A pressão política e mediática é exercida sobre o controle e não sobre os mecanismos que deveriam facilitar a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Por José Eduardo Carvalho *
A equipa operacional do PRR tem uma carga excessiva de relatórios de monitorização, para uma multiplicidade de órgãos e entidades.
Toda a gente se preocupa com o controle, quando deviam empenhar-se em criar condições para a aceleração e execução do PRR. Além disso, este programa expurgou qualquer investimento nos portos. Tem uma componente forte na expansão do metro e tem outra de 520 milhões em acessibilidades rodoviárias, estas bem consagradas, pois fazem ligação às áreas de localização empresarial e nos missing links.
O PRR foi um programa de estímulos para combater uma recessão provocada pela epidemia. A pandemia passou. Estamos na fase ascendente do ciclo económico, e neste momento, devido ao fraco grau de execução que o programa tem, vai ajudar a combater uma provável recessão que vai ser provocada pela crise energética e pela inflação.
Os ganhos de causa que tivemos no IRC no acordo assinado teve como compensação um compromisso de uma valorização salarial de 20 por cento e uma redução no leque salarial dentro da empresa. Reduzir o IRC, que é uma exigência legitima, tem como contrapartida um choque salarial de 20 por cento em quatro anos. A única certeza que neste momento temos é a incerteza e a volatilidade da conjuntura económica. Nos próximos quatro anos, o que vai haver é uma dificuldade em acomodar nas margens operacionais, o aumento das remunerações, da energia, dos custos da distribuição e dos custos financeiros.
Uma grande bandeira do acordo assinado é dizer que os salários passarão a ter um peso de 48 por cento no PIB, mas ninguém se preocupa em verificar que somos o 10º país da OCDE com maior carga fiscal sobre o salário médio. A grande preocupação deveria ser reduzir o peso fiscal sobre o trabalho.
Neste momento temos uma produtividade mais baixa que a média europeia, mas estar mais baixa que em 1995 devia fazer tocar todos os alarmes. Creio que há muita gente que espera que com a aplicação da agenda do trabalho digno, com a semana dos quatro dias e com o teletrabalho se resolvem os problemas da produtividade. Não é a minha opinião.
A dimensão é o grande calcanhar de aquiles do tecido empresarial e da economia portuguesa. O país não sairá da atual situação apenas com 6643 médias empresas. Ninguém consegue crescer, ter perfil exportador, inovar e ser competitivo, produtivo com a dimensão média atual. A política pública pouco faz por isso, não financia fusões nem aquisições, e a cultura empresarial também é refratária a estes movimentos.
* Presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP). Intervenção no 24º congresso da Associação Portuguesa de Logística.
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