Só existe uma verdade e essa não pode nem deixaremos que seja deturpada, pelas manifestações cujos objectivos nos parecem confusos e visam confundir os trabalhadores.
Por António Bebiano *
Os trabalhadores do sector do alojamento, restauração, bebidas e similares têm sido os mais afetados pela pandemia, e continuarão a ser por um largo período, os mais afetados pela crise económica e social profunda, inclusive, pelas alterações organizacionais dos horários, métodos nas empresas, e hábitos adquiridos pelas populações e povos durante a resposta à pandemia.
Desde o início da pandemia que milhares de trabalhadores deixaram de receber o seu salário, viram os seus direitos serem postos em causa, bem como os seus rendimentos reduzidos drasticamente, incluindo o direito a tomar as suas refeições em espécie, como está regulado na contratação coletiva em vigor.
Milhares de trabalhadores foram despedidos de forma ilícita, pois viram os seus contratos de trabalho cessar, foram abandonados pelo patronato à sua sorte, que deixou de lhes pagar o salário reduzindo drasticamente os seus direitos e rendimentos.
Neste tempo de pandemia e com a chamada retoma da atividade, o patronato agravou a situação social na restauração, bebidas e alojamento, designadamente com redução dos direitos, salários em atraso, jornadas de trabalho de 10, 12 e 14 horas diárias, onde desde há muito, infelizmente prolifera o trabalho não declarado ou trabalho clandestino.
Para a FESAHT/ Sindicatos é tempo do Governo do PS, apoiar os trabalhadores diretamente, porque as vítimas são estes e não aqueles que tiveram elevados proveitos durante muitos anos à custa do aumento exponencial do turismo, de hóspedes, dormidas, receitas e da exploração de quem trabalha.
Os estabelecimentos de restauração, bebidas e alojamento não são a fonte principal de surtos da covid 19, quando respeitam as regras emanadas pela DGS.
As medidas de apoio anunciadas para compensar as perdas dos trabalhadores, são insuficientes para fazer frente aos prejuízos causados pelas decisões do Governo.
Admite, a FESAHT/ Sindicatos que, pontualmente, devem ser aprovadas medidas destinadas às Micro e Pequenas Empresas que tenham vista a garantia dos postos de trabalho.
Contudo, são necessárias medidas que proíbam os despedimentos, é preciso pôr fim ao escândalo dos despedimentos coletivos que os grandes grupos económicos e multinacionais estão a desenvolver como é exemplo a Eurest.
As medidas anunciadas pelo Governo não dão resposta aos principais problemas que afetam o sector.
Não é com a proibição de estar aberto ao público que se responde à necessidade de proteger a saúde e a vida das populações e que se protege o emprego.
Aquilo que é exigível é manter os estabelecimentos abertos com regras de segurança e garantir que existam transportes públicos em condições sanitárias para quem tenha que ir trabalhar sem correr riscos ou no mínimo diminuir o risco.
A FESAHT/ Sindicatos não acompanha os protestos dos patrões da restauração, bebidas e alojamento que reclamam apoios ao governo das nossas contribuições, quando sabemos que estes apoios não revertem para manter o emprego, os direitos e os salários dos trabalhadores, porque as ajudas não são diretas para quem mais sofre, os trabalhadores que na mensagem dos Patrões são utilizados agora para se defenderem e exigirem mais dinheiro, mas que não deixam de referir que vão despedi-los.
A economia informal que os Patrões do sector praticam diariamente, aliados aos baixos salários que pagam aos trabalhadores, faz com que exista imoralidade em muitas destas reclamações.
Por isso analisamos as recentes manifestações dos patrões contra as medidas do governo (objetivamente justas numa perspetiva de classe) em que que já vimos trabalhadores a participar podem ser facilmente induzidas nos trabalhadores como sendo do interesse comum trabalhadores/patrões já que se destinam na preservativa dos trabalhadores envolvidos, apenas a protestar contra o encerramento dos estabelecimentos, logo, também, a defender os seus postos de trabalho.
A FESAHT/ Sindicatos durante o período de pandemia apresentou ao governo diversas medidas para combater os problemas que afetam os trabalhadores dos sectores por si representados e que o atual agravamento torna mais premente a sua aprovação para uma resposta aos trabalhadores que vivem tempos muito duros e difíceis.
Não podem ser mais uma vez os trabalhadores as primeiras vítimas das dificuldades económicas decorrentes duma situação de crise, sem antes serem responsabilizados aqueles que ao longo dos anos têm beneficiado da riqueza produzida pelo trabalho.
* Coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Centro.