Parque de estacionamento no Rossio ? Porque não ?

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Sou a favor da circulação automóvel ordenada, mas nunca impeditiva, de mais e melhores soluções de estacionamento, com qualidade, segurança e estrategicamente centralizadas, de preferência, bem no centro urbano.

Paulo Marques *

Para combater a desertificação das zonas geográficas do interior, construíram-se vias rápidas, auto estradas, implementaram-se medidas promovedoras de mais investimento, maior atratividade económica, fixação de pessoas, bem como de empresas, numa tentativa de mudança de paradigma.

Apostou-se na reabilitação urbana e imobiliária, na implementação de medidas pró ativas relacionadas com o planeamento familiar, incentivos fiscais para cidadãos e empresas, procurando dinamizar, desse modo, a economia local, a sua história, cultura e tradições.

Tenho a absoluta certeza de que, nesse contexto, retirar ou reduzir o impacto do automóvel nos centros urbanos, nunca foi a opção desejada.

Efetivamente, tal medida inviabilizaria todos os esforços destinados ao desejável desenvolvimento das terras do interior, contrariando a lógica dos investimentos públicos assumidos ao longo dos anos.

Apesar de situada junto ao litoral, isto é, geograficamente privilegiada, Aveiro, desde sempre, assumiu papel importante na busca de maior desenvolvimento económico, promoção e criação de condições de maior sedução empresarial, turística ou simplesmente promovedora de fixação de cidadãos de outras regiões do país.

Sempre desejámos ser servidos por uma rede de estradas moderna, com qualidade, que respondesse às exigências e necessidades da região, que permitisse redimensionar a importância de Aveiro no contexto dos grandes acontecimentos, enfim, no mapa económico estratégico nacional e internacional.

Durante anos ansiámos uma via de ligação direta a Espanha, surgindo a antiga IP5, atual A25.

Nunca renegámos a A29 nem a A17, nunca menosprezámos a velhinha mas não menos importante A1. Há muito que reivindicamos o fim das portagens que ligam o centro urbano ao nó do estádio, bem como as existentes entre o nó de Angeja e os limites de Ílhavo.

Todos os dias lamentamos e criticamos a localização do estádio municipal de Aveiro, por que está longe do centro, não atrai gente à cidade, não favorece o comércio, hotelaria nem a restauração. Quantas vezes grandes jogos acontecem e os adeptos nem a cidade visitam?

Perante esta realidade, será lógico ou aceitável afastar o automóvel do centro urbano?

Por exemplo, cidades portuguesas, como Braga, Covilhã e Viana do Castelo, optaram por construir soluções de estacionamento subterrâneas nos centros históricos, onde a vida acontece, numa lógica de proximidade e não de afastamento, dotando, ao mesmo tempo, a cidade de soluções viárias de qualidade.

Três excelentes exemplos de coexistência pacífica, pedonal e viária, em que o automóvel não representa verdadeiro ameaça ou perigo, cabendo esse papel a quem, muitas vezes, pela falta de civismo e ou de bom senso, desrespeita as mais básicas regras de trânsito, sejam ciclistas, automobilistas ou peões.

Se perguntarem aos residentes, aos investidores, aos proprietários do comércio local, se os parques de estacionamento foram uma má opção, a resposta é clara e inequívoca. Apesar condicionamentos e constrangimentos originados pelo tempo de construção, foram excelentes decisões.

Claramente, sou a favor da circulação automóvel ordenada, mas nunca impeditiva, de mais e melhores soluções de estacionamento, com qualidade, segurança e estrategicamente centralizadas, de preferência, bem no centro urbano, no coração da cidade, perto do comércio tradicional, da restauração, dos hotéis, dos museus, dos espaços culturais, enfim, onde a vida das cidades acontece, beneficiando quem reside, quem trabalha, quem visita, quem quer investir. Apostar no contrário é matar a cidade.

Por alguma razão as grandes superfícies apostam no estacionamento dedicado com qualidade e segurança, fundamental para que o sucesso comercial aconteça naturalmente.

Se temos bons exemplos práticos de que parques subterrâneos resultam em mais-valia económica e estratégica, maior segurança para os automobilistas e cidadãos, porque não um parque de estacionamento no Rossio?
Ou será preferível, com medo de represálias, continuar a pagar aos arrumadores?

Triste realidade, apesar de todos os esforços em sentido oposto para contrariar a tendência, todos sabemos, embora algumas pessoas não queiram admitir, que falar da praça Marques de Pombal não é nem nunca foi falar de um espaço central de Aveiro.

Por essa razão, falar do parque de estacionamento da Praça Marques de Pombal, não é falar de alternativa de estacionamento, não porque não tenha qualidade, mas apenas porque não está no verdadeiro coração da cidade.

Esse chama-se… Rossio e a zona da Beira Mar, muito mais até do que a própria Avenida Dr. Lourenço Peixinho, outro exemplo de reabilitação urgente a todos os níveis.

Se o parque da Praça Marques de Pombal fosse alternativa, a Rua Dr. Nascimento Leitão não estaria, como sempre está, cheia de carros, a Rua Príncipe Perfeito teria lugares disponíveis, o terreno junto ao antigo Governo Civil estaria vazio.

A Rua Homem Cristo Filho não estaria repleta de automóveis, o Forum não atingiria a sua capacidade máxima, mesmo ao fim de semana, nem o estacionamento ao longo do Canal de São Roque seria o que todos sabemos, tendo este atingido todos os limites há muito tempo.

Questiono se o estacionamento do Forum ou o existente nas traseiras do Centro comercial Oita, bem como o existente ao longo do Canal de São Roque fossem encerrados, os mesmos automobilistas iriam estacionar na Praça Marques de Pombal? Sejamos sérios e realistas, claro que não.

Em boa verdade, todos somos, em certa medida e em certos momentos das nossas vidas, comodistas, desejamos ter o carro próximo da loja ou do mercado, da farmácia ou da clínica, da igreja ou do espaço cultural. Todos os dias vemos carros nas pontes e rotundas, em segunda fila, traços amarelos, locais de carga e descarga.

Qual o automobilista que nunca prevaricou? “É só um bocadinho”, “É muito rápido”, “São só 5 minutos”, são expressões que ouvimos diariamente, fazem parte do quotidiano das pessoas, nunca esquecendo a estratégia de ligar os 4 piscas. Diria até que são comportamentos e atitudes intrínsecas ao ser humano, às exigências diárias de cada um, ao ritmo de vida.

Relativamente a todos aqueles que criticam a construção do Parque no Rossio, quantos já estacionaram no parque da Praça de Marques de Pombal?
A julgar pela taxa de ocupação do mesmo…

Quanto à superfície, sou a favor de quanto mais verde melhor, se possível com espaços dedicados ao lazer ao entretenimento, às vontades e necessidades de todos e não só de alguns.

Uma conjugação difícil, mas não impossível, se não olharmos apenas para o nosso umbigo.

Perante todas estas razões…  Parque de estacionamento no Rossio ? Porque não ?

* Gerente comercial, membro da CPC do CDS de Aveiro.