Roteiro queirosiano em terras aveirenses

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Monumento a Eça de Queirós, Avenida Europa, Aveiro (foto Cardoso Ferreira).

Na região de Aveiro há referências suficientes para se criar um roteiro queirosiano, ainda que alguns membros da família do escritor (José Maria) Eça de Queirós – nomeadamente o seu avô Joaquim José de Queirós, o seu tio-avô Fernando José de Queirós e o seu pai José Maria de Almeida Teixeira de Queirós – mereçam, por si só, figurar na história aveirense.

Por Cardoso Ferreira | [email protected]

O centro nevrálgico desse roteiro queirosiano é o lugar de Verdemilho, na freguesia de Aradas, onde se situa o que resta (fachada) da velha e arruinada casa da Quinta da Torre, propriedade que pertenceu a Joaquim José de Queirós e onde Eça de Queirós passou alguns anos da sua infância.

Em Verdemilho nasceu, no dia 15 de novembro de 1851, Alberto Eça de Queirós, irmão do escritor.

Ainda na freguesia de Aradas situa-se o cemitério do Outeirinho, junto à Igreja Matriz, no qual se localiza o jazigo onde estão sepultados os seus avós paternos, a sua tia Ana Libânia e o seu tio paterno Bernardo.

Quando Eça de Queirós morreu em Neully-sur-Seine (França), no dia 16 de agosto de 1900, o funeral esteve agendado para ter lugar em Verdemilho, o que não veio a acontecer. No entanto, em 17 de dezembro de 1932, Emília de Castro Pamplona, viúva de Eça de Queirós, escreveu a Luís de Magalhães, filho do parlamentar José Estevão Coelho de Magalhães e grande amigo da família Queirós, admitindo a possibilidade de transladar os restos mortais do escritor para o cemitério de Aradas, não para o jazigo dos avós de Eça, mas para um novo. Também isso nunca aconteceu possivelmente porque Emília de Castro Pamplona e Luís de Magalhães morreram, respetivamente, no dia 5 de junho de 1934 e 14 de dezembro de 1935.
Mais tarde, Eça de Queirós esteve em Verdemilho em visitas “nostálgicas”, numa dela acompanhado pelo poeta Guerra Junqueiro.

Costa Nova e Gafanha da Encarnação

Depois de Verdemilho, a Costa Nova é a mais queirosiana terra aveirense, por ser o local onde o escritor passou férias várias vezes, não só na companhia da sua esposa Emília de Castro Pamplona, mas também com outros vultos das letras e da cultura, como Oliveira Martins, Antero de Quental, entre outros.

“…E eu considero a Costa Nova um dos mais deliciosos pontos do globo. É verdade que estávamos lá em grande alegria e no excelente palheiro de José Estevão”, escreveu Eça de Queirós em julho de 1893. Numa outra carta, datada possivelmente do ano seguinte, o escritor referia que “Filho de Aveiro, educado na Costa Nova, quase peixe da ria, eu não preciso que me mandem ao meu encontro caleches e barcaças. Eu sei ir por meu próprio pé ao velho e conhecido palheiro de José Estevão”.

Eça de Queirós era um grande amigo de Luís de Magalhães, proprietário do palheiro adquirido pelo pai, José Estevão. Luís de Magalhães confidenciou que foi no famoso palheiro de José Estevão que Eça de Queirós acertou o seu casamento com Emília Castro Pamplona, numa estadia em que também esteve presente a sua futura sogra, a condessa de Resende.

Já na sua infância, Eça de Queirós tinha andado pelos areais da Costa Nova, uma vez que o seu avo paterno, Joaquim José de Queirós aí possuía um palheiro. Por isso, a Costa Nova é repetidamente referida na correspondência de Eça de Queirós, bem como serviu de inspiração para alguns trechos das suas obras.

Nesse tempo, nas suas deslocações para a Costa Nova, Eça de Queirós usava o comboio até a Aveiro e, daqui até à praia, tanto ia de barco pela ria como em carro de bois pelos areais da Gafanha até ao cais da Gafanha da Gramata (atual Gafanha da Encarnação), atravessando depois a ria na antiga barca que fazia a travessia entre aquela Gafanha e a Costa Nova.

De recordar que o seu avô, o já referido conselheiro Queirós, tinha uma propriedade agrícola no espaço que hoje é a Gafanha da Nazaré.

Aveiro e Ílhavo

Na idade adulta, poucas são as referências de Eça de Queirós na cidade de Aveiro, sabendo-se que a estação dos comboios era, geralmente, o seu local de chegada e de partida.

