O perigo rodoviário está bem patente na nova rotunda do ISCA, em que as boas práticas de projecto para protecção de utilizadores vulneráveis não foram cumpridas. Logo após o anúncio de conclusão da obra e da sua abertura ao trânsito, uma jovem foi atropelada numa das passadeiras da rotunda.
Em claro e continuado desprezo pelos utilizadores vulneráveis, a autarquia, com múltiplas soluções ao seu dispor para o efeito, optou por não implementar medidas físicas eficazes de redução de velocidade dos veículos motorizados.
Os manuais de projecto de infraestrutura ciclável indicam explicitamente que rotundas com mais do que uma via de circulação automóvel são perigosas para os utilizadores de bicicleta e que, onde os ciclistas têm prioridade nos atravessamentos (como acontece nas passagens para velocípedes da rotunda do ISCA), nunca devem existir saídas da rotunda com duas vias de trânsito. Além disso, de acordo com o Código da Estrada, os condutores devem ocupar a via de trânsito mais à direita da rotunda após passar a saída anterior àquela por onde pretendem sair, devendo assim sair em fila e não a par. Pelo que não se justifica a existência de saídas com duas vias de trânsito na rotunda do ISCA, e com o qual teriam sido conseguidas condições de segurança substancialmente melhores para o atravessamento de peões e utilizadores de bicicleta.
Ao invés, a autarquia optou por uma solução de “faz de conta” para a protecção dos ciclistas, com pilaretes flexíveis. Menos de uma semana após a abertura da rotunda ao trânsito, vários deles foram já arrancados presumivelmente pela colisão de automóveis.
Um outro erro da infraestrutura prende-se com o facto de os ciclistas abordarem as passagens de atravessamento para velocípedes de costas para a proveniência do tráfego rodoviário, quando as boas práticas indicam que essa abordagem deve ser na perpendicular à direcção do fluxo de trânsito. A configuração implementada impede um campo de visão apropriado e dificulta a verificação atempada das condições de segurança, i.e. a cedência de passagem por parte dos veículos que saem da rotunda. Mais uma vez, a autarquia descartou toda a panóplia de soluções existentes e recomendadas pelos manuais de referência para o efeito.
Por último, os utilizadores de bicicleta que se dirigem à Avenida da Universidade deparam-se com um troço de ciclovia que termina no passeio, onde a lei portuguesa (Código da Estrada) proíbe a circulação de bicicletas.
Por todos estes motivos, a MUBi Aveiro exige que as condições de segurança para os utilizadores vulneráveis sejam melhoradas na rotunda do ISCA e considera que seria inaceitável que erros idênticos fossem cometidos na implementação do restante trajecto ciclável que liga a Estação de Comboios ao campus da Universidade de Aveiro, em especial nas intersecções com maior intensidade de tráfego motorizado: a Rotunda do Pingo Doce e o cruzamento com a Av. Mário Sacramento. Este projecto, financiado pelo erário público com o objectivo de fomentar a transferência modal do automóvel para a bicicleta na cidade, foi já fortemente penalizado pela escolha de um percurso exterior ao centro urbano.
Uma nota final para a Universidade de Aveiro que também não passa incólume neste processo, ao ter assinado o acordo de cooperação com a CMA e ao introduzir mais uma entrada de acesso rodoviário ao campus sem previamente ter estabelecido qualquer estratégia para reduzir o número de automóveis que chegam diariamente à academia aveirense.
Tomada de posição da MUBi (texto na integra, com imagens)
MUBi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta / Secção Local de Aveiro