Como é que pessoas tão diferentes entre si, descobrem ao mesmo tempo que têm as mesmas vontades/tendências e comportamentos? Quais os mecanismos que permitem a propagação e alastramento destas vontades/tendências e comportamentos? Somos individualmente livres para agir ou a sociedade é que nos leva a tomar certas opções? Qualquer fenómeno de moda pode ser tratado como uma tendência?
Por José Cruz Pratas (Presidente da Direção da APICER) *
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O tema destaque desta edição da revista Kéramica é “Tendências”. Fiz várias tentativas para iniciar este editorial e sempre apagava o que escrevia. Sem perceber porquê, o meu pensamento envolvia-se naquilo que fomos construindo como verdades, das vivências da pré-história.
Tendências na alimentação, no vestuário, na decoração das cavernas, nos tempos de descanso. Às várias elucubrações sobre o assunto, juntei algum divertimento sobre com se faria a tendência alimentar. Peixe, carne ou fruta? A Tendência do vestuário? Pele deste ou daquele animal? E como foram usadas as cavernas na organização da vida dos seres humanos desta época. Obviamente, são perguntas sem resposta.
Tendências – parece-me possível concluir – só passaram a existir quando começou a haver excedentes, poupança e abundância. E, num abrir e fechar de olhos passamos da pré-história aos dias de hoje. Agora, é de hoje que escrevo. O nosso tempo é uma sociedade de abundância, por isso é uma sociedade de tendências. O conceito – levou-me a fazer várias perguntas –que formulo desta forma.
Como é que pessoas tão diferentes entre si, descobrem ao mesmo tempo que têm as mesmas vontades/tendências e comportamentos? Quais os mecanismos que permitem a propagação e alastramento destas vontades/tendências e comportamentos? Somos individualmente livres para agir ou a sociedade é que nos leva a tomar certas opções? Qualquer fenómeno de moda pode ser tratado como uma tendência?
As redes de influência, a publicidade, a criatividade, o marketing, os jornalistas, críticos, influenciadores, analistas, especialistas de dados, sociólogos e a mera imitação, são alguns dos agentes do gosto coletivo ou, dito de outro modo, das tendências e das modas, são os responsáveis deste fenómeno coletivo tão vasto, e tão pouco estudado.
Os seres humanos são e sempre foram seres gregários, que dão respostas coletivas aos diferentes fenómenos sociais que as dinâmicas coletivas vão produzindo, aceitando-os os não. Um objeto, um comportamento, uma prática tem atrás de si um processo normalmente bem elaborado, para se tornar tendência/moda.
Duas visões se opõem nas análises das tendências. Uma das visões apresenta os indivíduos manipulados por algo que os envolve e que os leva a aderir a determinadas tendências/modas. A outra visão entende as tendências/modas como resultado de decisões individuais que se conjugam. A primeira visão entende o seguidor da tendência/moda como sujeito passivo e a segunda visão como sujeito ativo, racional e estratega.
A analise sociológica das tendências tem nestas duas visões o seu campo de estudo para entender os movimentos de consumo. Hoje as tendências/modas quase deixaram de ser movimentos sociais, para se tornar simples fenómenos recreativos, sempre indissociáveis de uma dimensão comercial. Hoje as tendências/modas/marcas são mais reflexo de um interesse comercial e industrial do que social. As tendências/modas são uma “mentira” em que todo o mundo acredita. Fui sempre associando as duas palavras tendências/modas, pois bem atrevo-me a definir moda. Moda é o que vai passar de moda . Lembremo-nos, apenas, da Belle Époque.
* Presidente da Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e Cristalaria (APICER). Editorial da Revista Kéramica.
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