A falta de oportunidade em uma aula de interagir com os colegas, discutir sobre determinado problema, tomar decisões de forma colaborativa, lidar com a divergência de opiniões, criar soluções para problemas reais, aplicar o conhecimento abordado em determinado contexto, assumir o papel de autoria, reduz a chance de os estudantes desenvolverem competências específicas.
Por Gabriela de Leon Nóbrega Reses *
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Muitos professores provavelmente já ouviram de algum estudante esta pergunta: “Hoje é dia de aula normal?”. Diante dos diversos desafios que a educação enfrenta, poderíamos até associar esta questão às greves, que representam a luta da classe docente por melhores condições de trabalho e de aprendizagem para os alunos. Mas não é sobre isto que falo. O fato é que, como formadora de professores, já escutei esta questão a ser direcionada muitas vezes a docentes que estão inovando suas práticas pedagógicas. Não raro, são docentes que estão a acompanhar as inúmeras investigações no campo da Educação sobre evidências científicas de como determinadas transformações no processo pedagógico podem potencializar as aprendizagens dos estudantes.
Mas, o que seria uma “aula normal”, não apenas para os estudantes, mas também para grande parte da população? Frequentemente, quando se fala em “aula normal”, imagina-se uma sala organizada em fileiras, em que um professor conduz a aula com foco na transmissão expositiva de informações. Neste cenário, os alunos estão sentados, preferencialmente em silêncio e trabalhando para memorizar o que é dito pelo professor. Por isso, cabe ao aluno escutar atentamente, fazer anotações e questionar o docente, em caso de dúvidas. A interação entre os estudantes é bastante limitada e a avaliação tende a ocorrer através de testes padronizados. Ao imaginarmos esta situação, pode até surgir a questão: mas qual é o problema deste tipo de aula?
Embora momentos expositivos tenham a sua importância em determinados contextos, processos de ensino e aprendizagem totalmente estruturados a partir de abordagens tradicionais, como a do cenário descrito, tendem a colocar os alunos em um papel passivo, onde simplesmente memorizam informações, sem conseguir perceber onde irão aplicar o conhecimento em situações do mundo real. Tal situação usualmente leva ao esquecimento rápido de grande parte do conteúdo abordado e à falta de motivação. Ademais, as aulas tradicionais geralmente têm um formato único que tende a não considerar as necessidades específicas de aprendizagem dos alunos.
A falta de oportunidade em uma aula de interagir com os colegas, discutir sobre determinado problema, tomar decisões de forma colaborativa, lidar com a divergência de opiniões, criar soluções para problemas reais, aplicar o conhecimento abordado em determinado contexto, assumir o papel de autoria, reduz a chance de os estudantes desenvolverem competências específicas (associadas às áreas disciplinares) e competências transversais fundamentais para o século XXI, como a criatividade, o pensamento crítico, a colaboração e a comunicação. Nesse sentido, quando as aulas são desenhadas para colocar os estudantes em uma posição ativa, elas visam o desenvolvimento de competências e conhecimentos integrados e complexos, favorecendo uma aprendizagem mais profunda e duradoura.
Diante disso, ao considerarmos os diferentes papeis que assumimos na sociedade: como podemos favorecer a transição de uma educação pautada numa “aula normal” tradicional para uma educação em que a “aula normal” prioriza a aprendizagem ativa dos estudantes?
* Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.
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