“Queremos um caderno de encargos mínimo para ser cumprido pelos municípios” – Presidente da Federação dos Bombeiros

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Miguel Aguiar Soares (presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Aveiro).

Miguel Aguiar Soares, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vale de Cambra, assumiu em abril a presidência da Federação dos Bombeiros do Distrito de Aveiro (FBDA). A sustentabilidade financeira das corporações é uma das maiores preocupações.

NotíciasdeAveiro.pt – Qual o estado de espírito da nova direção nesta fase de início de mandato ?
Miguel Aguiar Soares – Fomos desafiados. Tivemos o apoio do distrito de um modo geral. Estamos a iniciar o nosso trabalho no rescaldo da pandemia, ainda não é bem o rescaldo, a tentar fazer algo compensador e consequente para os bombeiros. Isto num momento crítico na vida interna dos bombeiros, que são as eleições para a Liga dos Bombeiros, dar um contributo consequente para serem tomadas decisões importantes para os bombeiros.

P- A FBDA tem 29 associações, a terceira maior do país.
R – Pelos dados que temos sim. Para nós até somos a mais importante. Defendemos o nosso distrito com unhas e dentes. Queremos manter a unidade em torno desta organização, que sempre conviveu com uma tutela a vários níveis que se espartilhava por outras regiões. Na área da saúde, por exemplo, entre o Norte e o Centro. Em termos administrativos, o principal interlocutor é o município, que estão ainda muito identificados em termos distrital.

Desfile de bombeiros, Santa Maria da Feira (Foto Sintonia Feirense).

P – Que preocupações reflectem nas vossas prioridades ?
R – As prioridades dos bombeiros são sempre a luta por um financiamento justo e equilibrado, que tenha em conta a realidade dos bombeiros, que não tenha expressão momentânea relacionada com qualquer evento, como é o caso dos fogos florestais, agora incêndios rurais, porque temos durante o ano uma atividade muitíssimo mais vasta, os fogos florestais correspondem a 10 por cento do trabalho dos bombeiros.
Os bombeiros são emergência, saúde, transporte de doentes, intervenções em acidentes, incêndios industriais, incêndios urbanos, resgate, salvaguarda dos bens e pessoas na comunidade em que estão inseridos. E isso não tem reflexo no financiamento.
Para isso, é preciso que os diversos atores, nos diversos níveis de decisão, consigam perceber o papel desempenhado pelos bombeiros e reconheçam a sua especial diferença no contexto do associativismo de um modo geral.
Somos uma associação com uma diferença em relação a outras: os seus associados não trabalham para os seus associados mas para a comunidade em geral.
Muitas vezes, tem se fazer o transporte de doentes para assegurar a atividade de emergência, que devia estar a cargo do Estado através dos ministérios da Administração Interna e Saúde, que nos vai contratando a preços de saldos para fazer os serviços que lhes competem.
Comparando com municípios onde existem bombeiros sapadores, que são profissionais, as diferenças de orçamento são brutais. É uma realidade muito distinta.
As Câmaras Municipais no distrito todas elas tem comportamentos distintos relativamente aos seus corpos de bombeiros. Há quem nos considere um custo, outros um investimento, outros parceiros ou outra coisa qualquer.
Queremos trabalhar para definir um caderno de encargos mínimo para ser cumprido pelos municípios por forma que quem dá mais, muito bem, continue a dar, mas quem dá menos se sinta compelido a cumprir o mesmo que os restantes, até para a não ficar mal na fotografia.

Outros temas desenvolvidos no vídeo abaixo

Equipas Permanentes de Intervenção – “Um bom caminho, alguns já têm mais do que uma. Salvaguarda uma resposta profissional”;

Os encargos gerados pela pandemia –Abalou muito, muito mesmo. Em Vale de Cambra tivemos impacto superior a 100 mil euros. Nos custos, assistimos a um disparo de preços, uma coisa escandalosa, dos equipamentos de proteção individual. As receitas de transportes de doentes caíram quase para zero. Transportámos aqueles doentes que tinham mesmo de ir ou os infetactos. Sem disponibilidade de serviços de saúde e medo, as pessoas deixaram de recorrer ao socorro”;

