Todos os anos por esta altura, milhares de finalistas terminam os seus cursos e entram no mercado de trabalho. De acordo com a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, o número de diplomados entre os 30 e 34 anos cresceu 4 por cento em 2021 face a 2020, e 20% numa década, com tendência crescente dos últimos anos. Só no ano letivo 2020/21, diplomaram-se em Portugal cerca de 90 mil estudantes.
Por Paulo Jorge Ferreira *
O número de profissionais ativos com ensino superior aumentou nove pontos percentuais (520 mil diplomados) entre 2015 e 2021, segundo números do Instituto Nacional de Estatística, fixando em 34 por cento a taxa de diplomados na população empregada em 2021.
Ser um diplomado hoje não tem, no entanto, o mesmo significado que alguns anos atrás. No passado, a formação universitária era para a vida. A passagem de estudante a diplomado era irreversível. Havia uma distinção clara entre estudante e antigo aluno. Hoje, essa distinção é menos nítida. O antigo aluno pode voltar a ser estudante, se necessário. E, com frequência crescente, é necessário.
Com a transição digital e climática as competências mais procuradas no mercado de trabalho têm evoluído muito rapidamente. As profissões surgem e desaparecem a um ritmo inédito. Há áreas de elevada procura que há poucos anos simplesmente não existiam.
A rapidez das transformações pode gradualmente afastar duas realidades que se querem próximas: o mundo do trabalho e o mundo da qualificação superior. A inexistência de soluções formativas pensadas para um mundo de volatilidade elevada trava a atualização dos profissionais e agrava o desalinhamento entre as competências disponíveis e as necessárias.
O resultado já está à vista: temos empregos sem pessoas, e pessoas sem emprego. Segundo o Talent Shortage Survey 2022, apesar de termos mais gente qualificada, as empresas sentem mais dificuldades em recrutar.
É reconhecendo esta realidade que a UA tem procurado fortalecer a relação com os antigos alunos, com várias ações, e tem vindo a dar atenção crescente a soluções de requalificação de curta duração, que não conferem graus, mas podem ser frequentadas de forma livre: as microcredenciais.
O conceito de antigo aluno continua a ser útil e atual nesta nova conceção. Os diplomados podem vir a ter um papel fundamental na concretização de objetivos de requalificação. Enquanto membros ativos na sociedade e no mercado de trabalho, já possuem conhecimento e experiência, e podem assim contribuir para o projeto ou adaptação da oferta formativa, nomeadamente das microcredenciais.
Investir no desenvolvimento de relações de proximidade com os antigos alunos permite capacitar ou complementar a formação de uns e atualizar e adequar as competências de outros. Trata-se, assim, de um trabalho a bem do futuro.
Vale a pena pensar nisso.
* Reitor da Universidade de Aveiro. Este e outros artigos de opinião, entrevistas, mensagens à comunidade, discursos e intervenções podem ser consultados na página do Reitor.
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