Qualidades descontaminantes encontradas na amêijoa asiática

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Investigadora Joana Pereira com amêijoas asiáticas.

Investigadores de um grupo participado pela Universidade de Aveiro (UA) descobriram na amêijoa asiática a capacidade de remover metais e compostos orgânicos recalcitrantes (não biodegradáveis ou de difícil biodegradação), como os que se encontram nos efluentes da indústria de produção do azeite.

“Estes efluentes deverão ser tratados, mas os sistemas de tratamento mais eficazes são ainda bastante dispendiosos e difíceis de manter dada a sazonalidade da produção, pelo que a procura de novas soluções de tratamento é um assunto relevante”, refere Joana Pereira, investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mara (CESAM), citada em nota de imprensa da UA.

As espécies em causa, tidas como “invasoras”, porque “estão a destruir gradualmente os ecossistemas ribeirinhos nacionais”, podem, afinal, “ser muito úteis na hora de despoluir águas contaminadas”.

Para além de Joana Pereira, o trabalho publicado no Journal of Cleaner Production é assinado por Ana Domingues, Inês Correia Rosa, João Pinto da Costa, Teresa Rocha-Santos, Fernando Gonçalves e Ruth Pereira numa pareceria entre o CESAM, os departamentos de Biologia e de Química da UA e a Universidade do Porto.

O estudo sublinha “a capacidade destes bivalves em remover matéria orgânica no geral, bem como de remover bactérias e vírus potencialmente patogénicos se integradas em determinadas fases dos processos de tratamento de água”.

Segundo os investigadores, “os sistemas de tratamento mais eficazes são ainda bastante dispendiosos e difíceis de manter dada a sazonalidade da produção, pelo que a procura de novas soluções de tratamento é um assunto relevante”.

Ainda em fase experimental nos laboratórios do Departamento de Biologia, a utilização das amêijoas asiáticas poderá ser um apoio aos métodos de tratamento de água já existentes, ao serem integradas em etapas do processo de tratamento de águas residuais em estações próprias, as ETAR.

A quantidade média de efluentes provenientes da indústria do azeite só pelos países mediterrâneos )(Espanha, Itália, Portugal e Grécia) equivale a cerca de 30 milhões de toneladas, sendo o impacto ambiental relevante: um metro cúbico de efluentes equivale a 200 metros cúbicos de efluentes domésticos.

Apesar do esforço para que o encaminhamento destas águas para tratamento seja feito de forma correta, os investigadores da UA consideram “fundamental continuar a desenvolver soluções de tratamento eficazes e economicamente e ambientalmente sustentáveis”.

Organismo multifacetado

Organismos filtradores – os bivalves alimentam-se por filtração de material orgânico em suspensão na água –, as amêijoas asiáticas são uma espécie capaz não só de taxas de filtração elevada como também são tolerantes a condições ambientais adversas, como as que decorrem da contaminação.

Hipoteticamente, poderáo adaptar-se esta ideia a estações de tratamento de águas residuais e de águas para consumo humano, mas também, entre muitos outros locais, a piscinas naturais e praias fluviais, desde que sejam sistemas já invadidos pela amêijoa asiática (ou seja, que esta não seja mais uma via de introdução do invasor) e tomadas todas as precauções para evitar a dispersão da espécie em habitats ainda não invadidos.

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