Participação dos jovens na política

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Assembleia da República.

O Núcleo de Estudantes Socialistas da Universidade realizou no passado mês, na sua rúbrica “Refletindo com” uma reflexão sobre a importância da participação dos jovens na política. A convidada da presente rúbrica foi a deputada pelo partido socialista na Assembleia da República e líder da Juventude Socialista do distrito de Aveiro Joana Sá Pereira.

Por Leonardo Costa *

Entre as principais questões e temas debatidos destacam-se as seguintes perguntas e reflexões:

Porquê que que a participação dos jovens é importante?

É importante por várias razões. Em primeiro lugar porque não há vazios de representação, ou seja, se não formos nós a disponibilizarmos as nossas capacidades e o nosso tempo em prol desta causa cívica alguém fará por nós. E, portanto, desse ponto de vista, não havendo vazios de poder é importante que todos nós tenhamos a noção de que é importante exercermos esta cidadania ativa porque outros o farão por nós, ou então ninguém o fará e aí entraremos num regime que não é bom lembrar. É importante os jovens estarem na linha da frente da disponibilidade desta missão cívica. Essa representação não pode ser uma representação passiva, ou seja, para os jovens se envolverem na política, e política entendamos no sentido lato, não é só política partidária, tem que haver também uma perspetiva e uma noção que os jovens não podem só ser agentes passivos que absorvem a informação e que podem eventualmente acrescentar alguma coisa. Eles têm mesmo de ser corresponsabilizados. Esta palavra é fundamental. Eles têm de ter o poder de decidir.

Não é só o poder de dar sugestões, de darem orientações, de identificar problemas. Têm de ter o poder de decidir. Os jovens não estão só cá para dar ideias e para chamar a atenção para problemas. Estão cá para decidir e para resolvê-los também. Eu acho que esse aspeto é fundamental porque se não perdemos uma geração e esta é a mensagem principal que eu também vos queria deixar. Nós não podemos perder uma geração para ideias que são fantasias e ilusões, que muitos agora procuram vender num tempo cinzento, que procuram vender. E, por isso, é que nós, desde cedo, temos de cultivar os jovens há participação cívica para que, de facto, sejam eles a construir a sua comunidade e não sejam outros, por eles, a construí-la. Eles terem, de facto, este poder de desencadear, agir de se responsabilizar. De assumir os erros.

Quais são os principais desafios que os jovens enfrentam?

Vamos ter eleições para o ano e, de facto, nós temos de ter um programa que responda às preocupações dos mais jovens e todos nós, enfim, concluíamos o mesmo que é aquelas questões tradicionais. O chapéu da emancipação tem que estar presente, não como uma causa ultrapassada, não está, mas como uma causa que tem de obrigar todos os partidos políticos a dar respostas muito simples. A habitação é um problema estruturam no nosso país. Só nos últimos anos é que percebemos o boom de especulação imobiliária que, que estava a arrebentar no nosso país e como isso estava a empurrar os nossos amigos e os nosso colegas para uma situação de permanência na casa dos nossos pais.

Acordámos tarde. Estamos a tentar resolver um problema estrutural. Um défice crónico de décadas em pouco tempo o que não é possível. Ainda por cima com uma crise pandémica pelo meio. E, portanto, temos de arranjar reposta que no imediato permitam que os jovens, de facto, possam ter futuro e possam ter sonhos. Outro problema que nós temos sentido nos mais jovens é o problema do défice das qualificações.

É obvio que o nosso país deu um passo gigante, sobretudo quando comparamos com a realidade no tempo dos nossos pais e então do nossos avós nem se fala. Mas, eu acho que nos deve assustar para um país desenvolvido, para um país que procura hoje ser um farol na Europa na investigação, na ciência, na tecnologia eu acho que nos deve preocupar, mesmo, que mais de 50% dos nossos jovens, dos companheiros da nossa turma do ensino secundário, se quisermos simplificar, entenda que não acrescenta nada a qualificação superior. Ou seja, a realidade dos números demonstra que, hoje, mais de metade dos jovens optam por não prosseguir a formação superior e ficarem apenas pelo ensino obrigatório. E eu acho que isto é um número preocupante para um país que, que quer formar quadros. Que quer ter perspetivas de futuro em todos os níveis de desenvolvimento do nosso país de investigação e desenvolvimento e, portanto, há muito caminho a fazer para dar futuro aos nossos jovens.

