Ficar limitado à continuidade de políticas anteriores será defraudar as expectativas do eleitorado. A mudança não pode ser tranquila, nunca o é.
Por Diana Gandarinho *
Reunimos nesta sessão solene para assinalar o feriado municipal de Ílhavo. Parabenizo os ilustres munícipes que hoje recebem distinções honoríficas. Este é um ato de reconhecimento público pela vossa excelência, pelos contributos que acrescentaram às vossas áreas de atuação, e pela elevação que proporcionaram ao concelho. Que a paixão, dedicação e árduo percurso na conquista dessa excelência seja fonte de inspiração para todos.
Sinto que é meu dever honrar também todos os munícipes, que todos os dias travam as suas lutas, por uma vida melhor e pela prosperidade da nossa comunidade. Desejo que o tão merecido descanso de hoje reponha força e alegria para um novo amanhã.
Cabe-me a tarefa de olhar para Ílhavo através do pensamento crítico. Muito poderia ser dito sobre estas terras repletas de história milenar. Sobre os antepassados que abriram caminho à vida como hoje a conhecemos. Mas trago o meu foco ao momento presente, pois é aqui e agora que criamos o futuro.
Nas últimas eleições autárquicas, os munícipes de Ílhavo fizeram um julgamento nas urnas. Era hora de mudar as políticas do município, na esperança de uma vida melhor. Acreditaram na bandeira da atual maioria, que afirmava ser um “tempo decisivo (…) de dizer não ao passado que se faz presente e hipoteca o futuro de todos”. E uma das candidaturas alternativas à maioria de então, assumiu a cadeira da responsabilidade.
Com a tomada de posse desta nova configuração política, veio o Plano e Orçamento para 2022. E, contrariamente aos anseios de “mudança e progresso” da maioria, que inclui naturalmente os eleitores do Partido Socialista, o executivo apresentou-o semelhante ao das políticas anteriores. Uma lógica de mera continuidade do trabalho.
Acreditando na importância da mudança e do diálogo construtivo, o Partido Socialista teceu as devidas críticas, no papel de oposição responsável. Compreendemos a necessidade de um período de adaptação.
Aceitámos o desconhecimento sobre a saúde da tesouraria. Mas nunca desistimos da necessidade de mudança, e da ambição necessária para a sua concretização. Seis meses depois do início de funções e concluído o ciclo de balanço do exercício da maioria anterior, a nova maioria tem agora todas as condições para realizar o potencial que se presume que tenha.
Ficar limitado à continuidade de políticas anteriores será defraudar as expectativas do eleitorado. A mudança não pode ser tranquila, nunca o é. Quando trabalhamos para um futuro diferente, a disrupção acontece no agora. Exige caos. Exige fazer novo. Pois só assim o resultado será diferente. Mudar ‘rostos’ não é suficiente para a fazer acontecer. Obra de último ano de mandato tem o julgamento que se viu. Se queremos trabalhar pela melhor qualidade de vida e bem-estar dos Ilhavenses é preciso agir já. A mudança é agora.
A pandemia trouxe de volta uma ameaça histórica como há muito não se via. Um problema de outro século, que nos parecia esquecido lá longe. Evidenciou desigualdades sociais, frequentemente escondidas e esquecidas na prosperidade das massas.
Os mais necessitados, passaram a ter ainda mais dificuldade na luta diária pela sobrevivência. Os que tinham um pouco de margem, viram a situação ficar cada vez mais dura. Quando, finalmente, começámos a ver sinais de saída da pandemia, a restabelecer a nossa vida e esperança, estoura uma guerra com fortes implicações no mundo. E agora, entre o medo da escalada do conflito para uma guerra com contornos do passado, e a bola de neve do impacto económico, a vida vai ficando mais difícil para todos. Os problemas tornam-se bem evidentes.
Apoiar a economia local nesta fase é vital. Precisamos garantir que as nossas famílias e os nossos pequenos comerciantes não vejam cair pelo ralo os esforços de uma vida. Que os nossos empreendedores não fiquem desamparados. Que os nossos empregadores não tenham de sacrificar postos e condições de trabalho. Alargar a ação social é absolutamente necessário. Temos uma obrigação moral perante os nossos semelhantes que vêm comprometidas as suas necessidades básicas. Temos de garantir que todas as nossas crianças possam desenvolver-se saudavelmente e com igualdade de oportunidades.
Compete à política local agir conforme o conhecimento aprofundado das realidades do concelho. Uma ação precisa para aliviar sofrimentos imediatos. Mas também integrada para que as pessoas tenham oportunidade e autonomia na construção de melhores condições de vida. Abril traz uma ‘lufada de ar fresco’ com o encerramento do processo de avaliação do estado da Câmara Municipal e o Relatório e Contas de 2021. E cria à atual maioria a oportunidade para o efeito.
Mas não fiquemos por este nível de análise. A política tem a responsabilidade de se ocupar com mais do que é imediato. E como o atual executivo ambicionou em outros momentos, é fundamental agir no presente, enquanto continuamos a planear a médio e longo prazo.
Os desafios globais recentes provaram que, além da satisfação de necessidades básicas, existem mais fatores envolvidos na qualidade de vida e bem-estar das pessoas. A angústia de estar longe dos que amamos e que nos amam, demonstrou a nossa necessidade social. A angústia do cenário de guerra, demonstrou a nossa necessidade de segurança. Somos seres complexos, com necessidades de diferentes ordens. E à medida que vamos satisfazendo as mais básicas – como as fisiológicas e de segurança – outras se colocam – como a estima e a autorrealização – para uma vida que floresce.
A acrescentar à complexidade individual, a nossa organização como sociedade apresenta os próprios problemas no seu desenvolvimento. As diferenças de género e os problemas ambientais são um excelente exemplo. E ao contrário do que pode parecer à primeira vista, a mudança em assuntos globais começa, na verdade, localmente.
Se queremos um município em progresso é fundamental olhar todos estes níveis, entender o que nos distingue e o que nos aproxima, aceitar a responsabilidade pela mudança. E agir agora, com criatividade e audácia, por um amanhã que se quer promissor.
A oposição pode refletir os anseios dos munícipes que representa. A composição e correlação de forças na Assembleia Municipal, responsabilizar quem fiscaliza, mas também quem governa. O Partido Socialista também acredita que nada se constrói sozinho. E para construir políticas de todos e para todos, o trabalho conjunto é imprescindível.
O município de Ílhavo, as suas 4 freguesias, as suas cerca de 40 mil pessoas, podem SIM ter mudança por um futuro melhor. O Partido Socialista sabe que isto é possível. Mas também sabe que a mudança não acontece se a ação continuar limitada pela inércia. Sejamos ambiciosos, destemidos, lutadores, tal como a história dos nossos antepassados conta. Capazes de imaginar e criar o extraordinário, pelo presente e futuro de Ílhavo.”
* Deputada municipal do PS. Discurso lido na sessão solene do Dia do Município de Ílhavo.
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