Falar da possibilidade de circulação de “comboios de 750 metros” é falar de transporte de contentores, o que nos permite inferir que se perspetiva que Aveiro venha a possuir este tipo de tráfego, tendo o projeto inicial sido transformado num novo projeto, mais ambicioso, mas também mais oneroso do que o anterior.
Por PLATAFORMAcidades *
Veio recentemente a público que o Porto de Aveiro deverá iniciar em janeiro de 2023 a construção de um novo Terminal Intermodal, tendo já garantido financiamento comunitário para o efeito.
Este anúncio corresponde à concretização de uma das ações que a Estratégia para o Aumento da Competitividade da Rede de Portos Comerciais do Continente – Horizonte 2026 –, aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 175/2017, de 16 de novembro, previa para esta infraestrutura.
A novidade, e provavelmente causa para o atraso na concretização do investimento, é que o Terminal visa criar condições para que nele operem composições de 750 metros de comprimento. Ou seja, o projeto existente foi agora revisto para possibilitar tais operações, de forma a que o Porto de Aveiro possa comportar este tipo de comboios, que a Linha da Beira Alta passará a acolher e fazer circular na Europa.
Pensada para comboios de menor comprimento, a anterior configuração do Terminal, conjugada com as linhas do comboio existentes em todos os terminais portuários do Setor Norte (Gafanha da Nazaré), viabilizaria tráfegos de mercadorias “típicas” do Porto de Aveiro: aços, madeira, cimento, cereais…
Falar agora de possibilidade de circulação de “comboios de 750 metros” é falar de transporte de contentores, o que nos permite inferir que se perspetiva que Aveiro venha a possuir este tipo de tráfego, tendo o projeto inicial sido transformado num novo projeto,
mais ambicioso, mas também mais oneroso do que o anterior.
O novo Terminal Ferroviário é, assim, uma peça que só ganhará pleno sentido e rentabilidade num contexto da existência de condições para o funcionamento de linhas regulares desta forma específica de carga marítima.
O facto de se ter dado luz verde a este investimento pressupõe que, no entendimento da Administração do Porto de Aveiro (APA SA), estão asseguradas as condições para que dele resulte um efetivo valor acrescentado para o porto desta cidade.
Os pressupostos que terão estado na base dessa “viabilização” não são do conhecimento público. Consideramos, porém, que a partilha dessa informação é muito
importante para o exercício de uma cidadania mais crítica e qualificada e para a compreensão dos desafios/oportunidades com que a economia da região vai ser
confrontada.
Nesse sentido era sem dúvida muito útil que a APA esclarecesse alguns aspectos que nos parecem relevantes, designadamente:
– O estado de desenvolvimento dos estudos de melhoramento do acesso marítimo de forma a garantir que os navios de linha não são obrigados a tempos de espera para as manobras de entrada e largada, condição absolutamente necessária para que novos armadores incluam o porto nas suas rotas comerciais. Especificamente, se os constrangimentos que impedem o estabelecimento de linhas regulares de contentores ficam definitivamente ultrapassados;
– Se os estudos demonstram que das alterações no troço final da Ria não resultarão alterações no seu regime hidrodinâmico que coloquem em causa o Ecossistema Lagunar. Um investimento estratégico como o que está anunciado tem de ser bem fundamentado, preparado e projetado, a bem da região, do país e do planeta, como obviamente se impõe. A partilha pública dessa informação poderá contribuir para uma avaliação crítica e construtiva do projeto e mobilizar toda a região na sua defesa ou melhoria.
* Grupo de Reflexão Cívica (“O Porto de Aveiro e o Ecossistema Lagunar” é uma iniciativa da PLATAFORMAcidades que retoma a ‘Agenda Cidadã 2030’ e outros trabalhos e tomadas de posição pública centrados nessa infraestrutura e espaço essenciais à vida, sua sustentabilidade e melhoria). Blog em https://plataformacidades.blogspot.com/ Mais: [email protected]
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