Que tipo de mecanismos podem existir para fomentar a maior participação?

Há um conjunto de mecanismos que nós temos desenvolvido no nosso país e que são bons exemplos de como os jovens quando têm o poder decidir e agir tomam, de facto, boas decisões. Os orçamentos participativos, por exemplo, são um bom exemplo, ainda que o modelo tenha que ser mais aprofundado. Há um programa interessantíssimo no nosso distrito que é o jovem autarca, onde, no fundo, damos o poder de decisão autárquica na área da juventude a um jovem que é eleito pelos seus pares e que tem a função de fazer campanha, de apresentar as suas ideias, e depois tem que as executar. Portanto, esta função de corresponsabilizar os jovens. Os jovens não estão só cá para dar ideias e para chamar a atenção para problemas.

Estão cá para decidir e para resolvê-los também. Os núcleo de estudantes socialistas, quer do ensino superior, como é o caso do vosso, quer também no ensino secundário têm um papel essencial que é levar a política para as escolas, embora as escolas tenham uma função essencial no processo formativo dos nossos alunos e dos nossos estudantes que é despertá-los de facto, para a necessidade de haver uma participação cívica. Mas eu julgo que aí há ainda muito para fazer. Eu venho de um tempo, e mesmo, se calhar um pouco antes de mim em que havia alguma reticencia por parte das escolas de ter alguma política dentro de paredes.

Os partidos são fundamentais à democracia, mas como eu dizia à pouco a democracia vai muito para além dos partidos e hoje, por exemplo, nós assistimos e assistimos recentemente, a greve climática estudantil, por exemplo, é um bom exemplo de como um movimento inorgânico social é político, sem dúvida, ninguém de nós aqui questiona isso, mas de como um desígnio, neste caso a questão ambiental, juntou tantas crianças tantos jovens à volta de uma só causa em que diferentes pontos geográficos do nosso país e também do mundo todo.

A petição também é um deles. De como, uma realidade muito concreta pode ter uma responsabilidade central e as petições, hoje, com um número mínimo de assinaturas são discutidas na Assembleia da República e obrigam os partidos políticos a terem uma posição sobre essas petições. E, portanto, aí está uma ferramenta e um mecanismo, que responsabiliza as pessoas e responsabiliza também os partidos políticos sobre determinados temas.

Nós temos participado no programa parlamento jovem. Vamos às escolas e levamos até lá ao parlamento. E falamos, um pouco, também sobre a nossa atividade. E eu devo-vos dizer que em todas as plateias por onde tenho estado verifico que há depois perguntas que nos fazem, que são perguntas que eu diria, muitas delas que nem um adulto faz. Muito amadurecidas. As crianças e os jovens têm mesmo noção de como as coisas funcionam. Têm muito respeito pelas nossas instituições democráticas e, portanto, se têm esse respeito nós também temos obrigação de lhes dar as ferramentas para que continuem a cimentar esse respeito pelas instituições que é fundamental.

– O papel dos partidos no envolvimento dos jovens?

Os partidos têm uma vertente interna de mais, diria de uma componente de mais organizacional interna de militância ativa bastante permanente. E depois têm uma dimensão externa que é a missão de dar às comunidades que representam, quer um partido político ao nível concelhio, quer um partido político ao nível distrital quer também nacional. Mas tem uma missão, sobretudo, cívica que é missão de se abrir à sociedade civil, de integrar todos aqueles que, não querendo ou não tendo disponibilidade para fazer esta participação regular, ainda assim confiam no Partido Socialista para dar respostas aos problemas das pessoas.

Portanto, nós temos, felizmente temos feito esse caminho, que se me permitem, de uma forma muito positiva. Temos integrado vários simpatizante, vários independentes, movimentos cívicos que vêm no Partido Socialistas a plataforma que mais representação, e que melhor representação pode dar às comunidades onde tem a obrigação de dar essa resposta e isso é um sinal claro de que o partido tem feito esse caminho.

Podem assistir à conversa na integra nas páginas de Facebook e Instagram do Núcleo de Estudantes Socialistas da Universidade de Aveiro.

* Coordenador do Núcleo de Estudantes Socialistas.

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