Reindustrialização como um desígnio nacional

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Eco Parque Empresarial, Estarreja.

As apostas que as políticas públicas prometem fazer em áreas cruciais como a transição digital, a transição energética e a descarbonização, a adequação e modernização da Administração
Pública, que o Estado tem esquecido e deixou enfraquecer, são fundamentais para a mudança.

Por Carlos Mineiro Aires *

A edição de abril, maio e junho da revista INGENIUM é dedicada à reindustrialização e à perspetiva com que a vemos, ou seja, como um desígnio nacional. Nesta edição conseguimos reunir um conjunto de participações cujos pontos de vista são da maior oportunidade, sobretudo quando Portugal se encontra a iniciar uma década que será marcada por elevados investimentos que devem ser direcionados convenientemente, de forma a alterarmos significativamente o panorama histórico da nossa economia.

Para tal, contaremos com valores superiores a 57 mil milhões de euros, obtidos a partir do que resta do PT 2020, que se estenderá até 2023, do Plano de Recuperação e Resiliência e do Quadro Financeiro Plurianual em vigor até 2030.

Uma vez que as questões das infraestruturas básicas se encontram resolvidas, ou em vias disso, com exceção da ferrovia que foi esquecida ao ponto de ficar obsoleta, para não falar da degradação do material circulante, o nosso esforço coletivo deverá ser centrado na modernização e reconfiguração da economia. E, já agora, na construção de um novo aeroporto que constitua um verdadeiro hub e sirva a ambição a que a nossa História nos obriga.

Neste percurso nunca poderemos ignorar a elevada e sempre crescente dívida pública que teremos de pagar e que a qualquer momento nos pode arrastar para um novo resgate financeiro, sobretudo quando enfrentamos uma recessão no PIB, o que nos obriga a criar riqueza.

Por isso, as apostas que as políticas públicas prometem fazer em áreas cruciais como a transição digital, a transição energética e a descarbonização, a adequação e modernização da Administração Pública, que o Estado tem esquecido e deixou enfraquecer, são fundamentais para a mudança. A aposta na formação de engenheiros, na formação contínua e na requalificação profissional dos cidadãos, também assumem uma importância estratégica na revitalização da economia e da indústria.

Todavia, a par, uma vez que o motor da economia será sempre a iniciativa privada, num Estado que se pretende social, mas desligado do setor produtivo, será necessário garantir o apoio às empresas, sobretudo numa altura em que os impactos sociais e económicos vieram agravar as debilidades do tecido empresarial e o endividamento público.

Esta mudança obrigará a fazer melhor e diferente, criando bens transacionáveis com alto valor acrescentado, para o que será necessário contar com o fortalecimento da nossa indústria, caraterizada pela pequena dimensão e fragmentação, que definhou e não foi capaz, salvo raras exceções, de dar resposta e ser um player na competitividade internacional.

Daí que a designada reindustrialização, atividade ampla e hoje muito diferente da do passado, tenha de ser assumida como um desiderato nacional, para que nos constituamos como referência exportadora.

Nesta linha, entendo destacar a nossa distinta colega, Professora e Engenheira, Elvira Fortunato, cientista e investigadora cujo empenho tem permitido criar soluções com utilidade prática e cujo esforço tem sido recompensado com sucessivos reconhecimentos nacionais e internacionais, que fazem dela um exemplo para os jovens e demonstram o quanto vale a pena apostar na educação e na investigação científica. |


* Diretor da revista INGENIUM (Ordem dos Engenheiros). Editorial da edição de abril, maio e junho de 2021.

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