Se o futuro automóvel é elétrico, temos de agir já

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Carregamentos elétricos, Albergaria-A-Velha.

Este dado surpreenderá muita gente. Desde o início do século XIX que as baterias existem. Mas as baterias dos primeiros automóveis eram caras e ineficientes, e claro, os veículos custavam o dobro do preço de um automóvel a gasolina. Por isso, a sua aplicação para a mobilidade foi, ao longo das décadas, sendo continuamente suplantada pelos motores a combustão. Para termos uma ideia, no final do século XIX, cerca de 40% dos carros nos EUA eram elétricos, mas os veículos movidos com recurso a gasolina continuaram a ser mais atrativos, muito devido ao fator preço.

Por Luís Rosa *

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O rápido desenvolvimento tecnológico aplicado a estes veículos nas últimas décadas – por exemplo, na composição e complexidade das baterias – mas também a emergência climática que vivemos atualmente, permitem-nos antever que a eletricidade será o futuro da mobilidade.

Grandes grupos automóveis começam já assumir o compromisso de avultados investimentos em veículos elétricos. No início deste ano, o grupo Stellantis assegurou que vai começar a produzir em larga escala versões 100% elétricas das marcas Citroën, Fiat, Opel e Peugeot. Este mês, vimos anunciada a criação de uma nova empresa, a Leapmotor Internacional, que promete comercializar carros elétricos a preços competitivos, e também a japonesa Honda garantiu que vai investir quase 60 mil milhões de euros em veículos elétricos até 2030.

No que respeita ao ambiente, será fundamental mantermos o foco. Se, por um lado, os motores elétricos ajudam a reduzir a pegada ambiental e a emissão de gases com efeitos de estufa, a produção das baterias poderá ter um grande impacto ambiental. Mas também neste campo assistimos a passos muito positivos: as baterias de lítio – iões de lítio ou fosfato de ferro-lítio (as designadas baterias LFP), ao contrário do cobalto e do níquel, têm muito menos impacto no ambiente e, por consequência, reduzem a dependência de combustíveis fósseis. Estas baterias têm também uma maior capacidade de armazenar energia, de serem recarregadas, e de funcionarem a temperaturas inferiores.

Quem sabe, num futuro próximo, se desenvolvam baterias que não precisem de lítio, em versões ainda mais seguras para os utilizadores. Se tornarmos estas baterias mais acessíveis, os carros elétricos serão também eles mais económicos, e todos sairemos a ganhar.

No que diz respeito à aquisição, os carros elétricos ainda são mais procurados por empresas do que por clientes particulares, porque há muitos mais incentivos. Por exemplo, as empresas que adquiram estas viaturas têm direito à isenção total de tributação autónoma, podem deduzir o IVA na totalidade, e também não pagam Imposto Único de Circulação (IUC). É preciso mais incentivos, até porque os carros elétricos ainda são uma opção pouco procurada no que diz respeito ao mercado dos automóveis usados, que continua em grande expansão. Quando se procura um automóvel elétrico, tendencialmente procura-se sempre novo, ou seminovo.

Se sabemos que os veículos elétricos farão parte do futuro, e a venda de carros está a aumentar — nos primeiros três meses deste ano venderam-se 21 milhões de automóveis em todo o mundo — é urgente que se estabeleça, rapidamente, a regulamentação que permite a transformação de motores a gasolina e a gasóleo em elétricos para carros, e que se criem mais incentivos para a aquisição destes veículos, cujos preços são hoje ainda muito elevados e dificilmente acessíveis à maioria da população.

Para se avançar significativamente na venda de carros elétricos e respetivas adaptações, também é preciso que a rede de carregamento pública seja reforçada e se reduza o preço dos carregamentos. Isto porque ainda existe uma diferença significativa entre carregar o automóvel em casa e na rede pública. Só com mais pontos de carregamento na via pública e com regras de utilização simples e eficazes, com opção de pagamento no próprio local (como já acontece em alguns países), sem ter de recorrer à adesão de serviços em operadoras, veremos mais carros elétricos a circular.

Olhando para o setor, será cada vez mais importante que os profissionais de stands de compra e venda de automóveis estejam bem informados e a par das últimas tendências nos vários segmentos, do elétrico aos automóveis a combustão. Os desafios e a complexidade que o mercado dos veículos elétricos ainda nos traz, exigirá uma atenção cada vez maior ao cliente, e profissionais que consigam esclarecer as dúvidas e ir ao encontro das suas necessidades.

Os veículos elétricos já não são apenas uma alternativa. Vieram para ficar e por mais tempo que demorem a superar os automóveis a combustão, irão estabelecer-se como uma tendência mais sustentável para o setor automóvel. Por isso, se sabemos que o futuro também será elétrico, saibamos preparar-nos atempadamente, para garantir que não ficamos para trás.

* Diretor Coordenador Nacional da DS AUTO. Artigo publicado originalmente no site Ambiente Magazine.

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