Os trilhos que tinha improvisado pelo passado, sofreram alguns cortes que me obrigaram, de novo, a inventar novos. Mas continua a ser um espaço maravilhoso, tão perto e tão longe da cidade.
Por António Garcia
Há dias assim.
Regresso às marinhas de sal, abandonadas à décadas, mas que guardam o seu charme envolvendo a cidade de Aveiro de mistério e de muita história.
Quase dois anos depois da minha última passagem, as defesas deste território vão perdendo a sua consistência, particularmente aqueles muros de terra (torreões) que protegem e separam as marinhas quando elas se vestiam de branco em verões de forte brisa.
E os trilhos que tinha improvisado pelo passado, sofreram alguns cortes que me obrigaram, de novo, a inventar novos. Mas continua a ser um espaço maravilhoso, tão perto e tão longe da cidade.
Quase que é um sacrilégio pisar estes torreões que ganharam consistência ao fim de tantas décadas, brotando uma vegetação cerrada que, em período de nidificação, torna-se o paraíso de patos e outros pernas-longas.
Um sol que me irradia de vitamina D, uma brisa que atenua a falta de sombra e eis-me na (re)descoberta deste espaço virgem (quasi) de raça humana.
Entre caminhos difíceis de sulcar, lá encontro uma ou outra cabana que se transformou em espaço de casa de férias e cujos donos se apropriaram indevidamente de domínio público.
A brisa, o sol, o som das numerosos espécies de aves que habitam este universo, enchem-me de paz, abrem-me acesso a um silêncio onde só a transcendência habita.
Num domingo de tarde em que as praias pululam de gente ávida de liberdade, eu encontrei aqui, sozinho, todas as boas sensações que peregrinam o meu espírito.
E foi num desses espaços ditos privados, que pude observar, sentado, em pleno delírio espiritual, as particularidades desta paisagem, ao mesmo tempo que esvazia a minha mochila de um lanche de caminheiro.
Prometi regressar para continuar na minha pesquisa espiritual e territorial.