As florestas são espaços privilegiados para a educação ambiental: laboratórios vivos que podem complementar programas escolares, com abordagens experimentais e de imersão. É este o objetivo da Floresta do Saber, um projeto implementado na Quinta de São Francisco, em Aveiro, que tem vindo a promover dezenas de atividades lúdicas e pedagógicas.
Por João Ezequiel *
As florestas desempenham inúmeros processos e serviços de ecossistema, de grande importância e sobejamente reconhecidos. No entanto, os benefícios não materiais obtidos a partir destes ecossistemas, são por vezes subvalorizados. Os espaços florestais, particularmente os de conservação, mas também as áreas de produção, podem ser verdadeiros ambientes vivos de aprendizagem, perfeitamente adequados a jogos e atividades desportivas, lazer, educação, ciência ou outro tipo de aprendizagens.
São sobretudo espaços privilegiados para a educação ambiental, comunicação de ciência e práticas de sustentabilidade, especialmente para as novas gerações. As visitas e saídas de estudo a estes locais são consideradas fundamentais para o processo de ensino e aprendizagem, facilitando a aquisição de conhecimentos num ambiente natural, mais descontraído. Estas atividades práticas e exploratórias, quando associadas a objetivos alinhados com os programas de educação vigentes em Portugal, podem complementá-los, reforçando o conhecimento sobre a floresta portuguesa.
O projeto de educação ambiental Floresta do Saber resulta precisamente da necessidade de um laboratório da Floresta na Floresta, que complemente a educação para a Floresta, e da enorme oportunidade representada pelo arboreto e diversidade biológica presentes na Quinta de São Francisco. Tem inspiração nas boas práticas de educação finlandesas, privilegiando o ensino em contextos diferentes dos da tradicional sala de aula, onde haja lugar à experimentação e à imersão em ambientes transdisciplinares, abertos à participação das novas gerações.
O projeto Floresta do Saber é uma iniciativa do Raiz – Instituto de Investigação da Floresta e Papel e da The Navigator Company, com o apoio do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Fundação Calouste Gulbenkian, reconhecido como Clube Nacional Unesco.
Usufruindo da naturalidade do espaço onde se encontra, a Quinta de São Francisco, que por si só se presta a ser uma sala de aula ao ar livre, facilitando o processo de ensino-aprendizagem das ciências naturais e beneficiando ainda da investigação e desenvolvimento tecnológico gerado pelo Instituto RAIZ na área da bioeconomia florestal, este projeto pretende contribuir para a valorização da floresta, como fonte renovável de produtos, energia e como parte fundamental da solução para a redução de emissões de dióxido de carbono e combate às alterações climáticas.
Educação ambiental pela floresta e em laboratório
A Floresta do Saber oferece um conjunto de atividades adaptado aos currículos escolares e aos diferentes escalões e níveis de ensino. Permitindo a exploração teórico-prática de temas associados à floresta, como a biodiversidade, sustentabilidade e produtos de origem florestal, tem como objetivo principal promover a aprendizagem de uma forma sobretudo prática e experimental, que privilegie o contacto com a natureza, floresta e os bioprodutos de origem florestal.
Nesse sentido as atividades oferecidas pela Floresta do Saber apelam ao contacto com a floresta, através de todos os sentidos e à construção de conhecimento com base na observação in loco. Um dos exemplos que melhor traduz isto são as visitas guiadas na Quinta de São Francisco, pelos seus vários percursos, onde se pode explorar a riqueza florística, os diversos habitats e as diferentes espécies animais, mas também sentir as texturas das diferentes cascas das árvores centenárias, ouvir os cantos da avifauna ou cheirar os diferentes perfumes dos eucaliptos e outras plantas aromáticas presentes.
Atividades como o jogo da glória ou o pedipaper, permitem aprender mais sobre as florestas de uma forma descontraída e lúdica, mas ao mesmo tempo estimulando a diversão e o espírito competitivo em equipa. Permitem sobretudo a descoberta de algumas árvores monumentais, únicas no nosso país, e de outros espaços singulares da Quinta de São Francisco. Estas estão entre as atividades de educação ambiental mais requisitadas da Floresta do Saber.
Desde a sua inauguração, há cerca de um ano, a Floresta do Saber desenvolveu cerca de 280 atividades, na Quinta de São Francisco e fora dela, que chegaram a mais de 6500 pessoas, que na sua maioria (mais de 90%) são alunos desde o pré-escolar ao ensino secundário.
Finalmente as atividades laboratoriais da Floresta do Saber permitem fazer pequenas experiências sobre a anatomia e estrutura de uma árvore, a extração de pigmentos fotossintéticos ou a reciclagem de papel.
Para muitas das crianças que recebemos, esta é a primeira vez que utilizam um microscópio ou um tubo de ensaio, pelo que este contacto – procedimento experimental e material de laboratório –representa uma abordagem pratica à ciência florestal e aos bioprodutos de origem florestal.
Para além das mais de 20 atividades diferentes em espaço florestal e laboratorial, existem ainda outras propostas aliciantes na Floresta do Saber, desde exposições com várias temáticas, desde a biodiversidade, aos bioprodutos, e dos tipos de madeiras aos fosseis da floresta portuguesa, aos think tanks – espaços de debate e reflexão, que pretendem capacitar a sociedade civil e as gerações do futuro com conhecimentos sobre a floresta e a bioeconomia florestal. Muitas destas atividades são passiveis de ser ajustada às temáticas propostas pelas escolas desde que dentro das áreas de expertise do RAIZ.
A Floresta do Saber é sobretudo um espaço dedicado a receber alunos que queiram ir mais além no conhecimento da ciência experimental e na bioeconomia de base florestal, permitindo promover valores e padrões de consumo mais sustentáveis e que conduzam a uma alteração efetiva de comportamentos e respeito pelo ambiente e pela natureza.
O Autor
* Curador da Quinta de São Francisco (onde se encontra o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e do Papel), sendo responsável pela gestão, conservação e divulgação deste arboreto único a nível europeu. É também coordenador técnico-científico dos projetos Floresta do Saber e Biodiversidade by The Navigator Company, e membro do Conselho Editorial da plataforma Florestas.pt. Doutorado em Biologia pela Universidade de Aveiro (UA), na área da Fotofisiologia, é autor de mais de 40 publicações científicas em ecofisiologia, botânica e divulgação científica. Artigo publicado originalmente em Florestas.pt.
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