Projeto SOPRO: Mitigação das principais fontes emissoras de poluentes nas cidades

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Imagem CESAM / UA.
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Atualmente mais de metade da população mundial vive em áreas urbanas e, em 2050, prevê-se que este rácio aumente para dois terços.

As cidades consomem mais de 65% da energia mundial e são responsáveis por mais de 70% das emissões mundiais de dióxido de carbono. Assim, as decisões que tomarmos em relação às infraestruturas urbanas nas próximas décadas – planeamento urbano, eficiência energética, produção de energia e transportes – terão uma influência decisiva na pegada climática do planeta.

Os gases com efeito de estufa e os poluentes atmosféricos partilham as mesmas fontes de emissão, pelo que a melhoria da qualidade do ar pode impulsionar os esforços de mitigação das alterações climáticas e vice-versa.

No entanto, aproximadamente 90% dos residentes em áreas urbanas da União Europeia estão expostos a níveis de poluentes que ultrapassam os valores definidos pela diretiva de qualidade do ar (2008/50/EC) ou recomendados pela Organização Mundial de Saúde.

Estimativas recentes revelam números chocantes sobre o contributo da poluição do ar, e sobretudo da matéria particulada em suspensão com diâmetros inferiores a 10 ou 2,5 µm (PM10 ou PM2,5), para as doenças cardiorrespiratórias e mortes prematuras. Um relatório recentemente publicado por diversos organismos internacionais concluiu que a poluição do ar é um dos principais fatores de risco ambientais, sendo anualmente responsável por cerca de 5 milhões de mortes a nível mundial. Um em cada 10 óbitos tem como causa a má qualidade do ar.

As partículas em suspensão são consideradas o poluente atmosférico mais nocivo para a saúde pública. Em 2013, a Agência Internacional para a Investigação do Cancro englobou as partículas atmosféricas na Classe I, ou seja, estas passaram a ser classificadas como agentes cancerígenos para o ser humano. Nas cidades, o tráfego rodoviário constitui a principal fonte emissora deste poluente.

Embora os avanços tecnológicos e a imposição de limites de emissão cada vez mais restritivos tenham permitido reduzir as emissões de exaustão dos veículos, as emissões de não exaustão (ressuspensão de poeiras depositadas nas vias e as partículas resultantes do desgaste de pneus, travões e pavimentos) emergiram como fontes de poluição dominantes nas atmosferas urbanas, colocando óbvios desafios científicos e políticos. Ao contrário das emissões dos canos de escape, as emissões de não exaustão não são regulamentadas, estimando-se que, em 2030, passem a representar 90% do total das emissões automóveis.

O projeto do CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar “SOPRO – Perfis químicos e toxicológicos de fontes de matéria particulada em atmosfera urbana”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, é um projeto multidisciplinar que envolve a colaboração de cientistas atmosféricos, engenheiros de transportes, químicos, toxicologistas e modeladores de diversas instituições europeias e da Universidade de São Paulo com o objetivo de propor estratégias de mitigação focadas nas principais fontes emissoras de poluentes nas cidades, sobretudo as associadas ao setor dos transportes. Dada a necessidade de caracterização das emissões de partículas pelo tráfego, será seguida uma estratégia concertada para obter as características químicas e toxicológicas das emissões de exaustão e de não exaustão.

Para o sucesso deste projeto, serão ainda aplicados modelos químicos de transporte para prever as concentrações atmosféricas de diversos poluentes em cidades brasileiras e portuguesas, incorporando os novos perfis de emissão e inventários atualizados e considerando diferentes cenários de emissão, alterações climáticas e políticas de controlo.

CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.

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