Ria de Aveiro acolhe “uma das maiores intervenções arqueológicas em Portugal na última década”

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Dragagens na Ria de Aveiro.

A empreitada de dragagem em curso em vários pontos da da Ria de Aveiro está a permitir “fazer uma sondagem sistemática, de diagnóstico, um ‘raios x’, a partir da cultura imaterial, da vivência das populações, desde a pré-história até aos dias de hoje”.

Tiago Fraga, arqueólogo responsável pela empresa contratada pela Polis Litoral Ria de Aveiro para acompanhar as obras, destacou, desta forma, a importância do “trabalho preventivo” em curso até maio próximo.

Uma campanha de quase um ano marcada já por achados arqueológicos muito relevantes, nomeadamente junto ao Rio Bôco, onde foram encontrados artefactos datados entre 4.000 a.C. e 3.000 a.C. , dando conta de uma estrutura que se encontra submersa, que será o primeiro sítio pré-histórico subaquático identificado no país do neolítico. Em Ovar, estão identificados vestígios do período romano surpreendentes, por serem raros.

A obra de dragagem tornou-se “uma oportunidade única” também “para perceber as gentes dos locais, como estavam cá e reagiram às mudanças sistemáticas do seu meio ambiente”, explicou Tiago Fraga ao intervir, esta manhã, nas ‘Jornadas de História Local e Património Documental’, em Aveiro, este ano com o tema “Aveiro, um território de Ria”.

A Ria de Aveiro resulta de um processo de transformação. Foi um conjunto de rios e hoje uma ria lagunar. “Tudo isso, está espelhado na quantidade de elementos arqueológicos conhecidos e patrimoniais novos descobertos. Temos a nosso cargo 159 sítios em salvaguarda durante a obra. Trabalhamos em 80 por cento do que era a Ria, a perceber a sua evolução”, referiu o diretor da empresa de arqueologia, não hesitando em falar de “um maravilhoso museu, de que os arqueólogos são curadores temporários e os locais os seus guardiões”.

Tiago Fraga aproveitou as jornadas organizadas pela autarquia e a associação ADERAV para deixar um apelo: “Não pode ser um trabalho no vazio, existe toda uma investigação arqueológica, histórica, etnográfica local a fazer. Se essa informação chegar a nós fazemos melhor o nosso trabalho de salvaguarda do património: Estamos a estudar coisas inéditas para nós, mas podem não ser inéditas localmente, que ainda não se refletiu na divulgação publica. Estamos muito interessados que as pessoas venham ter connosco e nos contem as histórias, ajudem-nos a fazer melhor o nosso trabalho, a permitir garantir a melhor qualidade na salvaguarda do património”, desafiou.

Discurso direto

“Nós estamos cá no âmbito de uma legislação, da Direção Geral do Património Cultural, os artefatos e a informação que recolhemos são do Estado. Entregaremos os relatórios, toda documentação e artefatos ao Estado a quem compete determinar o futuro, muito provavelmente irá parar ao acervo do centro nacional de arqueologia subaquático para mais tarde ser devolvido às populações locais”.

“Este trabalho deve prosseguir no âmbito das universidades, dos investigadores locais, estamos cá por 11 meses, até maio, a fazer arqueologia preventiva. Os investigadores têm a oportunidade de prosseguirem os estudos. Encontramos, salvaguardamos e oferecemos mesmo a quem necessitar ou pretender pegar nisto”.

O risco de destruição é mínimo, foram tomadas medidas de minimização, mas a mais valia da nossa equipa é a produção de conhecimento e informação científica e patrimonial que temos estado a recolher. Sem as dragagens a paisagem cultural da zona não tinha sido identificada, não haverá muitas mais oportunidades, não podemos arriscar a que se perca”.

Dados sobre as prospeções arqueológicas na Ria de Aveiro

» Duas equipas envolvidas (inicialmente 12 pessoas que devido à complexidade e riqueza dos achados, levou ao reforço para 17, mas até ao final de janeiro estarão 22 arqueologos no terreno). Será a maior equipa de arqueologia náutica preventiva no país a gerir a informação que tem chegado em termos de peças e etnografia naval;

» Intervenções em sete canais;

» 30 tarefas em curso, desde manutenção, recolha e salvaguarda do património, entrevistas etnográficas, ocorrências em vias de desaparecimento, património imaterial;

» Descoberta de cinco sítios novos, “um deles do neolítico praticamente inédito na paisagem portuguesa e provavelmente vai ser um dos mais ricos em termos das paisagens culturais submersas da Europa, que vai mudar o mapa. Não são barcos”;

» “Encontramos finalmente testemunhos da idade clássica, do período romano, na zona do concelho de Ovar, que vai permitir perceber como eram as ocupações na época clássica perto da ria. Foi uma surpresa total para nós”;

» Uma das maiores intervenções arqueológicas em Portugal na última década;

» Uma das maiores reservas de importância náutica subsaquática do País e dos mais emblemáticos e com história, associada a alguma mitologia, desde a época moderna até aos dias de hoje, num canal de navegação;

» 15 dos 22 naufrágios mais importantes do país encontram-se na Ria de Aveiro (dois terços estão por descobrir).

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