Mesmo assim, o escritor incluiu motivos aveirenses nos seus romances, nomeadamente o típico gabão de Aveiro e os ovos-moles de Aveiro, já famosos nessa altura.

Aurora Eça de Queirós, irmã do escritor, nasceu na cidade de Aveiro (freguesia da Vera Cruz), no dia 30 de setembro de 1853, onde também foi batizada.

O pai de Eça de Queirós, José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, residiu na cidade de Aveiro, na então Rua Larga (hoje, Rua José Estevão) numa casa onde atualmente se ergue o palacete que pertenceu ao Visconde de Vale de Mouro e onde funcionou o Centro Diocesano de Pastoral e que agora está em obras para acolher um hotel. Nos primeiros meses de 1852, a par da advocacia, o pai do romancista era o redator principal do “Campeão do Vouga”, jornal que se começou a publicar em Aveiro no dia 14 de fevereiro de 1852.

Também na Rua Larga viveu (e morreu) Ana Libânia, tia de Eça de Queirós.
Bernardo Teixeira de Almeida Queirós, tio do escritor, foi presidente da Câmara Municipal de Aveiro no ano de 1842, cidade onde também desempenhou as funções de correio.

A vizinha cidade de Ílhavo também entra no roteiro queirosiano, por ser a terra onde nasceram e foram batizados os tios de Eça de Queirós: Joaquim Augusto Almeida Teixeira de Queirós (10/11/1816) e Bernardo Teixeira de Almeida Queirós (26/12/1817).

Numa das raras visitas que Eça de Queirós realizou a Verdemilho, visitou a Quinta da Medela (na companhia de Hintze Ribeiro e Luís de Magalhães, filho de José Estevão), quinta que tem duas propriedades, uma no lugar ilhavense de Ribas, e outra em Verdemilho, nas proximidades da casa onde o escritor passou parte da sua infância. A viagem foi efetuada a partir da Costa Nova, por barco até à Gafanha da Encarnação, e depois por terra, até Verdemilho, passando por Ílhavo.

Em Ílhavo residiu a tia de Eça de Queirós, Maria Emília de Almeida Queirós, casada com o ilhavense conselheiro António José da Rocha, cuja biblioteca (e parte da de Joaquim José Queirós) foi herdada por Rocha Madail, sobrinho deste ilhavense.

Quintãs, Eixo e Vagos

Recuando no tempo, surge o lugar de Quintãs, onde nasceram Joaquim José de Queirós (9/1/1774) e Fernando José de Queirós (3/6/1781), respetivamente, avô e tio-avô do escritor. O primeiro notabilizou-se por liderar a falhada revolução liberal de 16 de maio de 1828 e, posteriormente, por exercer diversos cargos públicos e políticos. O segundo foi um notável ator, dramaturgos e diretor do Teatro Nacional da Rua dos Condes (Lisboa). Um, como o outro, aparecem retratados em personagens de romances de Eça de Queirós.

Os pais de Joaquim José de Queirós – José Marcelino Próspero (natural da freguesia de S. Salvador de Riba Tâmega) e Joana Leonor (natural das Quintãs), casaram em Eixo, na Igreja de Santo Isidoro, no dia 10 de fevereiro de 1771.

Nos anos de 1787 e 1788, Joaquim José de Queirós trabalhou no cartório onde o seu pai, José Marcelino Próspero, exercia o ofício de escrivão, em Vagos.

Percurso pedonal, a realizar em grupo

Saída da Estação da CP, em Aveiro em direção ao cais, no Canal Central, pelas ruas que Eça de Queirós provavelmente seguia: Rua Almirante Cândido dos Reis, Rua do Carmo, Rua do Gravito, Rua Manuel Firmino e, daí, para a Praça Melo Freitas (“Arcos”), pela Rua José Estevão, na qual ficava a casa onde viveu o pai de Eça.

A viagem prossegue em barco moliceiro até à marina da Costa Nova, frente ao palheiro de José Estevão.

A viagem prossegue, novamente de barco, até ao cais da Mota (da Bruxa), na Gafanha da Encarnação, do lado oposto da ria.

A partir daí recria-se a viagem pedonal até à quinta da Medela, em Ribas (Ílhavo), prosseguindo depois para a quinta da Medela, em Verdemilho, junto à capela de S. João, próximo das ruínas da casa dos avos paternos de Eça.

A visita ao cemitério de Aradas, onde está a campa dos avós de Eça, com passagem pela rotunda com o monumento de homenagem a Eça de Queirós, pode ser feito em autocarro, tal como o regresso ao largo da Estação da CP, em Aveiro.

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