Estranhei que quarenta e poucos anos depois da inauguração da obra de Girão Pereira (menosprezando-a e ninguém fazendo oportuno reparo) ela fosse considerada obsoleta e de imediato reduzida a escombros.
Por Brasilino Godinho *
No dia 01 de Fevereiro de 1963, por motivações profissionais, instalei-me definitivamente em Aveiro. Daí que, agora, com tantas dezenas de anos de vivência na cidade me sinta aveirense, na plena abrangência de cidadania que é adstrita à minha condição de nonagenário.
Então, há quase passados 59 anos, havia na cidade o Largo do Rossio onde se efectuava a Feira de Março. Praticamente, local desordenado, em mau estado de conservação, era o razoável préstimo social que se lhe reconhecia.
A 12 de Dezembro de 1976 realizaram-se as eleições autárquicas, pós revolução de 25 de Abril de 1974. As de Aveiro consagraram como vencedor o Dr. Girão Pereira.
Se bem me lembro logo três anos depois era lançada a obra de construção do jardim do Rossio.
Ela suscitou o agrado geral por ter proporcionado grande valorização urbanística e foi inscrita no currículo presidencial do presidente Girão Pereira como uma das suas mais importantes realizações.
Há poucos anos a Câmara Municipal começou a divulgar o propósito de remodelar o Rossio.
Estranhei que quarenta e poucos anos depois da inauguração da obra de Girão Pereira (menosprezando-a e ninguém fazendo oportuno reparo) ela fosse considerada obsoleta e de imediato reduzida a escombros.
Pior, viria depois com a incrível ideia de no Rossio ser construído mais um parque de estacionamento subterrâneo, numa cidade que já conta alguns, pouquíssimo utilizados.
Com o do Rossio, agora programado, fica inscrito nos Anais da Cidade mais um a dar nota de Aveiro ser a cidade de Portugal com maior número de parques de estacionamento subterrâneos e com a insólita caracterização (comum) de estarem permanentemente às moscas – o que mais vai ser deprimente marca distintiva da cidade aveirense.
Como cidadão aveirense sinto grande tristeza face a mais um aborto urbanístico numa cidade que também já, pejorativamente, se distingue por nela existirem diversas aberrações viárias e monstruosidades de ordenamento territorial.
Por desgraça, numa cidade que se orgulha de intramuros possuir uma prestigiada universidade. O que para esta instituição se reveste de preocupante enquadramento funcional e de imagem; a qual, muito e bem deveria ser acautelada pela autarquia municipal e a que a própria universidade deveria estar atenta, sobremodo vigilante, para assegurar sua reputação sem máculas desprestigiantes; que nem por serem exteriores ao seu Campus não deixam de se reflectir no âmbito universitário aveirense; principalmente em termos de ensino de engenharia civil e de planeamento urbanístico.
Para que conste, “quem cala, consente! Brasilino Godinho não consente!
* Doutorado em Estudos Culturais, autor. https://www.facebook.com/brasilino.godinho
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