Encerrados ou “semiabertos”, e com pouca ou nenhuma receita, muitas das empresas que estão hoje fechadas olham com muita incerteza para quando, e se, voltarão a abrir.do mundo, num ápice se transformou num momento de grande insegurança.
Ana Jacinto *
É inquestionável que os tempos que vivemos são difíceis para todos os setores. Empresas e empregos estão em risco em todo o mundo devido à pandemia COVID-19.
Em Portugal, e pela natureza desta crise, os setores da Restauração e Bebidas e do Alojamento Turístico são dos mais afetados, senão mesmo os mais afetados.
Os restaurantes vazios, as esplanadas desertas, os alojamentos sem uma única reserva: este é hoje o retrato fiel, que contraria as imagens que ainda persistem na nossa memória coletiva recente.
No caso da Restauração, a incerteza quanto à forma como este vírus se propagava levou a que muitos estabelecimentos encerrassem por receio de serem eles próprios veículos privilegia-dos da sua propagação nos seus espaços.
Primeiro por iniciativa própria, e responsável, depois por obrigação, em consequência da declaração do Toda a cadeia de valor do turismo – atividade que vive da deslocação de pessoas, que se viram obrigadas ao confinamento obrigatório – sofreu e sofrerá durante algum tempo as consequências desta pandemia.
Tal como a economia nacional, cuja recuperação no período pós-troika assentou muito na atividade turística: é preciso não esquecer que o turismo representa, segundo a Conta Satélite do Turismo em 2018, 14,6 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), sendo que o peso do emprego nas actividades características do turismo no total do emprego nacional é de 9 por cento.
Neste quadro de incerteza, as medidas lançadas pelo governo têm, de uma forma geral, apoiado as empresas nas suas necessidades mais urgentes, como o pagamento de salários e a salvaguarda de postos de trabalho, essenciais para garantir a retoma. Contudo, é necessário ir mais longe no plano europeu.
A melhor forma de enfrentar esta crise sanitária sem precedentes na história recente é unir esforços na União Europeia para operacionalizar adequados instrumentos de apoio financeiro à sobrevivência das empresas e dos postos de trabalho.
Os países, sobretudo os mais atingidos por esta pandemia, necessitam de auxílios financeiros diretos para as empresas e não de mais mecanismos de endividamento. A nossa recomendação vai no sentido da realocação de verbas do orçamento da UE para apoio aos Estados-membros, para a dinamização da atividade económica e apoios às micro, pequenas e médias empresas. A colaboração e solidariedade da UE é, mais do que nunca, um fator decisivo para ultrapassar este presente tão crítico.
Do futuro, tratarão os nossos empresários com a criatividade e empenho que todos lhe reconhecemos.
Durante o Estado de Emergência muitas empresas fecharam, enquanto outras optaram, porque a lei assim o permitiu, por novas formas de negócio, como a venda para fora ou a entrega ao domicílio, como último recurso. Esta é, porém, uma solução que apenas se aplica a um reduzido número de empresas, porque para a esmagadora maioria esta não é uma hipótese viável, quer porque não é rentável, quer porque nos seus espaços não é possível garantir o cumprimento de todas as regras, nomeadamente ao nível do distanciamento.
Encerrados ou “semiabertos”, e com pouca ou nenhuma receita, muitas das empresas que estão hoje fechadas olham com muita incerteza para quando, e se, voltarão a abrir do mundo, num ápice se transformou num momento de grande insegurança.
Vínhamos da tradicional época baixa, mas com elevados custos fixos, e esta incerteza estende-se obviamente às empresas do Alojamento Turístico, como os hotéis e os alojamentos locais.
O momento de otimismo vivido com a afirmação de Portugal como um dos principais destinos turísticos marketing, tudo com o objetivo de responder à época alta. Mas a procura desapareceu.
O inquérito às empresas de restauração e de alojamento realizado pela AHRESP entre os dias 1 e 3 de abril e ao qual responderam cerca de 2.000 empresas (67 por cento hotéis e alojamento local), revelaram que 75 por cento das empresas tiveram de encerrar, 50 por cento referem avançar para lay-off, 30 por cento não conseguiu pagar salários em março e mais de 80 por cento dos hotéis e restaurantes preveem zero de faturação para abril e maio, mas a cada dia que passa, o cenário piora.
O Governo português tem anunciado sucessivas medidas de apoio e a AHRESP não pode deixar de reconhecer o esforço feito. Mas muitas destas medidas são, ainda, desajustadas para apoiar de forma segura os setores que representamos porque se baseiam essencialmente em moratórias, alívios temporários e, principalmente, endividamento das empresas. Estas dívidas vão acumular-se às despesas fixas e um dia vão ter de ser pagas, estrangulando qualquer eventual recuperação.
Pedir às empresas que se endividem num momento destes, quando não sabem qual é o seu futuro, é o mesmo que estar a oferecer um presente envenenado, se entretanto tudo não voltar à “normalidade”, normalidade essa que nunca será imediata e levará meses, senão anos, até alcançarmos o ponto onde estávamos.
A única via que pode constituir uma verdadeira resposta é a entrada, “para ontem”, de dinheiro nas empresas, a fundo perdido, medida que deve ser acompanhada da isenção de impos-tos, taxas e pagamento de rendas. Esta é a única saída para que as empresas que tanto fizeram pela economia do país, e pela sua afirmação a nível mundial como destino turístico de excelência, sobrevivam.
No campo do Turismo, não há quem mais tenha contribuído para isso como as empresas do nosso setor. Desperdiçar esta riqueza seria um erro crasso.
* Secretária Geral da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal.
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