O território nacional e o meio rural continuam cada vez mais esquecidos. Os produtores florestais já não conseguem disfarçar o cansaço e o desânimo, resultado da descrença e do abandono por parte do Estado e da sociedade civil em geral. Se nada for feito, o país corre o sério risco de converter-se num matagal destinado aos incendiários, colocando em causa o esforço de um trabalho de décadas.
Por António Ataíde Guimarães *
A Floresta da Região de Aveiro ocupa mais de 75 mil hectares e contribui para a economia familiar de mais de 30 mil produtores florestais.
Após 20 anos a incentivar o planeamento e a gestão da propriedade privada de mais de 1.300 associados, a Associação Florestal do Baixo Vouga (AFBV) influencia diretamente, hoje, cerca de 20 mil hectares da floresta da Região de Aveiro, dos quais mais de 6 mil hectares são de área certificada.
O resultado desse trabalho intensivo, dedicado à floresta e aos produtores florestais, fazem da AFBV uma das maiores associações do país, no que diz respeito ao impacto no território.
Partimos de um contexto de base muito difícil: uma floresta de minifúndio, cada vez mais abandonada, ocupada maioritariamente pelo eucalipto, espécie amada por uns e odiada por outros.
A falta de rentabilidade, os riscos elevados de incêndio, os ataques de pragas e doenças e, sobretudo uma política que se esquece dos produtores florestais e do meio rural, tem promovido o desinteresse pela atividade florestal.
Os desafios para contrariar esta realidade continuam a ser muitos e complexos, mas estamos convictos que o associativismo é a base para a mudança. É isto que defendemos. É nisto que trabalhamos.
Em 20 anos, conseguimos, em estreita ligação com os proprietários associados, georreferenciar os seus prédios, introduzir o melhor conhecimento e tecnologia nas práticas silvícolas, conseguimos maiores produtividade e conquistamos mercados e, com as áreas agrupadas, fomos ainda capazes de inovar na reestruturação das propriedades para ganhar dimensão nos trabalhos florestais.
Em 20 anos, os nossos associados conseguiram ainda demonstrar que é possível valorizar a componente ambiental em simultâneo com a floresta produtiva. Ao assumirem o papel de autênticos guardiões da Natureza e da Floresta, prestam um serviço incalculável à sociedade, sem que, no entanto, haja qualquer reconhecimento público digno de registo.
Apesar disso, o território nacional e o meio rural continuam cada vez mais esquecidos. Os produtores florestais já não conseguem disfarçar o cansaço e o desânimo, resultado da descrença e do abandono por parte do Estado e da sociedade civil em geral. Se nada for feito, o país corre o sério risco de converter-se num matagal destinado aos incendiários, colocando em causa o esforço de um trabalho de décadas.
Agora, pelas informações que nos chegam pelos meios de comunicação social, parece poder ver-se alguma luz ao fundo do túnel.
O programa deste XXII governo reconhece finalmente, que as Organizações de Produtores Florestais desempenham um papel essencial na gestão ordenada da floresta, e promete reforçar o papel do associativismo florestal, aumentar a área com gestão agregada de pequenas propriedades através de Organizações de Produtores Florestais, elaborar contratos programa para a gestão do território pelas Organizações de Produtores Florestais, entre outros.
Queremos acreditar que as políticas públicas estão atentas e darão finalmente uma resposta ajustada às exigências do setor Florestal, saudando as declarações do Sr. Ministro do Ambiente: “Temos que ter uma coligação com os donos da terra”, porque 97% da área florestal em Portugal é dos privados.
Se assim for, todos juntos seremos floresta. Porque queremos o melhor para o nosso país.
* Presidente da Associação Florestal do Baixo Vouga (intervenção no âmbito das comemorações dos 20 anos de associatviismo)