A moção do Bloco de Esquerda que pedia “a condenação” das declarações do presidente de Câmara aquando das festas de receção aos caloiros da Universidade de Aveiro foi rejeitada, por maioria, na Assembleia Municipal de Aveiro, esta sexta-feira à noite, embora com lamentos pela frase “infeliz”
Além dos dois eleitos bloquistas, verificou-se apenas um outro voto a favor, de Jorge Gonçalves, do PS.
Sem fazer ato de contrição, Ribau Esteves apresentou-se como vítima da polémica, que dizia respeito a um curto vídeo promocional de um concerto do artista Deejay Telio, autor da música ‘Esfrega esfrega”, nas festividades académicas.
“É dia de vir ao ‘Integra-te’ para darmos uma grande esfrega na academia, nas caloiras, um grande estímulo para a nossa universidade continuar a crescer, honrando e homenageando aqueles que lhe dão vida (…) venham embora que aqui é que se está bem” é frase em causa do edil.
A deputada Rita Batista justificou “a condenação” porque “as palavras têm consequências”. O “apelo a uma esfrega nas caloiras”, para o Bloco de Esquerda, “não é uma mensagem aceitável”, por “inferiorizar a mulher, em tom insultuoso”. Por isso, “impunha-se um pedido de desculpa às alunas e aos aveirenses e não vir dizer que era uma piadinha”.
A coligação saiu em defesa de Ribau Esteves a uma só voz. Das bancadas da oposição, vários deputados não deixaram de criticar a linguagem usada pelo edil, mas na sua maioria entenderam não levar a posição política de repúdio até às últimas consequências, optando ainda assim pela abstenção.
“Nunca na minha vida usei a palavra esfrega no sentido sexual do termo” – Ribau Esteves
O autarca não poupou nas críticas ao Bloco: “Isto é tão miserável, baixo, ainda por cima meticulosamente acompanhado de uma moção a propor uma campanha contra o assédio sexual, é lixo político, do pior que a minha longa carreira já viu”, começou por dizer, preferindo “dar o desprezo” aos bloquistas.
Ribau Esteves assumiu que foi aconselhado “por uma amigo advogado” a colocar o Bloco em tribunal, mas garantiu sentir “a honra tranquila”, embora assumindo-se como vítima.
“Nunca na minha vida usei a palavra esfrega no sentido sexual do termo”, disse, lamentando que a Assembleia tivesse ocupado tempo com o assunto, “servindo apenas para nos desprestigiar a todos”.
“A questão central é que esta moção assenta numa grave mentira, na deturpação absoluta e total da minha frase, que está dita e explicada”, acrescentou.
O autarca lembrou que “foi o primeiro presidente” a receber os caloiros na Câmara e faz questão de tomar parte nas “noitadas” das festividades académicas.
A moção seria reprovada com 23 votos de deputados do PSD, CDS e PS, tendo registo oito abstenções (PCP,PS,PAN).
Uma segunda proposta de recomendação do Bloco de Esquerda para a realização de uma campanha contra o assédio sexual teria mais apoiantes, mas sem evitar o ‘chumbo’. Obteve 23 votos contra (PSD, CDS,PS), seis abstenções (PS) e sete votos a favor (BE, PCP, PS, PAN).
Discurso direto
“Não gostámos, é o nosso presidente de Câmara e foi um bocadinho desadequado (…). Precisa de fazer declarações de forma mais cuidadosa e cordata” (Rui Alvarenga, PAN);
“Há aqui um certo juízo de valor em relação à pessoa, sinto-me absolutamente desconfortável (…). Independentemente do contexto específico, foram declarações infelizes. Deve ter mais cuidado” (Filipe Guerra, PCP);
“É uma moção desonesta e de má fé, visa atentar contra a imagem e a pessoa do presidente. Só uma imaginação fértil é que conclui que as palavras do presidente têm uma conotação sexual (Inês Abreu, CDS);
“É num contexto de brincadeira, um copo na mão, outra dentro. Mas já vi o presidente fazer melhor. Agora, também não vejo base para crucificar. Ainda se a gente lhe desse uma ‘esfrega’ …” (Raul Martins, PS).
“A declaração é infeliz e merece total desacordo. Distinguimos o essencial do acessório. A fulanização da política é um mau caminho. Uma declaração infeliz não devia ser foco de discussão política” (Nuno Marques Pereira, PS);
“O PSD não baixa o nível para o campeonato do lamaçal e permitir este jogo e outros em que estão mais bem treinados” (Manuel Prior, PSD).
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