Portugal: O País do Desabafo Silencioso

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Por altura de Jogos Olímpicos, assistimos a uma multiplicação de queixas vindas de todos os lados sobre a falta de apoio ao desporto em Portugal.

Por Susana Coerver *

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“Não apoiamos o desporto, mas depois estamos à espera de medalhas!” – foi uma das frases mais recorrentes nas redes sociais e nos meios de comunicação feitas por várias personalidades mais ou menos conhecidas. À medida que os resultados foram sendo conhecidos, surgiram críticas e lamentos de uma sociedade que, por um lado, se indigna com a falta de investimento no desporto, mas por outro, pouco faz para mudar esta realidade.

Por que precisamos de um novo sentido de cidadania e ação coletiva

Por altura de Jogos Olímpicos, assistimos a uma multiplicação de queixas vindas de todos os lados sobre a falta de apoio ao desporto em Portugal. “Não apoiamos o desporto, mas depois estamos à espera de medalhas!” – foi uma das frases mais recorrentes nas redes sociais e nos meios de comunicação feitas por várias personalidades mais ou menos conhecidas. À medida que os resultados foram sendo conhecidos, surgiram críticas e lamentos de uma sociedade que, por um lado, se indigna com a falta de investimento no desporto, mas por outro, pouco faz para mudar esta realidade.

Este fenómeno não é novo. As reclamações multiplicam-se de acordo com a agenda social e mediática, mas quando a tempestade passa, o ciclo de passividade instala-se novamente. A ação pura e dura? Essa raramente vai além das palavras. E este padrão não se aplica apenas ao desporto; é um sintoma mais amplo de uma cultura de desabafo passivo que tem vindo a definir a sociedade portuguesa e que pode perfeitamente ser comparada aos treinadores de bancada.

Reclamar não basta

Vivemos num tempo de mudanças rápidas e desafios globais complexos. A desigualdade social, a crise ambiental, as dificuldades económicas e a erosão da confiança nas instituições são apenas algumas das questões que exigem respostas urgentes. No outro dia num almoço com um CEO estrangeiro em portugal perguntava-lhe o que observava em portugal, e dizia-me: “Em Portugal, existem muito poucas condições para um pobre deixar de ser pobre”. Contudo, uma grande parte dos cidadãos portugueses limita-se a reclamar em privado ou nas redes sociais, sem tomar qualquer iniciativa para provocar uma mudança real. Algo que assisto regularmente nas empresas também. Cheias de trabalhadores que reclamam no silencio, ou que se resignam ao seu mero papel de treinadores de bancada. “Mas então e o que fazes para mudar?” – pergunto eu – “para fazer parte da mudança que tanto desejas?”, instalando-se aí o silencio de quem delega a liderança da sua própria vida em todas as suas esferas, no outro.

É verdade que estamos insatisfeitos com o estado das coisas. No entanto, devemos perguntar-nos: quantos de nós estamos realmente dispostos a liderar a mudança? Quantos de nós estão prontos para sair do círculo vicioso das queixas e abraçar um caminho de ação e impacto?

As queixas, por mais legítimas que sejam, não conduzem a uma transformação positiva, limitam-se a fado. Para que algo mude, é necessário um envolvimento ativo, uma participação consciente e um compromisso com o coletivo.

Associativismo: A força do coletivo

O associativismo, uma das expressões mais poderosas da cidadania ativa, é bastante reduzido em Portugal, de acordo com vários índices, nomeadamente o Índice de Capital Social da OCDE. As associações, sejam elas de natureza comunitária, profissional, cultural ou ambiental, desempenham um papel crucial na criação de redes de apoio, na defesa de direitos e na promoção de mudanças sociais. Mas, infelizmente, também aí assistimos a um reduzido envolvimento dos cidadãos.

Não podemos esperar que a transformação venha de cima para baixo. A história mostra-nos que as grandes mudanças sociais e políticas são frequentemente impulsionadas por movimentos de base, por pessoas comuns que se organizam em torno de uma causa comum. Precisamos, por isso, de resgatar o espírito associativo, de nos organizar, de nos mobilizar como cidadãos e como coletivos. Seja nas empresas, nas ONG’s, nas associações de bairro, ou até nas redes sociais, é fundamental que cada um de nós compreenda que a mudança só acontece quando a lideramos.

Este desafio implica que deixemos de ser meros espectadores para nos tornarmos protagonistas na construção do futuro que desejamos. O associativismo e o ativismo social são ferramentas essenciais para canalizar a insatisfação e transformá-la em resultados concretos. Sem eles, corremos o risco de perpetuar um ciclo de descontentamento que não conduz a lugar nenhum.

Senso de cidadania: Uma urgência nacional

Portugal precisa de um novo sentido de cidadania. Um sentido que ultrapasse as fronteiras do desabafo e que se manifeste em ações concretas. A cidadania ativa não se esgota no ato de votar de quatro em quatro anos, que mesmo assim é tão baixo, nem nas críticas que fazemos ao estado das coisas. Ela exige uma participação contínua, um envolvimento diário nas pequenas e grandes questões que afetam as nossas vidas.

A mudança começa em cada um de nós. Se queremos um Portugal mais justo, mais ativo, mais consciente, precisamos de cultivar um senso de cidadania que vá além das redes sociais e se manifeste nas ruas, nas reuniões de condomínio, nas assembleias de empresa, nas escolas, e em todas as esferas da vida pública. Quantos dos nossos filhos passaram um ano letivos sem professor a uma disciplina? Em alguns casos a Português ou a Matemática? É hora de trocar o comodismo pela ação, o desabafo pela solução.

Escolhe a tua causa e avança

Não temos de ir a todas. O ativismo e o associativismo não são uma corrida para ver quem consegue abraçar mais causas. O importante é escolhermos uma causa, um tema que ressoe connosco, e avançarmos com determinação. Seja o apoio ao desporto, a saúde mental, a defesa do ambiente, a promoção da educação, ou a luta contra a desigualdade social, encontra a tua tribo e une-te a ela.

Qual é o teu tema?  Onde podes fazer a diferença?

A mudança não acontece apenas nas grandes marchas ou nos discursos eloquentes; ela começa quando cada um de nós decide agir, aqui e agora, naquilo que mais nos move.

Não basta reclamar. É preciso agir. E a pergunta que nos devemos fazer é:

Quem está preparado/a para liderar essa mudança levante o braço.

* Partner Ideators.cc e Co-Founder Kindology Artigo publicado originalmente no site LíderMagazine.

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