Uma das principais causas das alterações climáticas é a nossa forte dependência de combustíveis fósseis. Esta dependência, aliada a um elevado consumo de energia, através da sua conversão em calor, está diretamente associada a emissões de CO2, o principal gás com efeito de estufa proveniente de atividade humana.
Por Michael Russo *
Devido a crescentes preocupações sobre o impacto das alterações climáticas, foi assinado o Acordo de Paris, em finais de 2015, com o objetivo de reduzir emissões de gases com efeito de estufa para que o aumento da temperatura média global se situe abaixo dos 2ºC.
Para atingir estes objetivos, cada país demonstra os seus esforços de mitigação através da submissão de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), onde a cada cinco anos prestam informações sobre as suas contribuições para a redução das suas emissões nacionais.
A nível europeu, a União Europeia (UE) visa ter um impacto neutro no clima até 2050, um objetivo alinhado com o Acordo de Paris e o Pacto Ecológico Europeu, onde será necessária uma intervenção em toda a sociedade e setores económicos (energia, indústria, mobilidade, florestas, agricultura, etc.).
Uma das principais formas de atingir este objetivo é através da descarbonização dos setores, particularmente o da produção de energia.
Renováveis importantes para neutralidade carbónica
Mesmo que todos os setores estejam ativamente a implementar soluções de baixo carbono, a eletrificação de um setor é geralmente apresentada como a forma mais eficiente para atingir a descarbonização.
Atualmente, a produção de eletricidade e aquecimento são responsáveis por 35 por cento das emissões globais de gases com efeito de estufa.
Assim, as energias renováveis têm um papel importante no caminho para a neutralidade carbónica, sendo essenciais para o fornecimento de energia elétrica sem recurso a combustíveis fósseis.
Todas as NDC contam com pelo menos uma solução para produção de energia renovável, como eólica, solar fotovoltaica, hidroelétrica ou uma combinação das três. Porém, a disponibilidade de recursos renováveis, como o vento, a radiação solar e a água, dependem das condições meteorológicas, o que torna imperativo conseguir estimar a disponibilidade e variação destes recursos num clima futuro.
Quantificar a variabilidade dos recursos renováveis
Portugal possui um grande potencial para descarbonização, sendo que aproximadamente metade da produção de eletricidade provém de combustíveis fósseis. Existem vários estudos a nível europeu que se focam no impacto das alterações climáticas em recursos renováveis, sendo, no entanto, um número reduzido sobre Portugal.
Um estudo recente estima que as alterações climáticas podem causar uma redução na produção hidroelétrica de 20 por cento, um aumento da capacidade de produção de eólica offshore até 30 por cento e uma diminuição no custo-benefício de energia solar fotovoltaica.
Para colmatar a reduzida investigação neste tópico, e dada a importância de quantificar o impacto das alterações climáticas no setor da produção de energia, o meu trabalho de doutoramento tem como objetivo identificar o cenário ótimo de descarbonização do fornecimento de eletricidade para Portugal. Para tal, a variabilidade dos recursos renováveis em 2050 irá ser quantificada com recurso a um modelo de previsão meteorológica de alta resolução (1 km) para todo o território nacional, de forma a mapear o potencial eólico, solar e hídrico.
Por fim, será aplicada uma análise multicritério para obter a contribuição de cada tecnologia renovável segundo o seu custo-benefício energético, ambiental e económico. Espero que continuem a seguir este trabalho que será concluído no final do próximo ano.
* Doutorando em Sistemas Energéticos e Alterações Climáticas. Artigo publicado originalmente na Revista Linhas da Universidade de Aveiro (https://www.ua.pt/file/67878).
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