Apoios extraordinários – “Foram destinados alguns milhões do Estado, ao nível da Proteção Civl. Mitigam mas não resolvem o problema. O problema não deixa de ser de base. A pandemia retirou-nos uma fonte de receita adicional, agravou-nos a situação. Essa fonte de receita não foi reposta. A principal fonte da receita não vem da Administração Central, vem do Ministério da Saúde. Não devia ser assim. Na emergência substituímos o Ministério da Saúde no INEM nas ambulâncias sediadas nos bombeiros e a reclamar uma revisão dos protocolos. As exigências são muito diferentes. Não podemos continuar a perder dinheiro a ajudar os outros.”

Pergunta – Os bombeiros estiveram muito expostos à pandemia do Covid-19, pelos serviços que prestam. Como correu a vacinação ?
Na medida do possível. A maioria dos bombeiros estão com a primeira dose e segunda dose tomadas. O Governo tardou um bocadinho. Os profissionais estão todos. Mas também reclamo para outros cidadãos que não deixaram de trabalhar e não foram contemplados.

Pergunta – Há autarquias a dar apoios, benefícios vários, aos bombeiros.
Devia ser generalizado. Até porque muitas vezes o fazem em substituição daquilo que defendemos há muito que é o cartão social do bombeiro, um regime legal nacional de apoio ao voluntariado. O caminho de alguns municípios a aprovar regulamentos de apoio ao voluntariado é importante, pelo reconhecimento ao bombeiro. Algumas coisas têm de ser melhoradas. Os estímulos ao voluntariado é sempre importante. Temos feito isso de forma consistente. Não há um estudo sobre o que leva a ser bombeiro voluntário. Pode ser por questões familiares, tem lá alguém, por dívida de gratidão, pela adrenalina. Não vejo que seja pelos apoios, no estudo por exemplo. Mas começamos a ter muitos estudantes universitários, que beneficiam de isenções de propínas. O que é bom.

P -Há problemas com a redução do número de bombeiros ?
R -Os estímulos podem ajudar a captar bombeiros. Desenvolvem-se algumas outras atividades, a Juvebombeiro é bom exemplo, um trabalho notável, com oito núcleos de jovens no distrito. Queremos ajudar na divulgação junto das escolas pode ser importante a inocular o vírus da cidadania. Criar outras ações para expor o trabalho das corporações, o que é feito sem ser nos incêndios florestais. Manobras de desencarceramento, salvamentos em grande ângulo, mergulho, etc. Temos as fanfarras que também levam a aderir, pela música, mas depois sentem vontade de pertencer. Há anos com muitas inscrições, outros menos.
Formar um bombeiro é muito caro. Não podemos convidar e obrigar a pagar a formação. Que agora começa a ser retomada. Temos de mandar para a Lousã, Sintra, S. João da Madeira é mais perto. Formar deveria ser mais célere e mais barato. Basta mudarem os equipamentos e surgem despesas brutais.

P -Surgiram novos quartéis, modernos, no distrito. Espinho inaugura este fim de semana. É difícil obter apoios para este tipo de investimento ?
R – É difícil obter investimento para quartel completo. O que tem acontecido são intervenções na área operacional, o Estado central não quer conhecer que quem faz essas obras é uma associação. Só contempla o quartel operacional. Temos a sorte de nos serem cedida uma sala para a parte administrativa. Em Vale de Cambra, tivemos de ir buscar metade à comunidade. A autarquia cedeu o terreno e o projeto. Fizemos o que foi possível fazer com as condições de quem nos dá 50% mas faz todas as exigências.

Outros temas desenvolvidos no vídeo abaixo

Carências de instalações – “Há muito trabalho a fazer. Essas condições que ajudam a ter vontade para ir para o quartel”;

Apostas da direção para o mandato – “Temos o forte propósito de todos ouvir e a todos ajudar. Um só com base no distrito para melhor servir a todos”;

Alterações introduzidas na organização da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) “Há muitas coisas a afinar, mas sabemos que podemos contar com comandantes que são do distrito. Aveiro tem um espírito de entreajuda que não é muito frequente”.

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