua força, pela sua rebeldia e não pelos danos que causa aliada a uma má gestão por parte dos humanos que o usam para seu proveito.
Por mim, ao longo dos 22 anos que já estou em Sever do Vouga, tudo tenho feito para que o Rio Vouga seja visto como um local a visitar e usufruir dentro da melhor relação entre o ser humano e a natureza.
Bem hajam.
* Gerente na empresa Turnauga, em Sever do Vouga.