O jornal Público divulgou um excelente artigo sobre aquilo que se passa (ou não) com a prometida renovação da Linha do Vouga. Desta forma, queremos primeiramente agradecer ao seu autor, Carlos Cipriano, que conseguiu explicar de forma bastante detalhada e completa os motivos dos diversos atrasos nas obras de requalificação desta via férrea por nós defendida. Depois, queremos aproveitar para tecer algumas considerações sobre alguns aspetos com os quais nos confrontamos ao ler o artigo.
Segundo este, “no troço central, entre Oliveira de Azeméis e Sernada do Vouga, que não tem serviço comercial devido à degradação da infra-estrutura (a velocidade máxima dos comboios é de 10 km/h), a IP (Infraestruturas de Portugal) diz que o atraso se deve “à reclamação de alguns concorrentes ao relatório de avaliação de propostas”, o que obrigou a empresa a “submeter um pedido de reprogramação da autorização de encargos plurianuais às tutelas sectorial e financeira”. Ou seja, neste momento o processo está do lado do ministério de Fernando Medina.”
O MCLV quer manifestar assim a sua consternação e preocupação pois não podemos continuar a compreender, nem aceitar que, quer o ministério das Infraestruturas, quer o ministério das Finanças, estejam a “empatar” uma obra de extrema importância e que se exige de máxima urgência na única linha de via estreita ativa do país e, sobretudo, num troço que já se encontra ao abandono há décadas. Para além das obras nos metros de Lisboa e do Porto que nunca pararam, há outros exemplos de obras que continuam a decorrer, ou que até já se encontram finalizadas, como é o caso da electrificação da Linha do Minho, a electrificação da Linha do Douro entre Caíde e Marco de Canaveses, as renovações integrais de via na Linha do Norte e na Linha da Beira Alta, a reabertura da Linha da Beira Baixa entre a Guarda e a Covilhã, a modernização da Linha do Oeste ou a nova Linha de Évora.
O que é a região sul da Área Metropolitana do Porto e o distrito de Aveiro são a menos do que todas as regiões que acabamos de enumerar? Não aceitamos ser portugueses de segunda! Exigimos, por isso, que o ministério das Finanças desbloqueie IMEDIATAMENTE todos os fundos necessários para que o ministério das Infraestruturas avance de uma vez por todas com a obra de requalificação da Linha do Vouga e que esta se concretize da forma mais célere possível!
A notícia diz-nos ainda que “a empresa (IP) não explica por que motivo os outros troços também estão sem obras, apesar de há dois anos ter previsto terminá-los em 2023, mas os seus responsáveis repetem que tem havido dificuldades de mão-de-obra e de materiais por parte dos empreiteiros.” Ora, é curioso que em todas as obras anteriores, aparentemente não existiu este tipo de dificuldades e algumas até decorreram em período pandémico. O que parece existir aqui é falta de vontade política, pois todas as outras obras já avançaram. Mais uma vez, não aceitamos ser portugueses de segunda! EXIGIMOS que este governo avance com a obra IMEDIATAMENTE e apelamos a TODOS os partidos políticos para que pressionem a tutela nesse sentido.
Quanto a outra grande questão que tem que ver com o material circulante “a CP manifesta dúvidas porque, em resposta a perguntas do PÚBLICO sobre o material circulante, fonte oficial da empresa diz: “Estamos a avaliar a aquisição de uma nova frota para a linha do Vouga, mas a aquisição do novo material aguarda, ainda, a definição quanto à electrificação ou não desta linha.” Ora, todos sabemos que o Plano Nacional de Investimentos 2030 é claro sobre a electrificação da linha, mas independentemente da concretização da electrificação ou não, a Linha do Vouga precisa de material circulante IMEDIATAMENTE, ou seja, material a diesel, visto que sempre que se verificam avarias suprimem-se circulações, além de que é necessário aumentar a capacidade de resposta na época balnear. Convém salientar também que só com mais material circulante será possível melhorar os horários.
As duas únicas boas notícias presentes neste artigo, acabam por levar-nos na mesma a ter de tecer algumas críticas. Relativamente “à deslocalização de alguns apeadeiros para zonas geradoras de tráfego e onde actualmente os comboios passam mas não param, a IP diz: “Encontra-se em fase de conclusão a celebração de um protocolo tripartido entre a IP, a CP e o Município de Águeda, que reflecte a definição dos termos e condições da colaboração entre as partes, para a criação de dois novos apeadeiros (Ninho de Água e Alagoa) e a relocalização de outros dois existentes (Aguieira e Mourisca do Vouga) no segmento Sernada do Vouga-Aveiro.”
Enaltecemos, por isso, a postura da Câmara Municipal de Águeda, no entanto temos de reprovar veementemente a postura das câmaras municipais de Espinho, Santa Maria da Feira, São João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Albergaria-a-Velha e Aveiro, que ao contrário da autarquia aguedense, pouco ou nada têm feito de grande relevância para defender a linha com reais efeitos práticos, a não ser palestras e conferências para especialistas e militantes partidários. Tendo muito a aprender com o executivo camarário de Águeda, apelamos aos restantes autarcas servidos pela linha para que adotem idêntica postura.
Para finalizar, “ao nível imaterial, a Linha do Vouga está também atrasada na sua adesão ao sistema Andante, o que permitiria aos seus utilizadores usufruir da integração tarifária dos transportes no Grande Porto. Os comboios do Vouga são considerados regionais e não urbanos e, por exemplo, um passe de Oliveira de Azeméis para a Invicta custa 89 euros, que resulta da soma do passe até Espinho (49 euros) e depois do passe até ao Porto (40 euros). Com a integração no Andante, um passe único custaria 40 euros. A CP diz que tal não se deve à conhecida falta de validadores pois os seus revisores estão equipados com equipamentos portáteis electrónicos que permitem a validação dos títulos de transporte. E explica que a empresa “já solicitou autorização para a integração deste troço no sistema Andante e aguarda neste momento a resposta do TIP (Transportes Intermodais do Porto), entidade responsável por esta decisão.”
O MCLV fica, por isso, feliz pelo facto da CP já ter solicitado essa mesma autorização, no entanto apelamos aos Transportes Intermodais do Porto para que acelerem a resposta, que peca por tardia, visto que os serviços de autocarros integrados na Área Metropolitana do Porto há muito que estão integrados no sistema Andante. Assim se conclui que existe uma postura para a transporte rodoviário e outra, mais discriminatória, em relação ao transporte ferroviário e isso não podemos continuar a aceitar!
Chegou o momento de dizer basta! Queremos a requalificação da Linha do Vouga já!
Movimento Cívico pela Linha do Vouga (MCLV)
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