Quem lucra com a poluição

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Floresta (foto de arquivo).
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A solução para a destruição do planeta precisa de andar de mãos dadas com uma alternativa à organização da sociedade, uma alternativa ao sistema.

Por Ernesto Oliveira *

É consensual afirmar que se sabe que a indústria da pasta de papel é altamente poluente. O processo é complexo, mas não faltam dados recolhidos em vários países que demonstram as agressivas consequências para o ambiente: quer através da promoção da monocultura do eucalipto, que traz grandes custos para a proteção do país e um custo social inestimável para a população, quer através da poluição das águas e da transformação dos cursos dos rios ou das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. As alterações climáticas provocam fenómenos extremos e frequentes, que têm vindo a colocar o país num elevado risco de incêndio florestal.

O estudo “Inventário das Emissões de Portugal” no âmbito do Acordo de Glasgow, elaborado por membros do colectivo Climaximo e Greve Climática Estudantil Portugal é cristalino sobre o impacto desta indústria em Portugal.

O primeiro e segundo lugar da lista dos maiores poluidores do país é ocupado por empresas de combustíveis fósseis. Em sétimo lugar está a fábrica da Navigator em Cacia, com uma produção de 884 271 toneladas de CO2 eq por ano, fora as fábricas da mesma empresa noutros pontos do país. A empresa lucra acima da centena de milhões de euros por ano e não paga impostos em Portugal. Apesar disso, a Navigator tenta passar uma imagem de empresa sustentável, mas os dados comprovam que não passa de uma campanha de marketing enganadora.

Não existem dúvidas que a empresa cria empregos, mas também não existem dúvidas que não o faz por favor a quem deles precisa, mas com o objetivo de acumular riqueza. Os trabalhadores e trabalhadoras são fundamentais no processo de produção, ainda assim não são compensados com aquilo que é ganho com ela na totalidade, caso contrário a empresa não conseguiria uma quantidade tão grande de lucros. São os donos da empresa, os acionistas, que no final de cada mês e de cada ano, distribuem entre si a riqueza produzida por outras pessoas. A linha liberal de “pelo menos cria emprego”, não passa de uma burla. Não nos podem dizer que contaminam a água, o ar e destroem ecossistemas, mas que pelo menos criam empregos, para lucrar à custa deles.

A solução para a destruição do planeta precisa de andar de mãos dadas com uma alternativa à organização da sociedade, uma alternativa ao sistema. Todos os outros métodos se têm demonstrado insuficientes. Na tentativa de a impossibilitar, quem lucra com a poluição dá a entender que a culpa é da população e do seu consumo. Os estudos feitos até hoje provam o contrário: a grande maioria das emissões poluentes é atribuída a uma pequena percentagem de pessoas ricas, donos de empresas e monopólios altamente lucrativos.

Hoje em dia mostra-se necessária uma alternativa à produção em excesso, que se verifica lucrativa, mas nada sustentável. É preciso uma transição energética justa, com o foco na criação de emprego e eliminação de desigualdades no acesso à energia. O que não será complicado, uma vez que está previsto que as energias renováveis podem criar muito mais emprego do que as energias fósseis. Um processo que deverá ser acompanhado por uma eliminação das relações de trabalho exploratórias e pela radicalização da democracia no trabalho.

* Militante do Bloco de Esquerda, Aveiro.

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