O roteiro que evoca as antigas muralhas de Aveiro, seguindo um itinerário próximo do que José Reinaldo Rangel de Quadros Oudinot descreveu na transição do século XIX para a centúria seguinte, publicados na imprensa local de então, e que a Câmara Municipal de Aveiro integrou no livro “Aveiro – Apontamentos Históricos”, publicado em 2009.
Por Manuel Cardoso Ferreira (texto e fotos) *
Tal como Rangel de Quadros, também agora vamos partir do local da antiga Porta da Vila em direção a leste, zona que foi bastante alterada em finais do século XX e inícios do presente século, tendo desaparecido as estreitas ruas que existiam na área fronteira ao Convento de Jesus / Museu de Aveiro, bem como os imóveis que lhes ficavam anexos, espaço agora ocupado pela Avenida Santa Joana.
A Porta da Vila, depois designada por Porta da Cidade, ficava no seguimento da antiga Rua Direita (Rua Combatentes da Grande Guerra), dando acesso, no exterior, à antiga Rua Espírito Santo (atual Rua Eça de Queirós) e à demolida igreja do Espírito Santo que se erguia na zona do largo das Cinco Bicas. Da muralha e dos antigos arruamentos nada resta, pelo que partimos em direção à Sé, pela Avenida Santa Joana, zona onde se erguia a antiga Porta do Sol, próximo da qual ficava a Torre do Muro. Há poucos anos surgiu um projeto para se construir um memorial a esta porta, da autoria do arquiteto Álvaro Siza Vieira.
Quando da construção da pérgula e da capela mortuária anexa à Sé, surgiu um vestígio dos alicerces da muralha, foto então publicada no jornal “O Comércio do Porto”. O percurso avança pela Avenida 5 de Outubro, ladeando o cemitério, a antiga cerca do Convento de S. Domingos e, possivelmente, também a antiga muralha. Segundo Rangel de Quadros, neste troço da muralha ficava a Porta do Campo e um torreão, perto do antigo campanário da igreja do convento (atual Sé). Após a estação de serviço, vira-se à esquerda, para se descer em direção ao Fórum. Mais próximo desta área comercial, do lado esquerdo avista-se o muro do cemitério, muro esse reconstruído no local da muralha, aproveitando muita da pedra que restava da velha cerca defensiva. Por isso, se pode dizer que esse troço do muro é como que o último grande vestígio visível da antiga muralha mandada construir pelo rei D. João I, obra bastante impulsionada pelo Infante D. Pedro.
Esse troço da muralha ia “até à esquina do muro da cerca do Mosteiro de Jesus, ao fim da Travessa das Laranjeiras e quase ao meio do primeiro lanço da antiga Rua de S. Domingos”, como descreve Rangel de Quadros. Esse local será na zona onde hoje começa a rua de acesso ao cemitério. Aí ficava o “Postigo do Campo a que também se dava o nome de Postigo do Norte”. Aqui, o itinerário prossegue pela Rua Batalhão de Caçadores Dez, em direção à Praça General Humberto Delgado (Ponte Praça), zona da antiga Rua da Corredoura, junto da qual haveria o troço da muralha que tinha o Postigo da Corredoura, também designado por Postigo do Nascente ou Postigo do Côjo. No final deste troço erguia-se a Porta do Côjo, a qual, se ainda existisse, daria acesso ao Fórum. No troço então situado em frente ao canal da ria e às “Pontes”, Rangel de Quadros menciona a existência de torreões, construções medievais abobadadas, casas nobres, varandas e o Paço, que chegou a ser considerado como o mais imponente palácio de Aveiro. Hoje, esse local está totalmente modificado, não restando qualquer vestígio dessas edificações.
A ligação da cidade muralhada com a Ribeira e com a zona da atual Ponte Praça fazia-se através das Portas da Ribeira, pela atual Rua de Coimbra. Passada a Ponte Praça, a viagem prossegue para oeste, pela Rua Clube dos Galitos. Num local incerto, possivelmente situado entre os edifícios ATLAS e da Caixa Geral de Depósitos, ficaria a Porta do Cais ou Porta do Norte. No entroncamento com a Rua Belém do Pará, vira-se à esquerda, até ao Largo de S. Brás, próximo do local onde a muralha tinha mais uma porta, a chamada Porta do Alboi, área onde havia mais uma das torres da muralha, torre essa então incorporada numa casa nobre.
O itinerário segue agora pela Rua Homem Cristo Filho, ladeando a muralha, de que ainda restam vestígios nos muros traseiros das casas situadas entre essa rua e a Escola Homem Cristo, vestígios que têm surgido em diversas obras aí realizadas. Nas proximidades do entroncamento da atual Travessa das Beatas na Rua Homem Cristo Filho erguia-se um torreão que, no dizer de Rangel de Quadros, “era quase um pequeno castelo e não poucas pessoas lhe davam esse nome”. Aí estava a Ponte de Rabães. Ao longo do restante troço da Rua Homem Cristo Filho, do lado esquerdo também têm surgido inúmeros vestígios da muralha, não só das respetivas fundações, como também do próprio muro, em alguns locais com alturas superiores a dois metros, como aconteceu, por exemplo, na demolição de um imóvel próximo do cruzamento dessa rua com a Avenida Artur Ravara.
Nesse troço da muralha existia um postigo, conhecido por Postigo do Mar ou Postigo do Poente, e dois torreões, um de cada lado do antigo palácio da baronesa de Almeidinha, espaço posteriormente ocupado pelo edifício do Governo Civil. No final da Rua Homem Cristo Filho, vira-se à esquerda, em direção à Sé de Aveiro. Na fase inicial deste troço da muralha estava a Porta de Vagos, também conhecida por Porta de Santo António, por estar quase defronte do Convento de Santo António. O itinerário termina uns metros mais adiante, no local onde teve o seu início.
* https://www.facebook.com/manuel.cardosoferreira.5
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